Kitabı oku: «Agora e Para Sempre », sayfa 11
Era hora de servir os pratos, então Emily guiou todo mundo para a sala de jantar. Houve várias exclamações de admiração quando todo mundo entrou e viu o cômodo renovado.
“Lamento não poder mostrar o salão de baile para vocês”, Emily disse. “A janela foi danificada pela tempestade, então, está tudo coberto por tábuas novamente”.
Ninguém parecia se importar. Eles estavam encantados pela sala de jantar. Tudo foi elogiado, do arranjo floral de Emily até a cor do tapete, assim como a escolha do papel de parede.
“Você tem bastante talento para arranjos de flores”, Raj disse, parecendo impressionado.
“E essas cadeiras não são adoráveis?” Serena brincou, passando os dedos pelas cadeiras da sala de jantar que ela havia ajudado Emily a escolher na loja de antiguidades de Rico.
Levou um bom tempo para acomodar todos em seus lugares. Assim que estavam sentados, Emily foi até a cozinha para começar a servir. O som do burburinho que vinha da sala de estar a fez sentir querida.
Ela foi até a cozinha e rapidamente conferiu como Mogsy e os filhotes estavam, na área de serviço. Estavam todos dormindo com satisfação, como se não se importassem com o resto do mundo. Então, ela voltou à cozinha e começou a servir a comida.
“Quer ajuda?” A voz de Serena veio da porta.
“Por favor”, Emily disse. “Isso está me trazendo lembranças terríveis de meu tempo como garçonete”.
Serena riu e ajudou a equilibrar cinco pratos nos braços de Emily. Serena fez o mesmo, e juntas elas foram até a sala de jantar, onde ouviram vários “oohs” e “aahs”, deliciados.
Emily não pôde deixar de se sentir um pouco frustrada. Daniel deveria estar presente para ajudá-la. Ela havia pensado naquele jantar como um tipo de “festa-revelação” para ambos. Ela queria ver como as pessoas reagiriam ao vê-la com alguém local, com um deles. Ela pensou que, no mínimo, iria granjear alguns sorrisos de satisfação. Mas Daniel havia desaparecido, deixando-a sozinha para fazer tudo.
Assim que todo mundo estava servido – e, felizmente, havia justo o bastante para alimentar a todos – o jantar começou.
“Emily, seu pai frequentou uma escola católica, não foi?” o prefeito perguntou.
O garfo que estava a meio caminho da boca de Emily subitamente pausou. “Ah”, ela disse, sem graça. “Na verdade, eu não sei”.
“Estou certo de que compartilhamos algumas histórias de freiras más”, o prefeito disse rapidamente, sentindo o desconforto de Emily ao falar sobre seu pai.
Cynthia, por outro lado, parecia distraída. “Ah, seu pai, Emily. Ele era um cara incrível”, exclamou. Ela mantinha sua taça elevada no ar. O vinho tinto dançava precariamente perto da borda toda vez que ela gesticulava, o que acontecia com frequência. “Eu lembro, uma vez, deve ter sido há pelo menos vinte anos, porque foi antes do nascimento de Jeremy e de Luke, quando eu ainda tinha cintura”. Ela pausou e gargalhou.
Emily não a corrigiu, explicando que tinha que ter sido há pelo menos vinte anos, mas ela podia dizer, a partir da atmosfera estranha ao redor da mesa e pelo fato dos convidados estarem desviando o olhar, que muitas pessoas estavam pensando nisso e se sentindo mal por causa dela.
“Foi a primeira vez que ele veio à minha loja”, Cynthia continuou, “e estava perguntando por este livro muito específico, uma edição antiga, que estava esgotada. Não me lembro do título, mas tinha algo a ver com fadas das flores. Eu sabia que ele havia se mudado para a casa na Rua Oeste e eu o havia visto algumas vezes, sempre sozinho. Então, estou olhando para este homem adulto, ficando um pouco nervosa, me perguntando para que ele quer a edição de colecionador de um livro sobre fadas. Continuo a pensar que devo ter entendido errado o que ele disse, e caminho pela livraria mostrando-lhe todos esses livros diferentes com títulos similares, e ele fica dizendo: 'Não, não é este. É sobre fadas'. Eu não tinha, então, tive que encomendá-lo, o que aumentou ainda mais o preço. Ele não parecia ligar nem um pouco, então, começo a achar que estava realmente determinado a obter essa edição de colecionador de um livro sobre fadas. Algumas semanas mais tarde, o livro é entregue e eu ligo para ele, para dizer que já podia vir buscá-lo. Estou um pouco nervosa, mas, quando ele entra na loja, está empurrando uma adorável menininha num carrinho de bebê. Aquela devia ser você, Emily. O alívio que eu senti, você não ia acreditar!”
