Kitabı oku: «Conquista Da Meia-Noite», sayfa 2
Stewart Glen, Escócia — Final do outono, 1505 — Dezenove anos depois
Os olhos de Davina Stewart dançaram de alegria ao vislumbrar as barracas e caravanas coloridas do acampamento cigano. Tantos cheiros exóticos passeavam por seus sentidos, a boca se enchia d'água em um momento, e ela deu um suspiro de prazer no seguinte. Entre as tochas e fogueiras bruxuleantes, acrobatas se contorciam, malabaristas lançavam bastonetes flamejantes para o alto, e mercadores agitavam seus produtos, trazidos de todo o mundo, para os transeuntes. O pai de Davina, Parlan, e o irmão dela, Kehr, pediram licença e se dirigiram aos cavalos que os ciganos expuseram à venda.
— Davina. — sua mãe, Lilias, pressionou a mão no braço de Davina e gesticulou na direção de uma tenda ao longe. — Myrna e eu estaremos naquela barraca. Pretendo comprar um presente para o seu pai antes que ele e seu irmão voltem. Fique perto de Rosselyn e não se distancie.
— Sim, senhora. — observando a mãe e Myrna darem os braços e se afastarem, Davina apertou a mandíbula para conter a empolgação.
Rosselyn estava com a boca aberta.
Davina pigarreou.
— Se quiser ficar aqui encarando nossas mães, então vai ficar sozinha. Eu, por exemplo, não vou perder esta rara oportunidade de explorar minha liberdade. — Davina se virou e correu na direção oposta para colocar alguma distância entre ela e a mãe.
Rosselyn correu para alcançá-la e deu o braço a Davina.
— Como sua criada e guardiã nomeada, preciso lembrá-la que sua mãe avisou para não se distanciar?
— Acredita que ela nos deixou explorar? — Davina estava maravilhada, e as risadas jorraram por entre as mãos apesar de suas tentativas de cobrir a boca.
— Não explora o suficiente quando visita seu irmão na corte? — Rosselyn colocou um cacho castanho desgarrado sob a touca.
— Bah! — Davina zombou, imitando a exclamação favorita de seu irmão. — A corte é um lugar horrível para se estar, sei bem. As mulheres se caluniam, fingem serem amigas, e toda a conversa gira em torno de saias levantadas e encontros secretos com rapazes bonitos no jardim. — Calor subiu ao rosto de Davina ante a fala ousada.
Rosselyn deu uma risadinha.
— Davina Stewart, você está corando! E deve mesmo! Sua mãe iria açoitá-la se a ouvisse falando dessa maneira.
— Na corte, Ma me mantém por perto, então não, também não exploro muito lá. Vou deleitar-me com a minha liberdade esta noite! — Davina riu, mas a alegria desapareceu ao perceber a impressão que sua fala deixava. — Ora, não me entenda mal. Eu adoro a mamãe, mas…
— Sim, ela quase nunca permite que fique fora do alcance dela, muito menos de vista.
Rosselyn era dois anos mais velha que os treze de Davina e crescera em sua casa. Foi natural que ela assumisse o papel de criada de Davina, já que a mãe da menina, Myrna, era a criada de Lilias. Embora Rosselyn cumprisse bem as tarefas de sua posição, Davina amava a garota mais velha como uma irmã.
Pegando emprestada a ideia da mãe, Davina arrastou Rosselyn para examinar as mercadorias das tendas, procurando comprar presentes para sua família. Uma adaga de bota com um delineado fino chamou sua atenção. O Cigano puxou a pequena lâmina da bainha.
— Uma lâmina esplêndida para uma senhora como você. — ele se esforçou.
— Ora, não é para mim, mas para meu irmão. — Davina rebateu.
— Sim, uma bela arma para guardar na bota! Vê os desenhos incrustados de prata na lâmina?
— É mesmo prata? — Davina ergueu a adaga e estudou os desenhos celtas que desciam pela lâmina estreita.
— Pois claro! Uma obra de arte! — quando ele disse o preço, ela estremeceu. — Prata de verdade, eu prometo.
