Kitabı oku: «Conquista Da Meia-Noite», sayfa 4

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Munro o seguiu, mostrando uma carranca para ela ao sair.

Davina ficou perplexa com os olhares acusatórios de sua família. Parlan suspirou e marchou até a lareira, virando de costas para ela. Lilias soluçou no lenço que puxou da manga. Kehr deu um passo à frente, as sobrancelhas baixas.

— Davina, é hora de deixar de lado o amante cigano de seus sonhos. Nenhum homem, muito menos você Ian, será capaz de fazer jus a essa fantasia, jamais. Está na hora de crescer.

Parlan se virou com expressões fluidas que alternavam entre confusão e raiva. Davina quase se engasgou com o nó que se formou na garganta. Até seu amado Kehr a traía, pensava que ela estava louca! Correndo da sala, ela voltou para os estábulos. Puxando Heather da baia, Davina montou e disparou pelo terreno, saiu pelo portão da frente, para longe da loucura. Suas bochechas, molhadas de lágrimas, ficaram frias quando o vento soprou e emaranhou seus cabelos. Em uma clareira onde costuma conseguir encontrar a solidão, ela puxou as rédeas de Heather e saltou, caindo no chão coberto das folhas do outono passado, úmidas do orvalho da noite.

Ajoelhada no meio da floresta enluarada, Davina soluçava nas folhas. Quão certo estava seu amante cigano dos sonhos! A desgraça que Broderick previu para a vida dela quando ela era uma menina agora a dominava. E por que razão isso estava acontecendo? Ela só queria continuar a vida feliz que vivia antes de conhecer Ian. Por que Deus a uniu a este louco que se regozijava com a manipulação e o controle? Ela só queria uma família e alguém para amar. Com um impulso para se levantar, ela colocou as mãos trêmulas na barriga. Perder o primeiro filho provocara uma grande tristeza em seu ser, contudo, no fim não foi melhor ter perdido a criança? Davina não suportava ver sua própria carne e seu sangue obrigados a se submeter ao mesmo destino que ela, a esse frenesi que suportava. Curvando os joelhos contra o peito, ela puxou as pernas para perto, abraçando o bebê que se aninhava dentro dela. Ela perdera dois cursos mensais: um antes da punição de Ian e este último mês, portanto, engravidara antes que ela e Ian fossem colocados em quartos separados. O que aconteceria então a este bebê se a vissem como uma lunática? Balançando-se para frente e para trás, a testa apoiada nos joelhos, ela deixou o rio de lágrimas fluir.

A dobra de seu braço tocou a adaga que carregava na bota. Ela prendeu a respiração, congelada por uma ideia que tocou sua mente. Subindo a bainha do vestido, ela puxou a arma do esconderijo e sentou-se sobre os calcanhares. Seu coração guerreava devido a tal decisão.

Sou louca, mas que outra escolha me resta?

Ela apertou as mãos em torno do cabo da adaga, a ponta da lâmina posicionada na pele, na direção do coração. Com os nós dos dedos brancos e trêmulos, as mãos latejavam de dor. Se ela agarrava a faca por medo ou por força, não estava claro. Uma brisa suave tocou suas bochechas manchadas de lágrimas, esfriando a carne no ar da noite. Não queria chegar a este ponto, tirar a própria vida e a vida de seu filho ainda por nascer… mas como ela poderia enfrentar a loucura que os esperava? Como poderia enfrentar a traição da própria família? Ou era apenas uma desculpa covarde?

Ela soltou um grito de frustração e cravou a lâmina na terra úmida e macia, caindo no chão. Seu corpo se debatia com soluços e o cheiro de terra se misturava às folhas velhas e podres, como uma sepultura.

— Tão perto. — ela choramingou. — Tão perto de ser uma viúva. Tão perto da liberdade. Devido a uma decisão do rei, todas as esperanças dela se despedaçaram como pingentes de estalactites contra pedra. Até mesmo este membro de sua família, seu primo de sangue Real, a traiu. A aparição de James parecia ter sido enviada apenas a ela, apenas para atormentar sua existência. Davina soluçou mais forte enquanto a desesperança a engolfava.