Houve um momento de silêncio ao redor da mesa enquanto as pessoas olhavam para Emily, tentando descobrir qual seria a maneira mais apropriada de reagir. Quando viram que ela estava começando a rir, eles também riram, aliviados. Houve um momento em que era possível sentir a tensão deles sendo liberada.
Cynthia finalizou sua anedota. “Comentei que achava você jovem demais para ler o livro, mas ele disse que era para quando você fosse mais velha, que a mãe dele tinha uma cópia da obra e que queria que sua filha tivesse uma também. Não é a coisa mais linda que já ouviram?”
“Sim”, Emily disse, sorrindo. “Eu nunca tinha ouvido essa história antes”.
Emily sentiu-se grata por Cynthia dar a ela outra bela lembrança que podia guardar com carinho. Também a havia deixado triste, pois sentia ainda mais a falta de seu pai.
Depois da história de Cynthia, a conversa rapidamente se voltou para a ideia de transformar a casa numa pousada.
“Acho que você deveria fazer isso”, Sunita disse. Transformar este lugar numa pousada. Você teria mais chance de obter sua licença, pois beneficiaria todo mundo na cidade”.
“Verdade”, o prefeito disse. “Também protegeria você de Trevor”.
Emily sorriu. Ela estava tendo a distinta impressão de que a comunidade antipatizava totalmente com Trevor Mann, e que ele não representava mesmo qualquer uma das pessoas que estavam ao redor da mesa de jantar dela.
“Bem”, Emily disse, bebendo um pouco do seu vinho, “é uma ideia adorável. Mas eu só tenho dinheiro para mais três meses antes de ficar sem nada”.
“É o bastante para reformar um dos quartos?” Birk perguntou.
“Bem pensado”, Barbara se juntou à conversa. “A sala de jantar, a de estar e a cozinha já estão prontas. Se você tivesse um quarto, já poderia começar. Voilà. Uma pousada”.
Ela tinha razão. Todos tinham. Emily só precisava disso para tirar seu sonho do papel. Uma parte suficiente da casa e do terreno ao redor já estava num nível que os hóspedes iriam gostar. Se ela baixasse um pouco suas exigências de perfeição – apenas para conseguir o primeiro cliente, por exemplo – isso seria possível assim que ela renovasse um quarto. Então, com uma pequena renda entrando, poderia reinvestir no negócio, reformar outro quarto e crescer lentamente, dessa forma.
“Bem, Barbara”, Karen disse, “ela precisaria servir café da manhã também”.
Todo mundo riu.
“Engraçado”, Raj falou, “eu tenho algumas galinhas que preciso realocar. Você poderia ficar com elas e então teria ovos frescos para o café da manhã!”
“E você já prepara o melhor café da cidade”, o prefeito disse. “Sem querer ofender, Joe”.
Todo mundo olhou para o dono da lanchonete.
“Sem problema!” ele riu. “Eu sei que o café não é meu ponto forte. Eu ficaria muito feliz em endossar o negócio de Emily”.
“Eu também”, Birk disse.
“E se você precisar de qualquer conselho”, Cynthia acrescentou, “eu ficaria muito feliz em compartilhar meus conhecimentos. Fui gerente de uma pousada durante meus vinte anos. Não sei como eles pensaram que eu era responsável o bastante para fazer isso, mas o lugar não faliu na minha gestão, então, acho que estavam certos!”
Emily não podia acreditar no que estava ouvindo. Todas essas pessoas estavam dispostas a ajudá-la. Era uma sensação incrível, e ela estava maravilhada pela generosidade deles, assim como por suas palavras gentis. E pensar que ela havia sido tão desatenciosa quando chegou na cidade. Como as coisas mudaram em poucos meses.