Ela devolveu a lâmina, mas o ourives não a aceitou. Ele olhou ao redor e então sussurrou, em um tom conspiratório, um preço mais baixo. Não muito mais baixo, mas o suficiente. Davina entregou a moeda.
Rosselyn puxou a manga de Davina.
— Olha… — ela disse apontando para uma mulher idosa. A cigana exibia uma longa trança prateada e um lenço escarlate cobria a cabeça.
A mulher acenou para elas.
Ela se sentava ao lado de uma barraca de lona pintada com uma cena impressionante de uma mulher de cabelos louros sentada atrás de uma mesa exibindo uma série de objetos. Estrelas, luas e outros símbolos estranhos que Davina não reconheceu flutuavam em torno dos cabelos loiros em cascata da mulher.
— O que será que ela vende? — Davina sussurrou com admiração.
Rosselyn olhou para o círculo de tendas e carroças na direção de suas mães. Lilias e Myrna estavam diante de uma série de fitas penduradas nos braços de um homem. Agarrando a mão de Davina, um largo sorriso se espalhou nos lábios finos de Rosselyn e um brilho de travessura tocou seus olhos castanhos.
— Venha!
Davina se atrapalhou para acompanhar Rosselyn que puxava sua mão, as duas correram até pararem, sem fôlego, diante da cigana.
— Ansiosa para ver sua sorte, pelo que vejo. — disse a cigana com um adorável sotaque francês, e acenou com a mão enrugada em direção à aba da tenda. — Apenas uma de cada vez, s'il vous plaît.
— Vá primeiro, Roz. — encorajou Davina.
Rosselyn deu um passo em direção à abertura da tenda e então parou. Voltando-se, ela olhou de relance entre Davina e a Cigana.
— Ela não deve ir a lugar nenhum. — desviando os olhos de volta para Davina, ela apontou um dedo repreendendo. — Não saia daqui, entendeu? Sua mãe exibiria minha cabeça em uma lança caso você vague por aí sem mim.
A mulher agarrou a mão de Davina e a massageou devagar com suas mãos quentes.
— Não tenha medo, mademoiselle, vou protegê-la com minha vida enquanto tomamos um chá. — conduzindo Davina a um banquinho ao lado do fogo, Rosselyn pareceu contente com o arranjo e correu para a tenda, ansiosa por sua sessão. — Gosta de chá, oui? — a mulher olhou para a palma da mão de Davina. — Eu sou Amice.
— Meu nome é Davina. — ela respondeu em francês.
Como era costume nas cortes escocesas, Davina havia estudado francês, mesmo que a ligação de sua família com a corte fosse distante:
— E sim, eu ficaria muito feliz com uma xícara de chá. — um largo sorriso se espalhou pela boca de Amice enquanto Davina falava a língua nativa da idosa. Davina observou-a enquanto a cigana estudava sua mão, apertando os olhos para as linhas. — O que vê?
Amice encolheu os ombros, esfregou o centro da palma da mão de Davina e sorriu para ela. Olhos jovens fitaram Davina em meio às rugas do tempo em seu rosto.
— Meus olhos estão velhos e não vejo nada. Sua palma será lida, sim?
— Lida? — Davina franziu as sobrancelhas. — É possível ler a palma da mão como se lê um livro?
Amice acenou com a mão em desdém.
— De certo modo, sim.
Ela pediu a Davina, com gentileza, que se sentasse e, antes de sentar-se em seu banquinho, entregou a Davina dois copos de barro. Davina colocou o presente do irmão no colo para liberar as mãos. Amice estendeu a mão para trás e pegou uma pequena cesta. Polvilhando algumas folhas de chá nas xícaras, ela colocou a cesta de lado. Do toco cortado entre elas, que servia de mesa improvisada, Amice pegou um pano pesado para agarrar uma chaleira que estava sobre o fogo. Ela sorriu e despejou água quente nas duas xícaras de chá, enchendo uma apenas pela metade, que pegou para si, e deixando a cheia para Davina. O frio do ar noturno formigou nas bochechas de Davina, e ela segurou a xícara aquecida entre as mãos, soprando o líquido âmbar.