Heather bateu com os cascos e sacudiu a cabeça. Davina lançou um olhar ao redor da floresta escura em busca da fonte da agitação do animal. Ela se sentiu revirar de medo.

Meu Deus! Haviam ido atrás dela?

Ela empalideceu.

Ian poderia tê-la perseguido… sozinho.

Exceto pelo leve farfalhar das árvores ao vento, apenas o silêncio sepulcral a rodeava. Ela perscrutou o terreno, mas não viu nada. Após mais um momento de silêncio, ela deu um suspiro hesitante e o alívio a banhou. Ninguém vinha com cavalos para agarrá-la e levá-la de volta. Davina pôs-se de pé, enxugou o nariz, e rastejou em direção à montaria, ainda olhando ao redor.

— Calma, calma. — ela apaziguou a égua com a mão estendida.

Antes que pudesse colocar os dedos no flanco de Heather, uma força invisível tirou o ar de seus pulmões, e ela bateu com a cabeça no chão. O rosto de Davina foi empurrado para as folhas, a cabeça latejando, e alguém esmagou seu corpo. Incapaz de respirar ou pensar, ela lutou para forçar o ar de volta aos pulmões quando o pânico se instalou.

— Relaxe, moça. — uma voz profunda sussurrou em seu ouvido. — Sua respiração voltará em um momento.

Em um giro, seu agressor a colocou de pé e a virou para encará-lo, as mãos dele apertavam os hematomas nos braços dela, feitos por Ian quando ele a segurou contra a parede dos estábulos. Com a visão turva e a mente ainda cambaleando com o encontro, ela conseguiu se equilibrar, e logo o ar da noite de verão encheu seus pulmões mais uma vez. Ela respirou em lufadas famintas.

— Aí está, moça.

Medo sacudiu seu corpo, e ela lutou com o homem que a mantinha presa contra ele. Um brilho como prata derretida nas pupilas dos olhos dele a atraiu para suas profundezas, e ela se acalmou. Uma onda de curiosidade e confusão a inundou quando o olhar dela pousou no rosto familiar, aquele nariz aquilino, aqueles olhos verde-esmeralda, os cabelos vermelho-fogo. Seu Broderick havia, por fim, voltado para resgatá-la? Ela empurrou o peito dele para ganhar alguma distância de seu rosto e ter uma melhor visão dele.

Não. Este rosto parecia mais jovem, a mandíbula não era tão larga, as maçãs do rosto não eram tão cinzeladas.

Eu perdi a cabeça!

Ela deveria estar apavorada a ponto de perder os sentidos nos braços de seu agressor, mas ainda assim se perguntava se ele era o homem por quem ansiava desde a juventude.

O perigo nos olhos dele se transformou em confusão quando o estranho escuro examinou o rosto dela. Agarrando-a pelos cabelos, ele puxou a cabeça dela para trás. Um grito escapou de seus lábios quando ele puxou o cabelo contra o caroço em sua cabeça. Ela foi forçada a ficar boquiaberta para o céu negro e a lua cheia acima. Ela prendeu a respiração quando a boca dele se fechou em sua garganta, e dentes afiados perfuraram a pele tenra. Uma breve dor… então um inesperado fluxo quente de prazer fluiu por suas veias, e ela desabou contra ele com um gemido, caindo em euforia.

Este homem — esta criatura — sondou sua mente, uma invasão sedutora em seus pensamentos, enquanto bebia, ele descobriu tudo que poderia ser desvendado. Em poucos instantes, ela reviveu os prazeres da infância, as frustrações da juventude e as fantasias com o amante cigano em seus sonhos. Essas memórias distantes de Broderick vieram correndo e a cercaram… o aroma exótico do incenso, a presença inebriante do calor dele, a vibração que sentiu por dentro ao vê-lo.

Davina reviveu a noite em que conheceu Broderick.

