Kitabı oku: «Transformada », sayfa 4
Capítulo Seis
O Carnegie Hall estava totalmente lotado. Jonah mostrou o caminho enquanto eles lutavam para atravessar a multidão, na direção de Will Call. Não era fácil chegar lá. Aquela era uma multidão rica e exigente, e todos pareciam estar correndo para chegar ao concerto. Ela nunca havia visto tantas pessoas tão bem vestidas em um só lugar. A maioria dos homens estava de smoking, e as mulheres usavam longos vestidos de noite. Joias brilhavam em todo o lugar. Era excitante.
Jonah pegou os ingressos e ambos subiram as escadas. Ele os entregou ao porteiro, que os rasgou e devolveu os recibos.
“Posso ficar com um?” Caitlin perguntou, quando Jonah colocava os dois recibos em seu bolso.
“Claro,” ele disse, dando um a ela.
Ela passou o dedão pelo recibo.
“Eu gosto de guardar coisas como essa,” ela adicionou, ruborizada. Sentimental, eu acho.”
Jonah sorriu enquanto ela colocava o recibo em seu bolso da frente.
Eles foram dirigidos pelo porteiro até um salão luxuoso com carpetes grossos e vermelhos. Fotos emolduradas de artistas e cantores cobriam as paredes.
“Então, como você ganhou os ingressos?” Caitlin perguntou.
“Meu professor de viola,” ele respondeu. “Ele tem ingressos para toda a temporada. Ele não poderia vir hoje, então me deu os ingressos. Eu espero que o fato de eu não ter pago por eles não desvalorize a ocasião,” ele adicionou.
Ela olhou para ele, confusa.
“Nosso encontro,” ele respondeu.
“É claro que não,” ela disse. “Você me trouxe aqui. É só isso que importa. Isto é incrível.”
Caitlin e Jonah foram dirigidos por outro porteiro até uma pequena porta, que dava diretamente para o salão de concertos. Eles estavam no alto, talvez 15 metros, e em sua pequena área existiam apenas 10 ou 15 lugares. Seus lugares estavam na ponta do balcão, rente à grade.
Jonah abriu o assento grosso e macio para ela, e ela olhou para o grande público e todos os artistas. Era o lugar mais chique em que ela já havia estado. Ela olhou para aquele mar de cabelos grisalhos e se sentiu jovem demais para estar ali. Mas feliz de qualquer jeito.
Jonah sentou, seus cotovelos se tocaram e ela sentiu um arrepio ao sentir o calor do corpo dele ao lado dela. Enquanto os dois se acomodavam e aguardavam, ela queria pegar a mão dele e segurá-la. Mas ela não queria correr o risco de parecer ousada demais. Então, ela ficou sentada lá, esperando que ele pegasse a mão dela. Ele não tentou nada. Era cedo. E talvez ele fosse tímido.
Em vez disso, ele apontou, se inclinando sobre a grade.
“Os melhores violinistas estão próximos da área dos instrumentos no palco,” ele disse, apontando. “Aquela mulher ali é uma das melhores do mundo.”
“Você já tocou aqui?”, ela perguntou.
Jonah riu. “Quem dera,” ele disse. “Esta sala fica a apenas 50 quadras de distância de nós, mas poderia ficar em outro planeta quando se trata de talento. Talvez um dia,” ele adicionou.
Ela olhou para o palco, para as centenas de músicos afinando seus instrumentos. Todos estavam em trajes de gala, e todos pareciam muito sérios, focados. Próximo ao fundo do palco estava um enorme coro.
De repente, um homem jovem, talvez 20 anos, com cabelos longos e sedosos, vestindo um smoking, desfilou orgulhoso pelo palco. Ele passou pela fila de músicos, se dirigindo ao centro. Enquanto o fazia, o público inteiro se levantou e aplaudiu.
“Quem é ele?” Caitlin perguntou.
Ele chegou ao centro e se curvou repetidamente, sorrindo. Mesmo de cima, Caitlin podia ver que ele era incrivelmente atraente.