Um rangido soou atrás, e ela se virou para ver uma jovem com cabelos dourados e emaranhados espiando pela porta da carroça cigana. A garota parecia apenas alguns anos mais nova do que os treze de Davina. Davina sorriu e deu um aceno tímido. A garota franziu a testa, mostrou a língua e voltou para dentro. Boquiaberta com o comportamento rude da menina, Davina se virou e fez uma careta para o chá.
Mais da metade de sua xícara já havia sido tomada quando ela notou que Amice não tomara nada ainda, e recolocara a xícara no toco. Antes que Davina pudesse perguntar, Rosselyn saiu da tenda, esfregando a palma da mão e sorrindo.
— Fascinante, milady!
— Minha nossa! Foi rápido! — Davina lançou um olhar de pesar para Amice.
Amice acenou para Rosselyn.
— Venha, preparei uma xícara de chá para você. — inclinando-se, ela pegou a chaleira e encheu a xícara no toco. Com as folhas já maceradas, a água tornou-se uma xícara de chá bem quente.
Que inteligente! Davina pensou.
Enquanto Rosselyn e Amice se apresentavam, Davina deu um último gole no chá, com cuidado para não engolir as folhas soltas, e entregou a xícara a Amice para entrar na tenda. O aroma pungente de incenso flutuou pelo ar, e ela suspirou pelo aroma exótico. A iluminação fraca criara uma atmosfera relaxante. A luz externa lançada pelo fogo formava sombras nas paredes de tecido, criando um ambiente de sonho. Uma mesa estava localizada na outra extremidade com uma banqueta posicionada diante dela. Lâmpadas a óleo em suportes de ferro iluminavam uma cesta em um canto da mesa, e detrás dela não estava sentada outra velha ou cigana enfeitada como Davina esperava, mas o maior homem que ela já havia visto. E tão lindo! Seu coração inexperiente bateu forte dentro de sua figura esganiçada quando o olhar penetrante dele encontrou o dela.
Este gigante fazia todo o ambiente parecer pequeno. Seu peito e braços pareciam dominar o tecido de linho da camisa dele. Uma pequena abertura no colarinho revelava uma massa de pelos ruivos cacheados, tão flamejantes quanto os fios em sua cabeça, impressionante à luz da lamparina. Rubor súbito aqueceu o rosto de Davina ante a mistura de emoções desconhecidas que a percorria com a simples visão dele, e ela estendeu a mão para a aba da tenda, pensando em fugir daquele homem encantador.
— Por favor, moça. — ele disse, a voz profunda e suave, como creme, ele se inclinou, apoiando um cotovelo na mesa e estendeu a outra na direção dela, a mesa rangeu em protesto. — Deixe-me ler sua palma.
Atraída pela voz sedosa e aqueles olhos semicerrados, Davina soltou a aba e sentou-se diante dele.
— Meu nome é Davina. — ela comentou, tentando adiar o contato.
— Uma honra conhecê-la, senhora. Meu nome é Broderick. — ele sorriu, e as entranhas de Davina derreteram como neve na primavera.
— Broderick… — ela sussurrou, saboreando o nome.
Limpando a garganta, ela reuniu suas forças, colocou o presente de Kehr na mesa e estendeu a mão.
— Não há nada a temer, moça. — ele a assegurou, e quando ele tocou sua mão, a ansiedade desapareceu.
Broderick fechou os olhos, deixando a cabeça cair um pouco para trás, o nariz aquilino sombreando uma bochecha cinzelada. Davina se inclinou em direção a ele, atraída por seus traços bonitos e a força que emanava de seu corpo. Ela não pôde deixar de compará-lo a seu irmão Kehr. Nenhum homem que ela já viu conseguia desbancar a visão que seu irmão representava: bonito, espirituoso, charmoso, engraçado, grande em estatura e caráter. No entanto, este gigante cigano era algo para se ver. Ele abriu um breve sorriso, e uma covinha atraente apareceu logo à esquerda de sua boca, induzindo-a a sorrir.