— O que vê, senhor?

Seus rostos estavam muito próximos enquanto a voz profunda a advertia.

— Não posso mentir para você, moça. Seria um desastre.

— Um desastre?

— Sim. — aqueles olhos cor de esmeralda perfuraram os dela. — Tempos nada agradáveis estão para chegar. Mas não deve perder a fé. Você possui muita força. Use essa força e segure com firmeza o que lhe é mais caro, pois é isso que a ajudará a atravessar os tempos difíceis que estão por vir.

— O que está para acontecer, senhor? — ela o pressionou.

— É desconhecido para mim. Não sei os detalhes. As linhas na palma da mão não revelam detalhes mais específicos, apenas dizem que há conflitos em seu futuro. Basta lembrar o que falei. Mantenha-se firme em sua força.

O resto das memórias dela que levaram a este momento no tempo, aceleraram e a trouxeram de volta ao desespero que ela experimentara hoje.

Até agora. Deixe esse estranho beber a vida que flui pelo meu corpo. Deixe-o fazer o que não consigo fazer. Enfim terei paz e morrerei nos braços do homem que imagino, no momento, ser aquele que amo. Nos segundos desde o momento em que ele agarrou a garganta dela até este instante, serenidade a envolveu.

O estranho se separou dela e a jogou no chão. O pescoço de Davina latejava. Sua cabeça se agitou com as memórias rápidas que giravam em sua mente, exibindo sua própria vida como uma peça mal interpretada.

Examinando a imagem nebulosa dele começando a clarear, ela o viu inclinar a cabeça para trás e rir como um louco.

— Após duas décadas de procura, eu enfim encontrei o que queria! — ele se ajoelhou diante dela e envolveu o rosto dela com as palmas das mãos. — Deus não vê bem a minha espécie, então só posso dar crédito ao próprio Lorde das Trevas por me trazer tal prêmio! — ele respirou fundo, o sorriso crescendo. — Tão doce quanto o seu sangue é você, minha querida senhora. — o homem lambeu o sangue dos lábios. — Eu a deixarei com sua vida trágica.

O brilho de prata derretida desapareceu dos olhos dele.

As perguntas girando em sua mente desapareceram no desespero familiar movendo-se por ela e agarrando seu coração. Que jogos distorcidos os destinos estavam jogando com ela? Por que reviver todos aqueles momentos, com a Morte tão perto em seus braços, apenas para ter sua chance de liberdade arrancada dela. Ela estendeu a mão para ele, mas a fraqueza dominou seu corpo.

— Não. — ela tentou dizer mesmo com o nó em sua garganta, sufocando as lágrimas ardendo em seus olhos. — Não pode me deixar assim. Por favor… termine.

Ele passou um dedo sob o queixo dela.

— Tudo ficará bem.

Ele colocou a palma da mão na testa dela, e a mente de Davina se tornou uma névoa. Tudo ficou preto.

* * * * *

Estrelas borrifavam o céu acima com a lua no alto. Davina sentou-se, a cabeça girando e tocou o caroço latejante na parte de trás do crânio.

— Graças a Deus! — uma voz de homem, grave, exclamou. Uma figura nebulosa ajoelhou-se ao lado dela, e ela lutou para clarear a visão e tentar identificá-lo. — Em que estava pensando?

Ela franziu as sobrancelhas em confusão, sua mente uma bagunça sem fim.

— O quê…?

— Peço desculpas. Posso ter sido um pouco zeloso ao tentar salvá-la de você mesma. — quando ela tentou se levantar, as mãos quentes dele em seus ombros a empurraram de volta para baixo. — Acredito que precisa ficar sentada por mais um momento. Sabe onde está?

Davina esquadrinhou a área, o mundo aparecendo.