“Sergei Rakov,” Jonah respondeu. “Ele é um dos melhores vocalistas do mundo.”
“Mas ele parece tão jovem.”
“Não se trata de idade, mas sim de talento,” Jonah respondeu. “Existe talento e existe talento. Para ter este tipo de talento, você precisa nascer com ele—e você realmente precisa praticar. Não por quatro horas por dia, mas por oito horas por dia. Todos os dias. Eu faria isso se pudesse, mas meu pai não deixa.”
“Por que não?”
“Ele não quer que a viola seja a única coisa na minha vida.”
Ela podia ouvir a decepção na voz dele.
Finalmente, o aplauso começou a diminuir.
“Eles irão tocar a Nona Sinfonia de Beethoven esta noite,” Jonah disse. “É provavelmente a sua peça mais famosa. Você já a ouviu antes?”
Caitlin balançou a cabeça, se sentindo burra. Ela havia tido uma aula de música clássica na nona série, mas ela mal havia ouvido uma palavra que a professora havia dito. Ela não entendia muito aquilo tudo, e eles tinham acabado de se mudar, e o seu pensamento estava em outro lugar. Agora, ela desejava ter ouvido.
“Ela exige uma orquestra enorme,” ele disse, “e um coro enorme. Ela provavelmente exige mais músicos no palco do que qualquer outra peça de música. É emocionante assistir. É por isso que este lugar está tão cheio.”
Ela examinou a sala. Haviam milhares de pessoas ali. E nenhum lugar vazio sequer.
“Esta sinfonia foi a última de Beethoven. Ele estava morrendo, e sabia disso. Ele colocou aquilo na música. É o som da morte chegando.” Ele se virou para ela e sorriu. “Me desculpe por ser tão mórbido.”
“Não, não tem problema,” ela disse, e estava sendo sincera. Ela adorava ouvi-lo falar. Ela adorava o som da voz dele. Ela adorava as coisas que ele sabia. Todos os amigos dela conversavam sobre os assuntos mais frívolos, e ela queria mais. Ela sentiu que tinha sorte de estar com ele.
Havia tanto que ela queria dizer a Jonah, tantas perguntas que ela queria fazer—mas as luzes diminuíram de repente e um silêncio se apoderou do público. Aquilo teria que esperar. Ela se inclinou para trás e relaxou.
Ela olhou para baixo e, para a sua surpresa, ali estava a mão de Jonah. Ele a havia colocado no encosto entre os dois, com a palma para cima, convidando a dela. Ela estendeu a mão lentamente, para não parecer muito desesperada, e colocou a mão na dele. A sua mão era macia e quente. Ela sentiu sua mão fundir com a dele.
Quando a orquestra começou e as primeiras notas soaram—notas suaves, calmantes e melodiosas—ela sentiu uma onda de emoção dentro dela, e percebeu que nunca havia sido tão feliz. Ela esqueceu todos os eventos do dia anterior. Se este era o som da morte, ela queria ouvir mais.
*
Enquanto Caitlin sentava lá, se perdendo na música, se perguntando por que ela nunca a havia ouvido antes, se perguntando por quanto tempo ela conseguiria fazer o seu encontro com Jonah durar, aconteceu de novo. A dor começou de repente. Ela a atingiu no estômago, como havia acontecido na rua, e ela precisou de toda a sua força para não cair de joelhos na frente de Jonah. Ela apertava os dentes em silêncio, e lutava para respirar. Ela podia sentir o suor em sua testa.
Outra pontada.
Desta vez, ela gemeu de dor, só um pouco, o suficiente para mal ser ouvida com a música, que estava chegando a um crescendo. Jonah deve ter ouvido, porque se virou e olhou para ela, preocupado. Ele colocou gentilmente uma mão em seu ombro.
“Você está bem?” ele perguntou.