— Tem uma vida feliz, moça. Uma família cheia de amor e carinho. Um lugar especial em seu coração para… Kehr.
Davina arfou.
Como ele sabia o nome do irmão? Ela torceu os lábios.
— Rosselyn contou de meu irmão.
Ele abriu os olhos e sorriu.
— Bem, eu também vi o rapaz na vida dela, mas o que eu disse do seu irmão, aprendi com você. Não acredita em vidência?
Davina pigarreou.
— Não disse nada para me convencer de que é vidente, senhor.
Uma risada retumbou desde o centro do peito dele, e o coração dela bateu forte contra as costelas. As pálpebras fecharam em concentração.
— Mel. Tem uma paixão especial pelo mel. E seu irmão compartilha essa paixão com você. — ele abriu os olhos e balançou a cabeça. — Tsc, tsc, tsc… Ora, moça. Você e Kehr precisam ser mais cautelosos em seus ataques noturnos. Vocês dois se entregarão se comerem tanto de uma vez. Sugiro que reduzam os assaltos para evitar problemas.
Ele piscou.
O rosto de Davina ardeu de vergonha, mas logo deu lugar à admiração. Como ele poderia saber que ela e Kehr escapavam pelos corredores do castelo à noite para assaltar o suprimento de mel?
Broderick se inclinou para frente e sussurrou:
— Não tenha medo, moça. Seu segredo está seguro comigo.
Davina baixou a cabeça, escondendo o sorriso, e depois ficou hipnotizada enquanto o gigante voltava a mão dela para a luz da lamparina e estudava as linhas. Ela deslizou para frente quando uma ruga se formou na testa dele.
— O que vê, senhor?
Seus rostos estavam muito próximos enquanto a voz profunda a advertia.
— Não posso mentir para você, moça. Seria um desastre.
— Um desastre?
— Sim. — os olhos verde-esmeralda dele perfuraram os dela. — Tempos nada agradáveis estão para chegar. Mas não deve perder a fé. Possui muita força. Use essa força e segure com firmeza o que lhe é mais caro, pois é isso que a ajudará a atravessar os tempos difíceis que estão por vir.
— O que está para acontecer, senhor? — ela o pressionou.
— É desconhecido para mim. Não sei os detalhes. As linhas na palma da mão não revelam detalhes mais específicos, apenas dizem que há conflitos em seu futuro. Basta lembrar-se do que falei. Mantenha-se firme em sua força.
Ele levou os lábios à mão dela e beijou os nós dos dedos antes de soltar. Aturdida e boquiaberta, ela olhou para ele, sentia-se enraizada na banqueta. O canto da boca dele se curvou, revelando a covinha, e ela devolveu o sorriso, conseguia ouvir o bater do coração no próprio peito.
Broderick pigarreou e acenou com a cabeça em direção à cesta. Ela sorriu mais ainda, ainda o encarando, e ele acenou com a cabeça em direção à cesta mais uma vez. Retribuiu o aceno, olhou para a cesta e quase se engasgou ao perceber. Ele queria que ela o pagasse! Muito envergonhada por seu comportamento ridículo e deslumbrado, ela se atrapalhou para puxar alguns lingotes da bolsa em sua cintura e os colocou na cesta, correndo para fora da tenda sem olhar para trás.
Davina parou perto da entrada, recuperando o fôlego e desejando que seu rosto parasse de queimar. Engolindo em seco, ela se virou para a cigana.
— Obrigada por sentar-se com Rosselyn, Amice.
Colocando mais moedas na mão da mulher, Davina deu um sorriso inquieto enquanto Rosselyn entregava a xícara de chá vazia a Amice. Agarrando a mão de Rosselyn, Davina arrastou a criada para longe, tentando deixar o constrangimento de lado.
— Senhora, o que a incomoda? — Rosselyn parou Davina, agarrando-a pelos ombros e confrontando-a.
As palavras saíram da boca de Davina depressa enquanto ela agitava as mãos como um pássaro ferido.