Ela estava sentada no meio da floresta, na clareira que costumava buscar para ficar sozinha. Heather estava parada a certa distância, mordiscando algumas folhas de um arbusto. Por que ela estava aqui? Olhando para as mãos trêmulas, esperava encontrar as respostas. Seus olhos vagaram, e na mão do estranho, ela reconheceu a própria adaga. Ela viu o estranho, os olhos verde-esmeralda cheios de preocupação na luz prateada da lua. Quão familiar ele parecia. A respiração dela ficou presa na garganta. Muito parecido com amante cigano dos sonhos dele, mas não como ele.

— Você se lembra… — ele disse balançando a cabeça. — Tem muita sorte de eu ter vindo, senhora. O que a possuiria para tirar a própria vida, só Deus saberá, mas pelo bem de sua alma, espero que não tente repetir essa tarefa medonha.

— Senhor, por favor. — ela colocou uma das mãos no braço dele, implorando. — O que aconteceu?

— Ora, pensei que você se lembrava. — ele limpou a garganta. — Estava prestes a tirar a própria vida, e eu a impedi. No processo, você bateu com a cabeça. Espero que possa me perdoar. — ele revirou os olhos e murmurou: — Eu poderia ter terminado o processo por você dada a minha falta de jeito.

— Não gostaria de ser portadora de más notícias, senhor, mas eu gostaria que você tivesse terminado o que eu estava fazendo.

— Bobagem! — ele inspirou e pareceu ganhar controle da própria explosão. — Por que acha que estou aqui, jovem senhorita?

— Não tenho certeza se entendi o que quer dizer, senhor.

— Ousarei dizê-lo, por mais loucura que minhas palavras pareçam. — ele segurou as mãos dela e a olhou fixamente nos olhos. — Não foi por acaso que vaguei por esta floresta esta noite. Digo isso após ter salvado sua vida, mas duvidei da minha sanidade no início. Eu estava passando por sua humilde cidadezinha lá embaixo e essa floresta me chamava. Uma mensagem veio à minha mente enquanto eu procurava, sem saber o que procurava. A mensagem dizia: “Deve dizer que ele voltará, que a salvará. Deve insistir para não perder a esperança e se apegar a essa visão de força.”.

Davina arfou.

— Sabe o que isso significa?

Ela assentiu.

— Bom, porque eu decerto não sei. — o canto da bela boca dele se ergueu quando ela não deu nenhuma explicação. — Bem, não importa. Estou feliz por não estar maluco, afinal.

— Eu também, senhor. — respondeu ela com admiração e uma nova esperança floresceu no peito de Davina. — Agradeço ao Senhor que você O estava ouvindo esta noite. Obrigada por me impedir.

Ela resistiu ao impulso de abraçar o estranho sombrio, que se tornou seu salvador e mensageiro na forma do homem que ela amava, e em vez disso beijou os nós dos dedos em gratidão.

— Bem, isso é mais recompensa do que já recebi e poderia ter esperado.

Ele a ajudou a se levantar, sem soltar sua mão até que ela provasse estar bem de pé e garantisse que ela era capaz de cavalgar. Assim que ela montou em Heather, ele estendeu a adaga para ela, oferecendo-lhe o cabo. Quando ela estendeu a mão para pegá-lo, ele a puxou de volta.

— Entrego isto com muita hesitação, querida senhora. Promete que nunca mais terá esta lâmina apontada para o seu coração?

— Sim, senhor, eu prometo. — ele devolveu a adaga, e ela a enfiou na bota. — A mensagem que me entregou me deu uma razão para viver.

— É um grande alívio. — ele deu um tapinha no joelho dela. — Pode cavalgar de volta por conta própria, não é?

Ela assentiu e seu rosto ficou vermelho de vergonha.

— Sim, tenho certeza de que minha família não sabia de minhas intenções quando parti em tal torpor. Ter que explicar como você me salvou de mim mesma nos colocaria em uma posição estranha.

— Com certeza. Por mais que eu queira acompanhá-la de volta, tenho outros assuntos urgentes. Espero por além há bastante tempo, e creio que não terei que esperar mais. Você também me deu um sinal, minha cara senhora. No entanto, tenho certeza de que voltaremos a nos ver. — ele deu alguns passos para trás e acenou antes de se virar para ir embora. — Boa noite, bela senhora!