Mas a alegria dela não estava completa por uma coisa. Daniel. Ele também vivia na propriedade. A vida dele seria imensamente perturbada se ela abrisse uma pousada. Eles perderiam sua privacidade. Ela não poderia fazer isso sem primeiro falar com ele. De alguma forma, tinha o potencial de funcionar muito bem para ambos. Daniel poderia se mudar para a casa principal com ela e eles poderiam alugar a casa dos fundos como um chalé, ou até como uma suíte nupcial. E o salão de baile seria o local perfeito para realizar casamentos.
Emily começou a divagar. Talvez ela tenha bebido uma taça de vinho a mais, mas foi tomada por um sentimento de otimismo que não sentia há anos. De repente, o futuro parecia promissor, estimulante e seguro.
Ela só se perguntava por que Daniel não estava lá para compartilhar aquele momento com ela.
Capítulo Quinze
Era tarde, e a festa já havia terminado há um bom tempo, quando Emily finalmente ouviu o som da moto de Daniel vindo da rua e entrando no caminho que levava até a casa. Ela saiu da cama e, pela janela, viu quando ele tirou o capacete e caminhou para a casa dos fundos.
Emily se envolveu em seu robe e calçou seus chinelos. Ela desceu as escadas e foi até a porta da frente. A grama estava macia enquanto caminhava pelo gramado na direção da casa dele. Havia luz vindo de dentro, iluminando a grama do lado de fora.
Ela bateu na porta e então recuou um pouco, envolvendo os braços ao redor do próprio corpo para se proteger do frio ar noturno.
Daniel atendeu o chamado. Algo na expressão em seu rosto disse a ela que ele já sabia por que ela estava ali.
“Onde esteve?” ela perguntou. “Você perdeu a festa”.
Daniel respirou fundo. “Por que você não entra? Podemos conversar tomando um chá ao invés de ficarmos em pé aqui, no frio”. Ele segurou a porta para ela. Emily entrou.
Daniel preparou chá para ambos e Emily permaneceu calada o tempo todo, esperando que ele fosse o primeiro a falar, a explicar seu comportamento. Mas ele permaneceu de boca fechada e ela não teve outra opção.
“Daniel”, ela disse, com firmeza, “por que você perdeu a festa? Onde esteve? Eu fiquei preocupada”.
“Eu sei. Desculpe. É que eu não gosto daquelas pessoas, entende?” ele disse. “Foram elas que me excluíram quando eu era criança”.
Emily franziu o cenho. “Isso foi há vinte anos”.
“Para essas pessoas, não importa se foi há vinte anos ou vinte minutos”.
“Você era só elogios sobre elas quando estávamos no porto”, Emily falou. “Agora, de repente, você as odeia?”
“Gosto de algumas”, Daniel contestou. “Mas a maioria é gente de cidade pequena, de mente estreita. Acredite em mim, teria sido pior se eu tivesse ido”.
Emily levantou uma sobrancelha. Ela queria dizer a ele que estava errado, que aquelas pessoas se mostraram gentis e divertidas. Que ela estava começando a considerá-las amigas. Mas a última coisa que queria era ter uma discussão com Daniel quando a fase de lua-de-mel deles tinha acabado de começar.
“Por que você não me disse que simplesmente não queria ir à festa?” ela finalmente falou, forçando sua voz a parecer calma. “Senti-me como uma idiota esperando por você”.
“Desculpe”. Daniel suspirou, arrependido, e então colocou uma xícara de chá na frente dela. “Sei que não deveria ter desaparecido daquele jeito. É que sou tão acostumado a estar só, a não ter alguém a quem prestar contas. É parte de quem sou. De repente, ter todas aquelas pessoas por aqui, é demais para lidar, tudo de uma vez”.
Emily se sentiu mal por ele, pela maneira como ele se sentia mais confortável sozinho. Para ela, isso não parecia um traço particularmente feliz de se ter. Mas ainda não era uma desculpa para seu comportamento.
“Quero dizer, apenas Cynthia sozinha teria sido ruim o bastante”, Daniel acrescentou, com um sorriso levado.
Apesar de tudo, Emily riu. “Você podia pelo menos ter me avisado”, ela disse.
“Eu sei”, Daniel replicou. “Se eu prometer não desaparecer desse jeito novamente, você me perdoa?”
Emily não conseguia ficar com raiva dele. “Acho que sim”, concordou.
Daniel pegou na mão dela. “Por que não me conta como foi? Sobre o que vocês conversaram?”
Emily ficou séria. “Você quer que eu lhe conte o que conversei com pessoas que você acabou de dizer que odiava?”