— Ora, eu agi como uma paspalha! Fiquei sentada olhando para ele como uma corça. Ele era tão bonito, Rosselyn! Meu coração não para de bater no meu peito! O que me atormenta? — Davina abanou o rosto em uma tentativa fracassada de esfriar a queimação em seu rosto.
Rosselyn riu e abraçou Davina.
— Minha querida Davina, acredito que o cigano roubou seu coração!
Davina tapou a boca com as mãos.
— Pelos santos! Deixei o presente do meu irmão na mesa!
Aprumando-se na medida do possível, Rosselyn voltou para a tenda do vidente.
— Venha, então. Vamos voltar e buscá-lo.
Davina puxou a mão de Rosselyn com toda a força, puxando a amiga de volta.
— Não! Não posso voltar a encará-lo. Eu vou, com certeza, morrer de… de…
Rosselyn esfregou os ombros de Davina como se para confortá-la.
— Não se preocupe! Busco para você. Venha comigo e fique atrás da carroça para que ele não a veja.
Elas se arrastaram pelo canto e olharam o entorno da carroça do quiromante. Amice parecia estudar as xícaras de chá, inclinando-as para frente e para trás. Broderick saiu da tenda, e Davina agarrou Rosselyn, puxando-a de volta para fora de vista.
— O que está fazendo, Amice? — o som da voz dele, grossa, fez os joelhos de Davina cederem, e ela se atreveu a espiar ao redor da carroça com Rosselyn.
— Uma pequena leitura das folhas de chá. — disse ela em francês, mantendo os olhos fixos nas folhas.
Rosselyn se virou para Davina e deu de ombros, pois Rosselyn não falava francês. Davina indicou que contaria a ela mais tarde e trocou de lugar com Rosselyn para ouvir melhor a conversa.
— Das duas jovens? — ele perguntou.
— Sim. — Amice sorriu. — O coração dela é seu e para sempre, meu filho.
O gigante ergueu a sobrancelha com curiosidade.
— De quem?
— Da doce Davina. — disse Amice, agitando uma das xícaras no ar enquanto olhava para a outra.
Davina quase desmaiou com as batidas rápidas de seu coração.
— Bobagem, a menina não vai se lembrar de mim quando estiver em idade de arrumar marido. — ele riu. — No entanto, a clara admiração dela, por mim, foi muito lisonjeira. Ela é bonita agora, mas será ela quem vai roubar corações quando chegar à idade adulta.
Ele me acha bonita! Ele me acha bonita!
Davina gastou toda sua energia para não saltitar como uma pulga. Ela mordeu o dedo indicador para silenciar uma risadinha inebriante.
— Ela é que vai roubar seu coração, meu filho. — Amice entregou a xícara, e Davina abriu a boca com admiração.
Ele olhou para dentro da xícara, franziu a testa e a devolveu a Amice. Dando de ombros, ele sorriu e entregou o embrulho com o presente de Kehr.
— Bem, já que ela vai voltar e ser meu verdadeiro amor, dê isso a ela. — Amice por fim parou de olhar o fundo da xícara e se atentou ao pacote. — Ela saiu com tanta pressa que deixou esse fardel na tenda. — Balançando a cabeça, ele se virou e voltou para a tenda. Amice continuou sorrindo, lendo as folhas de chá.
Davina agarrou-se à lateral da carroça, a boca ainda aberta.
Vendo Broderick desaparecer, Rosselyn deu um passo à frente, pediu desculpas rápidas e recuperou a adaga, conduzindo Davina para longe da carroça, ela só falou quando notou estarem fora do alcance de ouvidos alheios.
— O que eles disseram? Você parecia prestes a desmaiar!
Davina cambaleou para a frente como se estivesse em transe, a boca aberta e o corpo dormente. O mais leve sorriso apareceu em seus lábios.
Capítulo Dois
Stewart Glen, Escócia — Verão de 1513 — Oito anos depois
— Imploro que perdoe meu filho, Parlan.
