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Kitabı oku: «Descobrimento das Filippinas pelo navegador portuguez Fernão de Magalhães», sayfa 4

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XI

Tinha decorrido mais de seis mezes que a esquadrilha estava no porto de S. Julião quando um dia appareceu na praia um homem de grande estatura, mal coberto com uma pelle de animal, cantando em desconcertada voz, pulando e lançando punhados de areia na cabeça, o que pareceu significar as suas intenções pacificas, porque, segundo diz o capitão Cook na sua Voyage dans l'hémisphère austral, os indios da ilha de Malicolo lançavam agua na cabeça em signal de paz.

Extranha apparição esta que surprehendeu os navegantes já descoraçoados de encontrarem alma viva n'aquellas paragens.

Os hespanhoes repetiram o mesmo signal que o selvagem fizera, de deitar areia na cabeça, para assim elle entender que estavam na mesma intenção.

De facto o selvagem acercou-se de um marinheiro que Magalhães mandou a terra e com elle veio á presença do chefe da esquadrilha.

Pigafetta descrevendo este selvagem diz: «Era este homem tão alto que a sua cintura dava pela nossa cabeça. Bella estatura; rosto amplo e arroxeado, olheiras amarellas e como que marcando-lhe as faces duas manchas em fórma de coração. Os cabellos, muito curtos, pareciam embranquecidos com pós. Cobria o corpo, ainda que mal, com as pelles de um animal que abundava n'aquelle paiz. Este animal tem cabeça e orelhas de mula, corpo de camello, pernas de veado, cauda de cavallo e relincha como este.»

Deve ser o guanaco.

Parece que a surpreza fez augmentar aos olhos dos hespanhoes as proporções d'aquelle selvagem, pois que D'Orbigny na sua obra L'homme americain referindo-se aos habitantes d'aquellas regiões diz: «Não podemos occultar que nos illudiu a apparencia d'estes homens. A largura das suas espaduas, cobertas desde a cabeça até os pés com capas de pelles de animaes selvagens, cosidas numa só peça, produziram em nós tal illusão, que primeiro de os medirmos nos pareceram de extraordinaria altura, emquanto que depois de bem observados e medidos directamente, ficaram reduzidos ás dimensões vulgares.»

Diz ainda Pigafetta: «Magalhães recebeu com muito agrado este selvagem. Ordenou que lhe dessem de comer e o levassem diante de um grande espelho, o que o surprehendeu extraordinariamente e encheu de admiração. O selvagem que não tinha a menor noção do que fosse um espelho, e que pela primeira vez via a sua propria figura, recuou cheio de espanto, deitando ao chão quatro homens que estavam atraz d'elle.»

Aquelle primeiro selvagem foi mandado pôr em terra depois de Magalhães lhe ter dado alguns presentes, e elle tão contente se foi, que não tardou que outros se apresentassem com a mira nas mesmas dadivas.

Eram todos da mesma corpolencia que o primeiro, e como aquelle tinham pés enormes, pelo que os navegantes os denominaram Patagões, nome porque ainda actualmente são designados os homens d'esta raça.

A todos Magalhães mandou dar comida e presenteou com espelhinhos, missangas e outras bugiarias, com o que ficaram muito contentes. Um d'elles mais domestico demorou-se alguns dias a bordo da Trindade, sociando com os marinheiros, que lhe ensinaram algumas palavras castelhanas e o baptisaram com o nome de João.

Este João comia os ratos que os marinheiros caçavam, e o fazia com muito gosto, até que mostrando vontade de ir para terra o desembarcaram, sem que por muitos dias voltassem ás vistas dos navegantes outros selvagens.

Eram tão extraordinarios os habitantes d'aquellas paragens, que Magalhães entendeu trazer dois d'elles ao rei de Castella, quando regressasse á Europa.

Foi assim que a 28 de julho, voltando á praia quatro selvagens dos que já tinham estado a bordo, Magalhães os mandou buscar, retendo no navio dois d'elles e mandando para terra os outros.

É curioso o que Pigafetta descreve a respeito da prisão d'estes dois patagões: «Foi preciso pôr-lhe grilhões aos pés, enganando-os, fazendo-lhes acreditar que os ferros eram presentes e lh'os punham nos pés para que os podessem levar para terra.»

Não foi de bom aviso a detenção dos patagões a bordo, porque isto levou desconfiança aos que estavam em terra e que, mais numerosos, vieram juntar-se de noite, na praia onde accenderam fogueiras, coisa que até ali não fôra visto pelos navegantes.

Este facto chamou a attenção de Magalhães, que na manhã seguinte mandou sete homens á descoberta para saber o que seria.