Ela não estava. A dor estava tomando conta dela. E havia algo mais: fome. Ela se sentiu totalmente faminta. Ela nunca havia sido tão dominada por uma sensação em sua vida.
Ela olhou para Jonah, e seus olhos caíram diretamente em seu pescoço. Ela se fixou na pulsação de sua veia, a observou enquanto ela passou de seu ouvido até a sua garganta. Ela a assistiu palpitar. Ela contou as batidas.
“Caitlin?” ele perguntou novamente.
O desejo era esmagador. Ela sabia que, se ficasse sentada lá por um segundo mais, ela não conseguiria se controlar. Se não se reprimisse, ela certamente afundaria seus dentes no pescoço de Jonah.
Com sua última gota de força, Caitlin pulou de sua cadeira, passando por Jonah com um único salto, e correndo na direção das escadas, da porta.
Naquele mesmo momento, as luzes da sala aumentaram totalmente, enquanto a orquestra tocava a última nota. Intervalo. O público inteiro se levantou, aplaudindo ruidosamente.
Caitlin chegou até a porta de saída alguns segundos antes que a multidão pudesse sair de seus assentos.
“Caitlin!?” Jonah gritou de algum lugar atrás dela. Ele provavelmente estava levantando de seu assento e a seguindo.
Ela não podia deixá-lo vê-la daquele jeito. E o mais importante, ela não podia permitir que ele ficasse perto dela. Ela se sentia como um animal. Ela trilhou os corredores vazios do Carnegie Hall, caminhando cada vez mais rápido, até que alcançou uma velocidade de corrida.
Sem perceber, ela estava correndo a uma velocidade impossível, voando através do corredor acarpetado. Ela era um animal à caça. Ela precisava de comida. Ela sabia o suficiente para entender que precisava ir para longe das multidões. Rápido.
Ela encontrou uma porta de saída e a empurrou com o ombro. A porta estava trancada, mas ela a empurrou com tanta força que a arrancou das dobradiças.
Ela se viu em uma escadaria privada. Ela desceu correndo pelos degraus, três por vez, até chegar em outra porta. Ela também empurrou esta com o ombro, e se viu em um novo corredor.
Este corredor era ainda mais exclusivo, e mais vazio dos que os outros. Até mesmo em seu delírio, ela podia perceber que havia chegado em algum tipo de área dos bastidores. Ela caminhou pelo corredor, curvando-se de dor devido à fome, e sabia que não aguentaria mais um segundo.
Ela levantou a palma e empurrou a primeira porta que encontrou, abrindo-a com um único empurrão. Era um camarim particular.
Sentado em frente a um espelho, admirando a si mesmo, estava Sergei. O cantor. Este deveria ser o camarim dele. De alguma forma, ela havia chegado ali.
Ele levantou, irritado.
“Sinto muito, mas nada de autógrafos agora,” ele retrucou. “Os guardas deveriam ter dito isso à você. Este é o meu momento particular. Agora, se você me der licença, eu preciso me preparar.”
Com um rugido gutural, Caitlin pulou na direção da garganta dele, afundando seus dentes profundamente.
Ele gritou. Mas já era tarde demais.
Seus dentes penetraram profundamente as veias dele. Ela bebeu. Ela sentiu o sangue dele correndo por suas veias, sentiu seu desejo começar a ser satisfeito. Aquilo era exatamente o que ela precisava. E ela não poderia ter esperado mais um segundo sequer.
Sergei caiu, inconsciente, em sua cadeira. Caitlin se inclinou para trás, o rosto coberto de sangue, e sorriu. Ela havia descoberto um novo sabor. E nada a impediria de prová-lo novamente.
Capítulo Sete
A detetive do departamento de homicídios de Nova York, Grace O’Reilly, abriu as portas do Carnegie Hall e soube imediatamente que seria ruim. Ela havia visto a imprensa fora de controle antes, mas nada como aquilo. Haviam mais de 10 repórteres lá, e estavam estranhamente agressivos.
“Detetive!”