Davina Stewart-Russell parou ao som da voz do sogro e ficou perto da porta que estava prestes a atravessar, da sala de estar da casa de sua infância. O rápido olhar que lançou no cômodo, antes que recuasse para se esconder, proporcionou o momento que ela precisava para ver a cena. Seu pai, Parlan, estava diante da lareira de pedra construída com as rochas irregulares da região, os braços cruzados e as costas para a sala. Munro, o sogro, estava ao lado direito da lareira, as mãos cruzadas e apoiadas no punho da espada, falava com o pai dela. Seu marido, Ian, estava mais para trás, entre os dois homens, a cabeça baixa e os ombros curvados em uma posição nada característica de submissão. Todos estavam de costas para Davina, então não a viram se aproximando nem a retirada apressada. Ainda detrás da porta, protegida pela madeira entreaberta, ela espiou por entre as dobradiças.
Munro continuava sua petição em nome do filho, falava como se Ian não estivesse presente.
— Como discutimos por um longo tempo, o montante de responsabilidade não é bom para Ian. Agradeço sua paciência e disposição de trabalhar comigo para ele se estabelecer no papel de marido e pai.
— Não farei esforços para apresentá-lo a nenhum contato real até que Ian mostre sinais de amadurecimento. — Parlan se virou para Munro e cruzou os braços, uma posição que Davina conhecia tão bem e mostrava a solidez quanto ao assunto. — E você faria bem em fechar os cofres para ele. Como sabe, ele já gastou todo o dote de Davina.
— Sim, Parlan. Eu…
— Pai, por favor! — Ian protestou.
— Segure essa língua, rapaz, ou eu a cortarei! — Munro olhou para Ian até que a cabeça do mais jovem se curvasse.
O coração disparado de Davina a deixou sem fôlego pelo medo de ser descoberta e devido a rara demonstração de tamanha subserviência do marido. Davina quase desmaiou com a mistura de empolgação e apreensão que a invadiu. Quantas vezes o marido a fez se sentir da mesma maneira? Quantas vezes ele a silenciou com uma mão pesada? Ver Ian sujeito a outra autoridade a fez querer pular de alegria. No entanto, seus membros tremiam ante a ideia de Ian descobri-la testemunhando este momento e vangloriar-se, em privado, ao discipliná-la. Ela lutou para permanecer em uma audiência silenciosa.
A testa de Parlan se enrugou, pensativa, enquanto estudava Ian e Munro. Quando Munro pareceu satisfeito com o silêncio do filho, ele voltou-se para Parlan.
— Temo que você esteja certo, Parlan. Eu esperava que ele restringisse os próprios gastos e gostaria de poder dizer para onde o dinheiro está indo… — ele olhou para o filho. — Contudo, concordo com o curso de ação sugerido.
— Pai, eu tentei! — Ian contestou. — Não provei ser um marido melhor?
Munro deu um passo à frente e deu um tapa no rapaz, fazendo com que a cabeça de Ian tombasse para o lado, espirrando sangue no chão de pedra. Uma medida de culpa pulsou na consciência de Davina por gostar da situação do marido. Ao mesmo tempo, ela ponderou o significado por trás de “um marido melhor”. Em verdade, Ian tornara-se ainda mais brutal nos últimos quatro anos e pouco. Ele acreditava que disciplinar a esposa com mais severidade era o que o tornava um bom marido? Munro ergueu o punho, e Ian se preparou para outro golpe.
— Chega! — Parlan gritou. — Agora posso ver onde seu filho aprendeu técnicas de disciplina.
Munro se ergueu, esticando o peito em desafio.
— Disciplina severa é a única maneira de ele entender, Parlan. Confie em mim.
— Talvez, pois não conheço seu filho o suficiente, mas conheço Davina, e essa forma de punição não é necessária com ela. Embora possa ser bastante dramática, ela é uma mulher razoável e uma conversa basta. Sei que um homem tem o direito de fazer o que quiser com a esposa, e algumas mulheres precisam ser disciplinadas com um elemento de força, mas minha filha não.