Os exploradores, porém, encontraram a praia deserta e apenas vestigios das fogueiras, assim como das pégadas dos indigenas impressas sobre a areia e na neve que cobria as extensas planicies. Os exploradores, apesar do seu limitado numero, não duvidaram de se enternarem em busca dos selvagens, mas passaram o dia n'esta diligencia sem encontrarem nenhum, resolvendo por fim retirarem-se ao approximar-se a noite.

Foi n'essa occasião que os exploradores se viram acommettidos por um bando de patagões, completamente nús e armados de flechas e que, segundo parece, os andava seguindo a distancia, sem que até ali tivesse sido notado.

Travou-se lucta desproporcionada, porque alem da desegualdade numerica, os exploradores apenas levavam um arcabuz, unica arma de fogo com que se encontravam, para fazer frente ao inimigo que os atacava.

Diogo Barroza, soldado da guarnição da Trindade, caiu morto por uma flechada, e a lucta recresceu de intensidade e bravura. Os exploradores carregando sobre os selvagens com redobrado valor e luctando corpo a corpo, taes estragos lhes fizeram, que o inimigo recuou, fugiu e desappareceu para o interior deixando os exploradores senhores do campo.

Só na manhã seguinte voltaram para bordo, depois de terem passado a noite á roda de uma fogueira para se aquecerem e na qual assaram uma porção de carne, que os selvagens abandonaram na fuga, e que serviu aos exploradores de lauta ceia.

Quando Fernão de Magalhães soube do occorrido, quiz vingar a morte do soldado da Trindade e mandou para terra vinte homens armados para bater os patagões; mas trabalho inutil foi este, porque os selvagens não appareceram por mais que os procurassem e os exploradores apenas poderam dar sepultura ao cadaver de Diogo Barroza, seu companheiro d'armas.

XII

A 24 de agosto largou a esquadrilha do porto de S. Julião, depois de quasi cinco mezes ali passados, com bem pouco resultado para os progressos da expedição.

Durante esse tempo repararam-se os navios, não sem grandes difficuldades, como se sabe, e realisaram-se notaveis modificações nos commandos, em resultado da insurreição de Quezada e de Luiz de Mendonça.

Alvaro de Mesquita commandava agora a caravella Santo Antonio e João Serrão a Conceição. Magalhães confiara o commando da Victoria a seu cunhado Duarte Barbosa.

Antes da partida todos da esquadrilha se prepararam espiritualmente com os soccorros da religião, confessando-se e commungando, como quem se dispunha para grande empreza, consoante o costume do tempo.

Entretanto deu-se a bordo uma scena tocante, que impressionou tristemente toda a companha e foi a despedida de João de Cartagena e do padre Pedro Sanches que tinham de ser abandonados em terra, conforme a sentença que a isso os condemnara.

Era lastimoso o seu estado, com tudo o respeito que Magalhães soubera incutir á sua gente, fez com que ninguem se oppuzesse a semelhante barbaridade, e os condemnados lá ficaram á mercê, na praia, apenas com provisão de bolachas e vinho para alguns dias.

Com que magua e, quem sabe arrependimento, viram os miseros levantar ferro os navios e largar as vellas ao vento até desaparecerem na distancia do extenso mar, indo-se-lhe n'elles a esperança de voltarem á patria, abandonados n'aquellas paragens até ali ignoradas para a navegação!

E a frota de Magalhães foi singrando no mesmo rumo que Serrão já levara quando fôra explorar a costa d'aquelle mar.

O tempo ia bonançoso, sem chuvas, nem vento rijo; mas já proximos do rio Santa Cruz principiou a desenvolver-se temporal e tão violento, que as caravellas estiveram a ponto de perder-se.

Diz Barros que Deus e os Corpos dos Santos é que os salvaram, referindo-se á apparição dos fogos de Santelmo nos topes dos mastros.

Era crença dos marinheiros n'aquelles tempos, e por muitos annos o foi ainda, que quando appareciam aquelles fogos nos topes dos mastros – hoje conhecidos como resultantes da electricidade – era signal de estar passado o perigo.

Aquelles temporaes detiveram a frota dois mezes no rio Santa Cruz, sem Magalhães poder proseguir na sua almejada descoberta.

A 18 de outubro, porém, o tempo parecia ter abrandado mais duradouramente, e Magalhães resolveu ir ávante, mandando fazer rumo para S. O. sem se afastar da costa.