Eles a chamaram aos gritos quando ela entrou, a sala se encheu de flashes.
Quando Grace e seus detetives cruzaram o lobby, os repórteres mal se moveram. Aos 40 anos, musculosa e endurecida, com cabelos curtos pretos e olhos da mesma cor, Grace era durona, e estava acostumada em ter que disputar por seu espaço. Mas desta vez, não foi fácil. Os repórteres sabiam que aquela era uma grande história, e não iriam ceder. Isso tornaria a vida dela bem mais difícil.
Uma estrela jovem e internacional assassinada no auge de sua fama e poder. Bem no meio do Carnegie Hall e bem no meio de sua estreia americana. A imprensa já estava presente, pronta para cobrir a estreia. Sem o menor soluço, as notícias de sua apresentação já iriam estar nos jornais de todo o mundo. Se ele houvesse simplesmente tropeçado ou caído, ou torcido seu tornozelo, a história teria ido para a primeira página.
E agora isso. Assassinado. No meio da sua maldita apresentação. No mesmo salão onde ele havia cantado minutos antes. Era demais. A imprensa agarrou o caso pela garganta e não iria soltar.
Vários repórteres enfiaram microfones no rosto dela.
“Detetive Grant! Existem relatos de que Sergei foi morto por um animal selvagem. Isso é verdade?”
Ela os ignorou e passou por eles aos empurrões.
“Por que não havia uma segurança melhor dentro do Carnegie Hall, detetive?” outro repórter perguntou.
Outro repórter gritou, “Existem relatos de que um serial killer fez isso. Eles o estão chamando de ‘Açougueiro de Beethoven.’ Você tem algum comentário?”
Quando ela chegou ao fundo da sala, virou e os encarou.
A multidão ficou em silêncio.
“Açougueiro de Beethoven?” ela repetiu. “Eles não podem fazer melhor do que isso?”
Antes que eles pudessem fazer outra pergunta, ela saiu da sala abruptamente.
Grace subiu as escadas do Carnegie Hall, acompanhada por seus detectives, que continuavam passando informações a ela enquanto eles caminhavam. A verdade é que ela mal estava ouvindo. Ela estava cansada. Ela havia completado 40 anos na semana passada, e sabia que não deveria estar tão cansada. Mas as longas noites de março a haviam afetado, e ela precisava de descanso. Este era o terceiro assassinato neste mês, sem contar com os suicídios. Ela queria um clima quente, plantas e árvores, areia macia sob seus pés. Ela queria um lugar onde ninguém matasse ninguém, onde as pessoas nem sequer pensassem em suicídio. Ela queria uma vida diferente.
Ela olhou para o seu relógio quando entrou no corredor que levava aos bastidores. Uma hora da manhã. Sem precisar olhar, ela conseguia perceber que a cena do crime havia sido contaminada. Por que eles não a tinham chamado antes?
Ela deveria ter se casado, como a sua mãe mandou, aos 30 anos. Ela tinha alguém. Ele não era perfeito, mas teria sido suficiente. Mas ela tinha se prendido à sua carreira, como seu pai. Era o que ela pensou que seu pai queria. Agora, seu pai estava morto e ela nunca havia realmente descoberto o que ele queria. E ela estava cansada. E sozinha.
“Nenhuma testemunha,” resmungou um dos detetives caminhando ao lado dela. “A equipe forense diz que aconteceu entre 22h15 e 22h28. Não há muitos sinais de luta.”
Grace não gostou desta cena de crime. Já haviam pessoas demais envolvidas, e pessoas demais haviam estado ali antes dela. Cada movimento que ela fizesse estaria visível. E não importava o quão maravilhoso seria o trabalho investigativo que ela faria, o crédito acabaria sendo roubado por outra pessoa. Existiam departamentos demais envolvidos, o que significava política demais.
Ela finalmente passou pelo resto dos repórteres, e entrou na área isolada, reservada apenas para oficiais de elite. Enquanto ela se encaminhava para o próximo corredor, as coisas finalmente se acalmaram. Ela podia pensar novamente.