“Não vou odiar vindo de você”, Daniel disse, com um sorriso.
Emily revirou os olhos. Ela queria ficar com raiva de Daniel por um tempinho a mais para ensiná-lo uma lição, mas não pôde se conter. Além do mais, queria lhe dar algumas notícias em relação à pousada, e não podia mais se segurar. Ela tentou abafar seu entusiasmo, mas não pôde.
“Bem, o principal tópico da conversa”, ela disse, “foi transformar a casa numa pousada”.
Daniel quase cuspiu o gole de chá que havia dado. Ele olhou sobre a borda de sua xícara. “Uma o quê?”
Emily ficou tensa, subitamente nervosa sobre compartilhar com Daniel seu novo sonho. E se ele não a apoiasse? Ele tinha acabado de dizer que estar sozinho era parte de quem ele era, e agora ela estava prestes a dizer a ele que a presença de estranhos de todo tipo perambulando pela propriedade poderia se tornar algo corriqueiro.
“Uma pousada”, ela disse, sua voz mais fraca e mais tímida.
“Você quer fazer o quê?” Daniel perguntou, pondo sua xícara sobre a mesa. “Abrir uma pousada?”
Emily envolveu sua própria xícara nas mãos, buscando apoio, e mudou de posição em sua cadeira. “Bem... talvez. Eu não sei. Quero dizer, preciso examinar os valores primeiro. Eu provavelmente nem mesmo serei capaz de tirar o projeto do papel”. Ela estava gaguejando agora, tentando tornar a ideia menos importante, sem saber o que Daniel pensaria dela.
“Mas se pudesse pagar, o que gostaria de fazer?” Ele perguntou.
Emily levantou os olhos e encontrou os dele. “Era o que eu queria fazer quando era mais nova. Era meu sonho, na verdade. Só que não pensei que seria boa nisso, então, desisti de pensar a respeito”.
Daniel colocou a mão dele sobre a dela. “Emily, você seria incrível”.
“Você acha?”
“Eu sei”.
“Então, você não acha que é uma ideia terrível?”
Daniel balançou a cabeça e sorriu. “É uma ótima ideia!”
Ela subitamente se iluminou. “Você realmente acha?”
“Com certeza”, ele acrescentou. “Você seria uma anfitriã incrível. E se precisar de algum dinheiro para investir, ficaria feliz em ajudar. Eu não tenho muito, mas lhe daria tudo o que tenho”.
Apesar de emocionada pela oferta dele, Emily balançou a cabeça. “Eu não poderia ficar com seu dinheiro, Daniel. Tudo de que eu realmente preciso para começar é um quarto decente e uma cafeteira. Assim que conseguir o primeiro hóspede, posso reinvestir o lucro diretamente no negócio”.
“Mesmo assim”, Daniel disse. “Se precisar de qualquer serviço de reforma, reparos no terreno e coisas do tipo, você sabe que ficarei feliz em ajudar”.
“Verdade?” Emily perguntou. “Faria isso por mim?” Ela pensou novamente na generosidade de Daniel, e como ele esteve ao seu lado quando ela mais precisou. “Você acha mesmo que é uma boa ideia?”
“Sim”, Daniel reassegurou. “Eu adorei. Qual quarto você reformaria primeiro?”
Durante seus últimos três meses reformando a propriedade, eles não tinham feito muitos avanços no andar de cima. Apenas o antigo quarto dos pais de Emily (agora, dela) e o banheiro haviam estavam terminados. Ela teria que escolher outro dos quartos no qual focar.
“Ainda não sei”, Emily falou. “Provavelmente, um dos grandes, na parte de trás”.
“Um com vista para o mar?” Daniel sugeriu.
Emily deu levemente de ombros. “Tenho que pensar mais a respeito primeiro. Mas não levaria muito tempo para reformar, não é? Eu poderia deixá-lo pronto para a alta temporada. Quer dizer, se eu conseguir uma licença”.
Daniel parecia estar de acordo. Durante seu chá, eles conversaram sobre todos os detalhes, a quantidade de tempo e de dinheiro de que precisariam para aprontar um quarto e um menu juntos a tempo para a chegada dos turistas no verão.
“Seria arriscado”, Daniel falou, se recostando na cadeira e olhando para o papel na sua frente, cheio de números e cálculos.