— Ora, senhor. Qual é o nome do meu salvador para que eu possa incluí-lo em minhas orações?

— Angus! — ele gritou sem perder um passo.

Capítulo Três

Stewart Glen, Escócia — Final do outono, 1514 — 15 meses depois

— Me deixe em paz! Não me toque! — Davina lutava com as mãos que a prendiam.

— Davina. Davina.

A suavidade da voz a fez parar, e ela se afastou, incerta de seu entorno.

— Sou eu, Davina, sua mãe! — Lilias acendeu uma vela de sebo e subiu na cama ao lado da filha. Envolvendo Davina em braços reconfortantes e balançando-se para a frente e para trás, ela a silenciou. — Está tudo bem. Ele está morto. Lembra-se? Faz muito tempo que ele está no túmulo, querida.

— Sim, Ma. — ela suspirou e deixou a mãe enxugar a testa suada. — Cailin?

— Cailin está bem. — a mãe a assegurou. — Myrna está cuidando dela. Fique tranquila, Davina. — Lilias suspirou e continuou a embalar a filha.

Já faz muitas semanas que um pesadelo específico a incomodava.

Davina concordou com a cabeça.

Seu marido Ian estava morto há mais de um ano, e os pesadelos ainda a atormentavam. Entretanto, ela teve a impressão de que estavam se esparsando nos últimos tempos, ela estava esperançosa.

Tanta coisa aconteceu desde a noite em que ela tentou tirar a própria vida. O tempo passou tão rápido que parecia ter desaparecido. No entanto, enquanto ela esperava o retorno de Broderick com paciência, como o estranho sombrio, Angus, prometera; o tempo parecia se estender para a eternidade. Embora Ian tenha ganhado espaço com sua família, uma longa e sincera conversa com eles aliviou a tensão e deram a Davina o benefício de observar Ian mais de perto. Os hematomas que ela ganhou pelo aperto ríspido detrás dos estábulos ajudaram-na. E mesmo que ela tivesse coragem de mostrar as cicatrizes dos espancamentos anteriores e que ainda carregava, dissolver a união não era mais uma opção. Davina contou da gravidez e, embora a recém-descoberta condição tenha dado mais motivos aos seus familiares para manter Ian longe dela durante a observação, solidificou o casamento.

Felizmente, tal evidência traiu a verdadeira natureza de Ian, mas antes de prosseguir com qualquer outra medida disciplinar, o rei James mudou de ideia, e declarou guerra à Inglaterra. Antes que os homens fossem chamados às armas, Ian tentou escapar, tirando o máximo que podia da propriedade do próprio pai para se sustentar, mas Munro e Parlan o interceptaram. Eles o mantiveram trancado à chave até a hora de partir, com a ameaça de traição pairando sobre a cabeça dele, caso tentasse escapar mais uma vez. Na véspera da partida, Ian jurou que voltaria, e que Davina desejaria nunca ter nascido. Kehr jurou a Davina, em sua despedida particular, que Ian não voltaria.

Em 9 de setembro de 1513, a Batalha de Flodden devastou os conterrâneos da Escócia — até mesmo ceifando o bravo rei — e deixou uma massa de mulheres com o coração partido em seu rastro, inclusive Davina e sua mãe. A guerra arrastou não apenas o marido dela para o campo de batalha, mas também seu irmão Kehr e seu pai Parlan, provando ser uma vitória agridoce. Fiel à palavra de Kehr, Ian não voltou. A morte dele a libertou, mas o custo foi perder o amado irmão e o pai. Tio Tammus, tendo sido um dos poucos que sobreviveram, voltou para casa, trazendo os corpos de Parlan e Kehr com ele. Entre tantos outros no massacre, o corpo de Ian não foi encontrado, tão grande foi a perda. Enterraram Kehr e Parlan em suas terras, e vê-los descendendo à terra fria colocou um fim em suas vidas. No entanto, com a morte de Ian, o bebê dentro dela, em três meses, teria a chance de viver uma vida pacífica.