Principiavam os navios, a entrar em mares até então desconhecidos, e o receio dos navegantes era cada vez maior. Vinha a memoria as historias phantasticas e horriveis que se contavam d'aquelles mares tenebrosos. A superstição invadia todos os espiritos e apavorava os mais ousados. Só havia ali um espirito forte que tinha que repartir-se por todos, incutindo-lhe animo e confiança: era o de Fernão de Magalhães, firme no seu proposito, crente na sua idéa. Com elle tinha que se impôr a todos os seus subordinados, fazendo-lhes saber, que haviam de ir até o fim, até encontrar a procurada passagem para o mar do Sul, ainda que tivessem de chegar a 75.° graus de latitude, ou os seus navios se afundassem no meio da porcella.

Não tardou que, de novo, a tempestade assaltasse as frageis caravellas, obrigando-as a estar á capa dois dias, mas abonançando ao terceiro, permittiu aos navegantes avançarem até 50.° de latitude, avistando a 21 de outubro, uma lingua de terra para S. O.

Esta vista alegrou Magalhães, que mais se fortaleceu na sua idéa, prevendo que aquella lingua de terra devia de ser a embocadura do estreito ou passagem para o mar das Indias.

Immediatamente tratou de mandar fazer um reconhecimento por Serrão e por Mesquita, que iam respectivamente nas caravellas Conceição e Santiago.

Mal, porém, estes navios se tinham apartado da frota, quando pela noite sobreveio um forte temporal, que se estendeu por toda a costa, pondo em imminente perigo tanto as caravellas que tinham ido ao reconhecimento, como as que ficaram á espera de noticias.

Parece que a Providencia se comprazia em contrariar tanta audacia e dar razão aos medrosos, que quasi tinham por louco o chefe da temeraria empreza.

Foi uma noite e um dia de infinda tormenta. As caravellas que haviam ancorado, largaram as amarras e abandonaram-se á porcella; a Conceição e a Santiago correram ao vento sem governo, em perigo de a cada momento vararem na costa. Diz Barros que os ventos dominantes, n'aquella quadra, eram do Sul, contrarios ao rumo dos navegantes. Tanto bastava para difficultar a viagem e augmentar os perigos em mares desconhecidos.

Mas a mesma Providencia que assim experimentava os navegantes, tambem lhes accendeu a esperança no meio da tormenta, pois que as duas caravellas corridas do tempo, quando os navegantes se julgavam perdidos, devisaram estes uma aberturasinha ao longo da costa que lhes pareceu ser como que a entrada de alguma bahia.

Manobrando com grande difficuldade, fizeram prôa para lá, e seguindo sempre avante transpozeram aquella entrada e encontraram-se n'uma bahia, e, como o tempo os não deixasse deter, foram correndo as caravellas até que entraram n'outra garganta de terra para além da qual se acharam em espaçosa bahia, como ainda não tinham encontrado.

Ali serenou a tempestade, e os navegantes poderam reconhecer onde estavam, resolvendo Serrão e Mesquita voltarem a juntar-se a Magalhães a participar-lhe a boa nova.

A abertura na costa, para que os navegantes aproaram as suas caravellas, foi, sem duvida, um raio de esperança que lhes sorriu entre a porcella, e por isso a denominaram estreito de Nossa Senhora da Esperança. Á primeira bahia denominaram-n'a depois, de S. Gregorio, e ao segundo estreito, de S. Simão.

XIII

Emquanto Serrão e Mesquita, luctando com a furia dos elementos, conseguiam fazer o reconhecimento ordenado por Magalhães, o audacioso capitão mal se tinha podido haver com o resto da frota, que ficára á espera á entrada do cabo, a que Magalhães deu o nome de Cabo das Onze Mil Virgens, em memoria do dia em que o avistou ser dedicado pela egreja áquella festa.

Pelo espirito de Magalhães mais de uma vez, n'aquellas longas horas, passou a funebre idéa de que Serrão e Mesquita teriam perecido e mais a sua gente, no meio de tão grande tormenta.

O temporal continuava desabrido, e a gente de Magalhães mostrava-se cada vez mais apprehensiva, o que augmentava os receios do chefe pelo exito da empreza que elle, com bem fundadas razões, via proximo a realisar.

Para maior alarme, viram os navegantes elevarem-se rolos de fumo do lado da terra, o que fez suppor que eram fogueiras que os naufragos tivessem accendido para dar signal de onde estavam. Isto pareceu certo a Magalhães, que logo resolveu ir em soccorro dos naufragos, fosse qual fosse o perigo a que se ia expor e o resto da sua gente.

«Quando estavamos, porém, n'esta anciedade, diz Pigaffeta, eis que apparecem duas embarcações, de panno largo e bandeiras desfraldadas ao vento, saltando por sobre as ondas e se dirigiam para nós. Ao approximarem-se dispararam tiros de bombarda, e a sua gente dava gritos de alegria, a que correspondemos do mesmo modo, e quando soubemos, por elles, que tinham visto a grande extensão da bahia ou do estreito, dispozemo-nos para continuar o nosso caminho.»