“Seria”, Emily concordou. “Mas deixar meu emprego e largar meu namorado de sete anos foi arriscado e veja o quanto deu certo no final”. Ela esticou o braço e apertou o braço de Daniel. Ao fazer isso, sentiu uma hesitação da parte dele. “Está tudo bem?” ela perguntou, franzindo o cenho.
“Sim”, Daniel falou, levantando-se e recolhendo as canecas vazias. “Só estou cansado. Acho que vou me deitar”.
Emily também ficou de pé, ao perceber, subitamente, que ele estava pedindo para ela ir embora. A paixão das noites anteriores parecia ter se extinguido inteiramente. O romance de sua manhã no jardim de rosas havia se dissipado. A emoção do passeio de moto pelo topo dos penhascos tinha ido embora.
Apertando mais a camisola ao redor de si, Emily se aproximou de Daniel e o beijou no rosto. “Vejo você depois?” ela perguntou.
“Hum-hum”, ele respondeu, sem olhar nos olhos dela.
Confusa e magoada, Emily deixou a casa dele e fez o caminho frio e solitário de volta para sua própria casa, para passar a noite sozinha.
*
“Bom dia, Rico!” Emily chamou enquanto entrava na feira coberta de antiguidades escura e entulhada de itens, no dia seguinte.
Ao invés de Rico, foi Serena quem surgiu de trás de uma mesa que estava renovando artisticamente. “Emily! Como está indo com o Sr. Gostosura? Não tive a chance de falar com você sobre isso na festa”.
Daniel era a última coisa sobre a qual Emily gostaria de falar naquele momento. “Se você me perguntasse isso dois dias atrás, eu teria dito que tudo estava maravilhoso. Mas agora não tenho tanta certeza”.
“Ah?” Serena disse. “Ele é um daqueles, é?”
“Daqueles o quê?”
“Mergulham fundo demais e ficam paralisados de medo. Já vi isso um milhão de vezes”.
Emily não tinha certeza de como uma mulher na casa dos vinte poderia ter visto qualquer coisa um milhão de vezes, mas não disse nada. No momento, ela não queria se aprofundar numa conversa sobre Daniel.
“Enfim, estou procurando duas peças específicas”, Emily disse, procurando em sua bolsa pela lista que ela e Daniel haviam feito na noite passada, antes dele expulsá-la da casa dele. Ela deu a lista a Serena. “Não estou pronta para comprar nada ainda, só quero pesquisar alguns valores”.
“Claro”, a moça disse, sorrindo. “Vou dar uma procurada”. Ela já estava se dirigindo para o interior da loja, quando pausou. “Ei, tudo isso é para o quarto. É para...”
“Para uma pousada?” Emily sorriu. “É”.
“Que legal!” Serena exclamou. “Você vai mesmo fazer isso?”
“Bem”, Emily disse, “preciso obter a licença primeiro, o que significa ir para a reunião do conselho municipal”.
“Ah, pfff, isso vai ser moleza”, Serena disse, fazendo um gesto despreocupado com a mão. “Isso significa que você não vai voltar para Nova York?”
“Preciso obter a licença primeiro”, Emily repetiu, com um tom de voz levemente mais sério.
“Entendi”, Serena disse, estalando os dedos. “A licença primeiro”. Ela sorriu e se afastou.
Emily sorriu, feliz em saber que pelo menos uma pessoa parecia sinceramente contente por ela ficar em Sunset Harbor, não apenas pelo lucro que ela traria para a região, mas porque gostava dela.
Ela se dirigiu até a prateleira de maçanetas e começou a dar uma olhada. Rico tinha uma coleção que rivalizava com a do pai dela, apesar das de Rico estarem em condições muito melhores. Ela estava pensando em um azul claro para o esquema de cores do quarto, e queria delicadas maçanetas de vidro para a cômoda.
Enquanto examinava a gaveta de maçanetas e puxadores, ela ouviu as vozes de duas pessoas no momento em que entravam na loja, atrás dela.
“Stella me contou que o viu no topo dos penhascos novamente ontem, dirigindo sua moto por horas e horas”, uma das vozes falou.
Emily parou e se concentrou no que elas estavam dizendo. Será que estavam falando de Daniel? Ele gostava de dirigir sua moto sobre os penhascos, e havia desaparecido por muitas horas ontem.
“E ele foi ao festival no porto, outro dia”, a segunda voz falou.