A porta do camarim dele estava levemente aberta. Ela esticou a mão, pegou uma luva de látex e abriu a porta devagar.
Ela havia visto de tudo em seus 20 anos como policial. Ela havia visto pessoas assassinadas de praticamente todas as formas possíveis, de formas que ela não poderia imaginar em seus piores pesadelos. Mas ela nunca havia visto nada como isto.
Não por ser particularmente sangrento. Não por que alguma terrível violência estivesse presente. Era outra coisa. Algo surreal. Era quieto demais. Tudo estava em seu lugar. Com exceção, claro, do corpo. Ele havia caído para trás em sua cadeira, o pescoço exposto. E lá, sob as luzes, existiam dois buracos perfeitos, exatamente em sua veia jugular.
Nenhum sangue. Nenhum sinal de luta. Nenhuma roupa rasgada. Nada fora do lugar. Era como se um morcego houvesse descido, sugado o sangue dele até o fim, e ido embora voando, sem tocar em nada mais. Era estranho. E totalmente apavorante. Se a pele dele não tivesse ficado completamente branca, ela poderia pensar que ele ainda estava vivo, apenas tirando uma soneca. Ela até ficou tentada a ir até ele e sentir seu pulso. Mas ela sabia que aquilo seria estupidez.
Sergei Rakov. Ele era jovem. E pelo o que ela havia ouvido, ele tinha sido um cretino arrogante. Ele já poderia ter feito inimigos?
O que diabos poderia ter feito isso? Ela se perguntou. Um animal? Uma pessoa? Um novo tipo de arma? Ou ele teria feito aquilo a si mesmo?
“O ângulo do ataque elimina o suicídio,” o detetive Ramos disse, parado ao lado dela com seu bloco de anotações e, como sempre, lendo a mente dela.
“Eu quero tudo o que você sabe dele,” ela disse. “Eu quero saber para quem ele devia dinheiro. Eu quero saber quem os seus inimigos eram—eu quero conhecer as suas namoradas, suas futuras esposas. Eu quero tudo. Ele pode ter provocado as pessoas erradas.”
“Sim, senhora” ele disse, e saiu rapidamente da sala.
Por que eles escolheriam esta hora exata para matá-lo? Por que durante o intervalo? Eles estariam mandando algum tipo de mensagem?
Ela caminhou lentamente pelo camarim totalmente acarpetado, circulando, olhando para ele de todos os ângulos possíveis. Ele tinha cabelos ondulados e pretos, e era incrivelmente atraente, até depois da morte. Que desperdício.
Naquele momento, um barulho repentino encheu o lugar. Todos os oficiais se viraram ao mesmo tempo. Eles olharam para cima e viram que a pequena TV no canto havia ligado. Ela exibia imagens da apresentação daquela noite. A Nona de Beethoven enchia o quarto.
Um dos detetives se aproximou da TV para desligá-la.
“Não,” ela disse.
O detetive parou no meio do caminho.
“Eu quero ouvir.”
Ela ficou parada ali, observando Sergei, enquanto sua voz enchia a sala. A voz que havia estado viva apenas algumas horas antes. Era estranho.
Grace circulou a sala mais uma vez. Desta vez, ela se ajoelhou.
“Nós já examinamos esta sala, detetive,” o agente do FBI disse, impaciente.
Ela enxergou algo pelo canto do olho. Ela esticou o braço, embaixo de uma das poltronas. Ela esticou o pescoço e torceu o braço, conseguindo alcançar algo bem no fundo.
Ela finalmente encontrou o que estava procurando. Ela se levantou, com o rosto vermelho, segurando um pequeno pedaço de papel.
Todos os outros detetives olharam na direção dela.
“Um recibo de ingresso,” ela disse, examinando-o com a mão que vestia a luva. “Mezanino direito, assento 3. Do concerto desta noite.”