Davina lutou para continuar a enxergar através das lágrimas que inundavam seus olhos ante a defesa do pai. Ela não sabia que seu pai sabia. O orgulho e um alívio maior em seu peito decerto a fariam explodir!
— Firmamos esse contrato de casamento para benefícios mútuos. — continuou Parlan. — Como sou primo de segundo grau do Rei James, você conseguiu conexões valiosas. Os Russell têm riqueza para investimentos e oportunidades de negócios para mim e meu filho, Kehr. — ele deu um passo em direção a Munro, ameaça em seus olhos e a voz quase em um sussurro, e Davina se esforçou para ouvi-lo. — No entanto, não aceitei brutalidade com a minha filha como parte da troca.
Munro voltou a olhar para o filho.
— Mais uma vez, Parlan, devo implorar que perdoe meu filho. — ele se virou para o pai dela, mais arrependido. — E imploro que me perdoe por tudo o que eu possa ter feito para contribuir para o zelo excessivo de meu filho como marido.
Um arrepio percorreu Davina.
Embora Munro possa ter soado sincero, e a expressão de aceitação no rosto de seu pai indicava que ele acreditava no homem, o mesmo tom de humildade fingida vinha de Ian com frequência. No entanto, essa humildade sempre se provou ser um baile de máscaras elaborado. Até mesmo as palavras indicavam que ele não se considerava culpado de nada: “O que quer eu tenha feito…” Nos quatorze meses que Davina e Ian estiveram casados, ela notou esses sinais velados destinados a atrair simpatia e rendição, mas que, na verdade, indicavam a verdade por trás da fachada.
Munro voltou os olhos penetrantes para Ian enquanto falava.
— Para mostrar meus esforços em consertar a situação, Parlan, eu farei como sugere e fecharei meus cofres para meu filho.
Um sabor sutil de satisfação presunçosa tocou as feições de Munro enquanto ele mantinha esta posição de poder quanto ao filho. Davina reconheceu com facilidade o corpo de Ian tremendo de raiva oculta, os punhos cerrados atrás das costas. Um terror agourento fluiu através dela, como a água gelada de uma corrente de inverno levando-a para baixo em sua escuridão tenebrosa. Ela com certeza seria o alvo da frustração dele, assim que estivessem sozinhos e voltassem para mansão fria somente deles.
Mantenha essa imagem de força, Davina entoou para si, como já fizera inúmeras vezes antes, sendo a voz e o rosto de Broderick essa força. Sempre que a tristeza ou o desespero ameaçavam consumi-la e deixá-la louca, ela se concentrava naqueles cabelos ruivos e flamejantes, em seu peito largo e nos braços fortes, envolvendo-a em um casulo de segurança, os lábios cheios pressionando um beijo reconfortante na testa dela. Broderick nunca a trataria como Ian, e ela encontrou refúgio na fantasia de ser a esposa do cigano. Naquele mundo, naquele reino de fantasia, Ian não poderia tocá-la, quebrar seu espírito, nem destruir seu orgulho.
Girando nos calcanhares, Munro encarou Parlan mais uma vez e deu um breve aceno de cabeça que chamou a atenção de Davina.
— Um conselho muito sábio, de fato, e estou envergonhado de não ter pensado nisso.
— Responsabilidade envolve mais do que a gestão das finanças, Ian. — Parlan estava diante do genro, olhando carrancudo para o topo da cabeça baixa do rapaz. — Davina é de bom coração, tem uma alma amorosa…
— Mais um motivo para eu estar muito feliz com a união. — interrompeu Munro, ficando ao lado de Ian. — Ela é a doce mão que vai acalmar a besta que vive dentro de meu filho. Tenho certeza de que você viu sabedoria nisso, por isso concordou com a união. Davina terá sucesso em tornar meu filho um marido e pai amoroso.
O rosto de Parlan ficou sombrio, e se aproximou dos dois homens. Estudando-os, seus olhos pousaram em Ian, que encontrou seu olhar.
— É difícil se tornar pai, Ian, quando se espanca aquela que vai carregar seus filhos.