“Emily sentiu seus batimentos acelerarem. Daniel havia ido ao festival. Bem, assim como todo mundo, mas ninguém mais dirigia uma moto ao longo da estrada que margeava os penhascos da costa. Ela teve certeza de que estavam fofocando sobre Daniel.
“Você não acha que ele se mudou novamente para a cidade, acha?” a segunda voz falou.
“Bem, Stella acha que ele nunca foi embora”, a primeira disse.
“Meu Deus. Sério? Só de pensar nisso, eu tenho arrepios. Você quer dizer que ele tem vivido na velha casa esse tempo todo?”
“Sim, exatamente. Stella me disse que alguém disse a ela que ele estava na venda de garagem que a garota nova fez lá outro dia”.
Emily sentiu seu corpo todo gelar enquanto as vozes continuavam a fofocar.
“Sério? Deus me livre e guarde. Alguém precisa avisar a ela!”
Certa agora de que as mulheres estavam falando sobre Daniel, Emily emergiu das sombras. “Avisar-me sobre o quê?” ela disse, friamente.
As duas mulheres pararam e olharam para ela como coelhos pegos na estrada, sob as luzes dos faróis.
“Vocês ouviram o que eu disse”, Emily repetiu, “avisar-me sobre o quê?”.
“Bem”, a primeira mulher começou, sua voz, agora, subitamente trêmula. “Foi Stella quem disse que o havia visto”.
“Visto quem?”
“O filho de Morey, eu esqueci seu nome. Dustin. Declan”.
“Douglas”, a outra mulher contou à primeira, confiante.
“Não, é um nome mais exótico. Não é muito comum”, a primeira contestou.
Emily cruzou os braços e levantou uma sobrancelha. “É Daniel. E o que tem ele?”
“Bem”, a primeira mulher falou, “ele tem uma péssima fama”.
“Péssima fama?” Emily perguntou.
“Com as mulheres”, ela acrescentou. “Ele deixou muitas mulheres com o coração partido, esse Declan”.
“Douglas”, a segunda mulher disse.
“Daniel”, Emily corrigiu as duas.
A primeira mulher balançou a cabeça. “Não é Daniel, querida. Não consigo me lembrar de seu nome, mas, definitivamente, não é Daniel”.
“Estou dizendo a você, é Douglas”, a segunda mulher disse.
Emily estava começando a se irritar. Ela não queria acreditar que as mulheres estavam falando sobre Daniel – sobre as mulheres em seu passado – mas não pôde evitar a dúvida desconfortável que elas estavam incutindo em sua mente. “Veja, tenho certeza de que tudo isso foi há muito tempo. As pessoas mudam. Daniel não é mais assim e não vou entrar em discussão sobre isso com vocês. Deviam cuidar das suas próprias vidas, entenderam?”
A primeira mulher fechou a cara. “Não é Daniel! Sinceramente, menina, eu moro nesta maldita cidade há mais tempo do que você. O nome daquele garoto não é Daniel”.
A segunda mulher bateu as mãos uma na outra. “Lembrei. Dashiel”.
“Sim, é isso! Dashiel Morey.”
Nesse momento, Serena reapareceu. Ela parou no meio do caminho quando viu as duas mulheres mais velhas paradas lá e Emily com uma expressão atônita.
“Eu tenho que ir”, Emily falou, virando-se e caminhando para a saída.
“Espere, e sua lista?” Serena falou, enquanto Emily desaparecia.
Assim que saiu da loja, sob o sol da primavera, Emily se inclinou e começou a respirar fundo. Sentiu que estava hiperventilando. Sua cabeça parecia estar girando. Apesar de saber que aquelas senhoras eram apenas duas velhas intrometidas, não pôde deixar de se sentir sacudida pelo que haviam dito, de quão certas elas estavam sobre o nome de Daniel, sobre suas indiscrições passadas com as mulheres. E apesar de Emily ter estado com Daniel em mente, corpo e alma, ela teve a súbita, assustadora percepção de que não o conhecia bem de jeito nenhum, que ninguém podia realmente conhecer totalmente uma pessoa, de toda forma. Seu pai havia lhe ensinado isso. Se um pai de família amoroso podia abandonar sua família e nunca mais ser visto novamente, então um cara que ela conhecia há apenas poucos meses poderia estar mentindo sobre seu nome.
E suas intenções.