Munro também encontrou um fim na batalha, deixando para Davina sua propriedade e fundos como herança. Ela não suportaria voltar para o lugar onde Ian a aterrorizou, então voltou para a casa dos pais. Com aquele capítulo encerrado em sua vida, novas responsabilidades a aguardavam, ajudando a mãe a cuidar de Stewart Glen. Além disso, Tammus assumiu o papel de guardião delas, passando metade do tempo em Stewart Glen e a outra metade em suas propriedades. Como o filho dele morrera em batalha, e a esposa morrera no parto, Tammus deu boas-vindas às responsabilidades familiares.

Então, se seu tormento acabou, se Ian estava morto e há muito tempo na sepultura, como sua mãe disse… por que ele ainda assombrava seus sonhos? Por que ela não conseguia se livrar deste medo pelo retorno dele? Talvez os pesadelos viessem do fato de nunca terem encontrado seu corpo e da ameaça suspensa de Ian. Talvez ela só precisasse perdoá-lo e, assim, liberar seu ódio.

Myrna entrou no cômodo, embalando o bebê choroso.

— Ela quer você, Senhora Davina.

Davina podia sentir o leite em seus seios jorrar e escorrer pelo vestido ao som do clamor da filha, e estremeceu de desconforto. Ela estendeu a mão e pegou a menina de oito meses que a criada de sua mãe trazia.

— Sim, preciosa. — ela murmurou, e acalmou o bebê com beijos e carícias em seu rosto minúsculo. — Obrigada, Myrna.

Davina notou quanto peso Myrna perdera no último ano, a morte de Parlan e Kehr pareceu cobrar um preço árduo dela também. Davina se voltou para a mãe:

— Eu vou ficar bem, Ma. Cailin pode ficar comigo o resto da noite.

Lilias deu um beijo na testa de mãe e filha e as deixou sozinhas à luz de velas, Myrna saiu logo atrás. O brilho da chama tremeluzia e dançava no silêncio, lançando uma luz suave no rosto de seu bebê. Os lábios de Davina tocaram o rosto de Cailin, e ela enxugou as lágrimas. Ter a filha nos braços tornava os pesadelos tão fáceis de se esquecer. Encaixando a filha ao lado do corpo, ela abriu o vestido úmido, e a boca ansiosa fechou em torno de seu mamilo. Cailin parou de chorar e deu baforadas leves e quentes contra a pele de Davina.

Davina estudou a criança que amamentava: o nariz minúsculo, cílios suaves nas bochechas rechonchudas, cabelos cor de canela, grossos e cacheados rodeavam seu rosto angelical. Enterrando o rosto nos cachos sedosos da filha, Davina derramou lágrimas silenciosas nos cabelos felpudos de Cailin.

— Uma benção saída de uma maldição. — sussurrou.

Ela jurou, como fez centenas de vezes desde a morte de Ian, que nunca deixaria um homem brutalizá-la outra vez.

* * * * *

O sol da manhã beijou o rosto de Davina, e ela se espreguiçou sob seu calor. Ela observou a criada, que abriu as cortinas, cantarolar uma melodia simples enquanto pegava as roupas de Davina no guarda-roupa.

— Bom dia, Davina.

Davina sorriu.

— Bom dia, Rosselyn.

Levantando-se da cama, ela trouxe Cailin aos braços e carregou a filha meio adormecida pelas portas duplas até o patamar externo. Inspirou fundo o ar fresco e exalou. Com os meses de inverno chegando, o céu da manhã ainda estava sombreado, não iluminado pelo sol nascente. Colocou a mão sobre a parede de pedra fria e áspera. Orgulho cresceu em seu peito pela engenhosidade de seu pai. Ele havia usado os vestígios de uma passarela, no topo do pano de muralha da estrutura mais antiga, e criou um terraço. Essa era a parte favorita de Davina em seus aposentos, proporcionava uma vista do pátio, da densa floresta à esquerda e da vila ao longe. Sem nenhuma razão aparente, uma pontada de empolgação vibrou por seu âmago, não muito diferente da antecipação de um presente tão esperado.