Davina usou a manga do vestido para segurar as lágrimas de alegria. A solidão havia sido sua única companhia sob as mãos brutais do marido, e o filho que ela perdeu foi uma dor mais triste do que ela poderia suportar. Ela não fazia ideia de que o pai sabia do que ela sofrera. Ian a ameaçava repetidas vezes, dizendo que só cumpria o dever de um marido disciplinando uma esposa indisciplinada, que se ela dissesse algo a alguém acerca da constante correção merecida, ela se arrependeria. Depois que lutar contra ele provou trazer mais de seu lado dominante à tona, ela começou a acreditar ser a culpada, e que sim, ela mesma atraía a ira dele para cima dela. Afinal, muitas de suas primas falaram sobre a disciplina que todas as mulheres devem suportar nas mãos dos maridos, até mesmo os métodos cruéis que alguns escolhiam para levá-las para a cama. Por que sua situação deveria ser diferente?
Os humores inconsistentes de Ian a deixavam cautelosa o tempo todo. Em um momento ele demonstrava atenção amorosa, sussurrava promessas; e, no seguinte, a culpava por qualquer razão que o fizesse perder o bom humor. A mente dela girava com a torrente de várias acusações e razões para as mudanças de humor dele. Às vezes, Davina mal conseguia distinguir altos e baixos, e todas as racionalizações eram insuficientes para o caos de suas circunstâncias. Ao ver seu pai vir em sua defesa e saber que ele enxergava a verdade, ela agarrou-se à parede para firmar as pernas, dobrando-se de puro alívio.
Ela não estava louca! Não era culpada!
— Segure seu dinheiro, então, Munro, até que Ian possa provar ser mais gentil com Davina, ela voltará para minha casa, e aqui o cortejo recomeçará.
Ian virou a cabeça na direção do pai, e Munro deixou a boca se abrir.
— Agora, Parlan, creio que está indo longe demais. Não há necessidade de incomodar Davina a ponto de trazê-la de volta para cá, para suportar a instabilidade de uma vida doméstica inconstante.
— Uma vida doméstica segura e amorosa é melhor do que as duras penas que ela suportou sob seu teto. Vou providenciar para que os pertences dela sejam trazidos de volta agora mesmo. — Parlan estreitou os olhos na direção de Ian. — Se quer ter acesso à coroa, rapaz, é melhor provar ser um marido amoroso, digno dos meus futuros netos.
Davina lutou para acalmar as batidas fortes de seu coração que agora estava em total descompasso. Ela voltaria para casa!
— Parlan. — Munro colocou uma mão reconfortante no ombro do pai dela. — Posso garantir que Davina estará segura sob meu teto. Agora que estou ciente da situação…
— Os maus tratos estavam ocorrendo sob o seu nariz, e você não foi capaz de enxergar! — Parlan rugiu.
Munro baixou a cabeça, recuando e assentindo.
— Está certo, Parlan. Não posso expressar o pesar de minha ignorância pela dor que causei a sua preciosa filha. Hoje vejo Davina como a filha que sempre quis, e lamento que minha esposa não tenha vivido para conhecê-la. — Munro se virou e iniciou uma passada acelerada, um vai-e-vem, as mãos atrás das costas, uma visão de arrependimento. — Creio que se Ian tivesse a influência amorosa de minha esposa, ele poderia ter aprendido a ser um marido mais gentil. Temo que minha atenção a questões de propriedade e riquezas tenha me dado pouco tempo com ele, então falhei em meu dever de ensinar certas coisas. — voltando os olhos tristes para Parlan, Munro defendeu seu caso. — Entendo sua decisão, e se deseja mantê-la, não lutarei com você. No entanto, imploro que me dê a chance de consertar isso. Meus olhos estão abertos, e eu serei o protetor de Davina. Vou manter Ian sob controle.
Davina esperou, a respiração presa no peito, enquanto ousava ter esperanças na segurança que seu pai oferecia. Os momentos se prolongaram por uma infinidade de tempo enquanto ela observava Parlan considerar as palavras de Munro.