Ela encarou todos os seus detetives, que a encaravam com o olhar perdido.
“Você acha que isso pertencia ao assassino?” um deles perguntou.
“Bem, de uma coisa eu sei,” ela disse, olhando para a estrela russa da ópera uma última vez. “Não pertencia a ele.”
*
Kyle caminhava pelos corredores com carpete vermelho, desfilando pela espessa multidão. Ele estava irritado, como sempre. Ele odiava multidões, e odiava o Carnegie Hall. Ele havia ido a um concerto aqui uma vez, na década de 1890, e as coisas não tinham ido bem. Ele não esquecia um ressentimento facilmente.
Quando ele caminhava pelo corredor, a gola alta de sua túnica negra cobrindo seu pescoço e emoldurando seu rosto, as pessoas abriam caminho. Oficiais, guardas de segurança, membros da imprensa – a multidão inteira se abriu.
Humanos são fáceis demais de controlar, ele pensou. Com a menor manipulação mental, eles começam a sair do caminho como ovelhas.
Um vampiro do Clã Blacktide, Kyle já havia visto de tudo em seus mais de 3 mil anos. Ele havia estado lá quando Cristo foi morto. Ele havia testemunhado a Revolução Francesa. Ele havia visto a varíola se espalhar pela Europa—e até havia ajudado a espalhá-la. Não havia mais nada que pudesse surpreendê-lo.
Mas esta noite o surpreendeu. E ele não gostava de ser surpreendido.
Normalmente, ele deixaria a sua presença imponente falar por si mesma, e atravessar a multidão aos empurrões. Apesar de sua idade, ele parecia jovem e atraente, e as pessoas geralmente o deixavam passar. Mas ele não estava com paciência para isso esta noite, especialmente devido às circunstâncias. Ele tinha perguntas prementes a serem respondidas.
Que tipo de vampiro solitário seria tão audacioso para matar um humano abertamente? Quem escolheria fazê-lo de forma tão pública, deixando como única possibilidade que o corpo fosse encontrado? Aquilo ia contra todas as regras de sua raça. Estando do lado bom ou mal daquela corrida, essa era uma linha que não podia ser cruzada. Ninguém queria aquele tipo de atenção na corrida. Era uma quebra do seu credo que garantia uma única punição: a morte. Uma longa e tortuosa morte.
Quem seria tão atrevido para tentar algo assim? Para chamar tanta atenção indesejada da imprensa, dos políticos, da polícia? E o que era pior, fazer isso no território do clã dele? Aquilo denegria a imagem do seu clã—pior do que denegrir. Aquilo fazia o seu clã parecer indefeso. A raça de vampiros inteira iria se reunir e os responsabilizar. E se ele não encontrasse esse vampiro solitário, aquilo poderia significar uma guerra. Guerra em uma época em que eles não podiam ter uma, exatamente no momento em que eles estavam prestes a executar seu plano grandioso.
Kyle passou por uma detetive de polícia, e ela esbarrou nele com força. Para piorar, ela virou e o encarou. Ele estava surpreso. Nenhum outro humano nesta multidão tinha a força de vontade para sequer notá-lo. Ela deve ser mais forte do que os outros. Era isso, ou ele estava ficando descuidado.
Ele dobrou a força de sua mente, dirigindo-a diretamente para ela. Ela finalmente balançou a cabeça, virou-se e continuou caminhando. Ele teria que lembrar dela. Ele olhou para baixo e viu o seu crachá. Detetive Grace Grant. Ela pode acabar se tornando um problema.
Kyle continuou caminhando, passando por mais repórteres, passando pela fita de isolamento e, finalmente, passando por um novo rebanho de agentes do FBI. Ele foi até a porta aberta e olhou para dentro. A sala estava cheia com vários outros agentes do FBI. Havia um homem em um terno caro. Olhando para os seus olhos inquietos e ambiciosos, Kyle deduziu que ele era um político.