Curioso.

Davina sorriu e voltou a entrar, sentou-se em uma cadeira decorada com bordados e embalou seu bebê. Davina abriu o roupão e o vestido e ofereceu um dos seios inchados. Com ganancioso entusiasmo, Cailin sugou enquanto agarrava um punhado do cabelo de Davina e fechou os olhos. Uma ama de leite residente era cara e, embora ela tivesse a herança considerável da família do falecido marido, Davina optou por ser cautelosa na manutenção desses fundos. Ela e a família não possuíam títulos, as ligações com a coroa por meio do nascimento ilegítimo de seu pai eram muito distantes para tais luxos. Mas se saíam bem o suficiente para manter a posse das terras e ter uma relação recíproca com a crescente comunidade de Stewart Glen. Esse arranjo combinava bem com Davina. Sua idade e posição permitiam que ela fosse discreta, então encontrar pretendentes não era uma preocupação. Além de toda esta questão, ela também não mandaria a filha embora para ser amamentada, gostava do vínculo que a amamentação de Cailin proporcionava para as duas.

Após um tempo, Cailin parou de mamar, e Davina a virou para oferecer o outro seio. Lilias entrou no quarto e beijou Davina no alto da cabeça.

— Gostaria que você ajudasse Caitrina e as filhas com a roupa hoje, Davina. Rosselyn, Myrna e eu pedimos que Anna nos ajude a varrer e trocar a Artemísia.

— Claro, mamãe. — disse Davina, levantando-se e entregando Cailin a Myrna, que levou o bebê para o berçário. — Ainda vamos aos mercados hoje?

— Óbvio! — Lilias disse com falso espanto. — Devo dar continuidade à minha eterna busca por fitas! As duas riram, e Lilias saiu para cuidar de suas tarefas.

Rosselyn sorriu.

— Vou apressar o preparo de nossa comida.

Ela quebrou o jejum com Davina quando voltou com uma bandeja e a ajudou a terminar de se vestir. Para se preparar para as tarefas matinais de lavar roupa, ela juntou os longos cachos de Davina, os trançou bem apertados às suas costas e a os assegurou sob a touca.

Como devo mencionar o assunto? Davina ponderou enquanto Rosselyn trabalhava para ajeitar o resto de seu cabelo. Há um tempo que Davina ansiava por falar sobre seu irmão e pai. Qual seria uma maneira sutil de entrar no assunto sem lançá-lo do nada? Ela olhou para as bandejas e mirou o mel.

— Onde está sua mente, Davina?

Alívio a inundou porque Rosselyn criou a oportunidade perfeita.

— Estava pensando no meu irmão, Roz. Mel em nossa refeição me faz lembrar dos tantos anos Kehr e eu fizemos pequenas incursões noturnas.

Rosselyn não fez nenhum comentário enquanto ajudava Davina a vestir o chemise. Rosselyn amarrou a cote de lã marrom, evitando contato visual, as lágrimas crescendo em seus olhos enquanto a angústia marcava sua testa.

As bochechas de Davina ficaram vermelhas com o silêncio de Rosselyn, mas ela continuou.

— Até o dia em que me casei, Kehr e eu escapulimos pelos corredores escuros até a despensa, rindo como bebês de colo.

Rosselyn nunca tirou os olhos de seus deveres, mordendo o lábio entre os dentes.

Davina se virou para Rosselyn e segurou as mãos magras da moça.

— Por favor, compartilhe isso comigo, Rosselyn. Desde a morte de meu pai e irmão, ninguém fala deles comigo. Temo perder a memória deles.

O lábio inferior de Rosselyn tremeu. Lágrimas escorreram por suas bochechas e passaram pela pinta charmosa em sua mandíbula.

— Davina, eu… — ela olhou para Davina por um longo momento.