Pelo que Serrão e Mesquita contou a Fernão de Magalhães, não restava duvida que se encontrára, emfim, a passagem procurada. Os exploradores haviam reconhecido golfos de mar entre alcantiladas rochas, diziam uns; outros julgavam ter achado o estreito, por onde haviam navegado tres dias sem lhe encontrar o fim, notando grandes correntes com pequenos minguantes, signal evidente de que o estreito levava as suas aguas para o poente, ao oceano.

Tudo isto dava acerto ao juizo de Magalhães, o qual mandou dez homens em uma chalupa reconhecer a terra.

Esses homens não encontraram gente, mas vestigios. Mais de duzentas sepulturas indicavam ter ali havido povoado; devia ser, porém, na estação do calor, em que os indios vem estabelecer-se á beira do mar, voltando para o interior na estação das chuvas, e era aquella em que os exploradores ali se encontravam. Mais viram muitos esqueletos e ossos soltos de baleias, espalhados pela praia, signal de grandes temporaes que ali arrojavam aquelles cetaceos.

Herrera diz, que por ordem de Magalhães foi a caravella Santo Antonio fazer novo reconhecimento no canal, mas sem resultado, porque tendo Mesquita avançado umas cincoenta leguas, não lhe achou o fim, pelo que resolveu voltar á frota a dar parte da sua viagem a Magalhães.

Vinha talvez mais convencido de que o canal ou estreito só teria mais perigos para quem o quizesse devassar, do que levaria a bom termo de viagem. Magalhães, porém, não se desconcertou com o resultado do reconhecimento de Mesquita, e antes resolveu terminantemente seguir avante, convencido de que passaria o estreito e encontraria, emfim, o mar da India ou do Sul.

Não quiz, porém, levantar ferro, sem reunir na Trindade– navio almirante – o conselho dos capitães, para lhes communicar a sua resolução e saber ao certo dos mantimentos que havia, para que tempo chegariam.

Reunido o conselho, os capitães declararam que havia comestiveis para tres mezes. Quanto á resolução que Magalhães lhes communicou todos se mostraram concordes, talvez mais por obediencia ao chefe, do que por convicção do bom exito do commettimento. Apenas o piloto Estevão Gomes, parente ainda de Magalhães, descordou dos seus companheiros, ponderando que corriam grande perigo em proseguirem, pois que os temporaes ou as calmarias que atrazassem a travessia, poderiam inutilisar tudo, perdendo os navios ou reduzindo todos á fome, de que morreriam. Magalhães combateu moderamente a opinião de Estevão Gomes, affirmando que o canal que encontraram era a passagem para o mar do Sul, e tinha a certeza do que dizia, porque, na thesouraria de Portugal vira uma carta de marear desenhada por Martim Behaim, em que estava traçada aquella passagem, de que não podia duvidar agora. O enthusiasmo de Magalhães chegou a tal ponto que disse ao conselho: Ainda que para chegar ao fim tivesse que comer as pelles de vacca que forravam as antenas dos navios, não retrocederia sem cumprir o que havia tratado com Carlos V.

Todos se submetteram á vontade do chefe, e no dia seguinte a frota soltou vellas e navegou pelo estreito fóra até á grande bahia de S. Bartholomeu, onde os navegantes depararam com um grupo de ilhas.

A frota lançou ferro, e Magalhães mandou fazer um reconhecimento n'um canal ao sul, pelas caravellas Conceição e Santo Antonio.

Ao sul ficava terra, a que Magalhães pôz o nome de Terra do Fogo, por ter observado, de noite, grandes fogueiras que lá ardiam. Aquellas terras ainda hoje conservam esse nome.

Nada adiantou o reconhecimento que Magalhães mandou fazer, porque a caravella Conceição voltou breve sem nada trazer de novo, e a Santo Antonio, debalde a esperaram, não a tornando mais a ver.

Esta falta inquietou sobre modo a Magalhães, pelo receio de que se teria perdido o navio, e ainda empregou esforços para o procurar, mas tudo foi inutil, dando acerto ao parecer do piloto André de S. Martim, que disse a Magalhães que a caravella voltára para Hespanha, como effectivamente voltou, tendo a companha sublevado-se contra Mesquita, ao qual prenderam, dando o commando do navio a Jeronymo Guerra, que ia a bordo como escrivão.

Yaş sınırı:
12+
Litres'teki yayın tarihi:
28 mayıs 2017
Hacim:
90 s. 1 illüstrasyon
Telif hakkı:
Public Domain