“A Embaixada russa não está feliz,” ele resmungou para o agente do FBI responsável. “Você compreende que isto não é um assunto apenas para a polícia de Nova York, ou apenas para o governo americano. Sergei era uma estrela entre os nossos vocalistas nacionais. O assassinato dele deve ser interpretado como uma ofensa ao nosso país –”
Kyle levantou sua palma e, usando sua força de vontade, fechou a boca do político. Ele odiava ouvir políticos falando, e ele já havia ouvido o bastante deste aqui. Ele também odiava russos. Ele odiava a maioria das coisas, na verdade. Mas esta noite, o seu ódio alcançou um novo nível. Sua impaciência estava levando a melhor.
Ninguém na sala parecia perceber que Kyle havia fechado a boca do político, nem mesmo o próprio político. Ou talvez eles estivessem gratos. De qualquer forma, Kyle deu um passo para o lado e usou seu poder mental para sugerir que todos saíssem da sala.
“Eu acho que nós todos podíamos fazer uma pausa por cinco minutos,” o agente do FBI responsável disse de repente. “Esfriar um pouco as nossas cabeças.”
O grupo assentiu com a cabeça e saiu rapidamente da sala como se aquilo fosse a coisa mais natural a fazer. Como um último passo, Kyle os fez fechar a porta. Ele odiava o som de vozes humanas e especialmente não queria ouvi-las agora.
Kyle respirou profundamente. Finalmente sozinho, ele pôde deixar seus pensamentos focarem totalmente neste humano. Ele chegou perto e puxou a gola de Sergei, revelando as marcas de mordida. Kyle colocou dois dedos pálidos e frios nelas. Ele os levantou e notou a distância entre as marcas.
Um tamanho de mordida menor do que ele esperava. É uma mulher. A vampira solitária é fêmea. E jovem. Os dentes não eram muito profundos.
Ele colocou seus dedos em cima da mordida novamente e fechou seus olhos. Ele tentou sentir a natureza do sangue, a natureza do vampiro que havia dado aquela mordida. Finalmente, ele arregalou seus olhos, em choque. Retirou seus dedos da mordida rapidamente. Ele não gostou do que sentiu. Ele não conseguia reconhecer aquilo. Com certeza, era uma vampira solitária. Não fazia parte do clã dele ou de qualquer clã que ele conhecia. E o mais preocupante, ele não conseguia detectar a que raça de vampiros ela pertencia. Em seus 3 mil anos, isto nunca havia acontecido com ele.
Ele levantou seus dedos e os provou. O cheiro dela o dominou. Normalmente, aquilo era suficiente—ele sabia exatamente onde encontrá-la. No entanto, ele estava perdido. Algo estava obstruindo a sua visão.
Ele franziu o rosto. Eles não teriam escolha nesse caso. Eles teriam que confiar na polícia humana para encontrá-la. Os seus superiores não ficariam satisfeitos.
Kyle estava ainda mais irritado do que antes, se é que isto fosse possível. Ele olhou para Sergei e se perguntou o que fazer com ele. Dentro de algumas horas, ele acordaria, mais um vampiro sem clã solto por aí. Ele poderia matá-lo agora mesmo, para sempre, e acabar com aquilo. Ele gostaria muito disso. A raça dos vampiros certamente não precisava de uma nova adição.
Mas isso seria dar um grande presente à Sergei. Ele não teria que sofrer com a imortalidade, sofrer com milhares de anos de sobrevivência e desespero. Com noites sem fim. Não, aquilo seria muita gentileza. Em vez disso, por que não fazer Sergei sofrer com ele?
Ele pensou sobre aquilo. Um cantor de ópera. Sim. O clã dele iria gostar muito disso. Este pequeno garoto russo poderia entretê-los quando eles quisessem. Ele o traria de volta. O converteria. E teria mais um criado à sua disposição.
Além disso, Sergei poderia ajudar a encontrá-la. O cheiro dela agora corria em seu sangue. Ele podia levá-los até ela. E então, eles a fariam sofrer.