Quando Davina pensou que a amiga diria algo mais, Rosselyn se afastou e desapareceu no guarda-roupa. Por mais que Davina quisesse confortá-la, sentindo-se responsável por seu humor atual, a retirada de Rosselyn significava que ela precisava de tempo, então Davina permitiu que tivesse alguns momentos a sós.

Davina se virou quando Rosselyn saiu do guarda-roupa com os olhos rosados.

— Obrigada por me ajudar a me vestir, Roz.

Rosselyn assentiu e se desculpou, deixando Davina em um silêncio desconfortável e com o coração vazio ante outra tentativa fracassada de navegar pelas memórias com alguém. Davina puxou um lenço limpo da gaveta da cômoda e sentou-se no sofá diante da lareira, enterrando o rosto no linho macio. Enxugando o rosto e enfiando o lenço na manga, ela endireitou os ombros e se concentrou no dia que a esperava. Suas tarefas seriam uma distração bem-vinda.

Com a maior parte das tarefas grandes do dia terminadas, Davina e Lilias se refrescaram e se vestiram de maneira mais adequada para a ida à aldeia. Davina usava um vestido pregueado, dourado e marrom, bordado com desenhos verde-musgo na altura do peito. Bordados em ouro enfeitavam o decote quadrado da cote, os laços apertados davam apoio. O linho macio verde-musgo do chemise apareciam através das fendas das mangas de cor marrom.

— Ora, nada disso vai servir! — Lilias reclamou com Davina na frente do vendedor. — Todas as minhas fitas estão velhas. Não há nada belo aqui para substituí-las!

O comerciante franziu a testa enquanto elas se afastavam. Davina lançou um olhar de desculpas para o homem.

— Ora, menos, Ma. Comprei uma fita nova para você há apenas alguns meses.

— Sim! E está velha!

Uma risada saiu dos lábios de Davina, e ela conduziu a mãe pelo mercado, passando pelos vendedores ambulantes e comerciantes cantarolando suas ofertas, tentando induzi-las a comprar seus produtos. A multidão que se reunia na entrada da praça fez Davina hesitar, suas sobrancelhas se ergueram de curiosidade.

— Ma, olha. — disse ela, apontando.

As duas esticaram o pescoço, tentando ver além da multidão. Risadas percorriam o aglomerado, e as pessoas reunidas se separaram para deixar a procissão passar.

— Ciganos! — uma jovem gritou enquanto se espremia no meio da multidão para se juntar às pessoas que estavam ao lado de Lilias. — Os Ciganos estão na cidade!

O coração de Davina martelava contra as costelas, e sua mão voou para o peito. Havia ao menos dois anos desde que algum cigano viera a Stewart Glen, e mais nove anos desde que vira a caravana a que seu gigante cigano pertencia. Davina murmurou uma oração esperançosa.

Lilias deu um tapinha no braço de Davina com autoridade.

— Com certeza, eles terão uma bela seleção de fitas, de todo o mundo.

— Sim, Ma. — disse ela, surpresa com a própria falta de ar.

Davina e Lilias abriram caminho pela floresta de corpos para ver o desfile passar. Com música festiva tilintando acima da multidão, acrobatas pulavam pela rua e malabaristas lançavam lâminas e tochas brilhantes para o ar. As carroças passavam, ruidosas, um arco-íris: todas pintadas em tons azuis, verdes, amarelos e vermelhos, brilhantes e decoradas com latão ou cobre. Algumas traziam desenhos esculpidos em madeira de excelente acabamento. Todas balançavam de tão carregadas de mercadorias: potes e utensílios, contas e lenços, rostos felizes e mãos acenando. Uma carroça pintada com estrelas e símbolos místicos arrastou-se, conduzida por uma bela jovem com montes de cabelos dourados caindo nos ombros. Ao lado dela estava uma mulher morena e enrugada, que estudava Davina, os lábios entreabertos e os olhos arregalados de reconhecimento.

— Ele voltou. — sussurrou Davina.

Ela observou a grande carroça passar. A velha esforçou-se para olhar para Davina por cima do ombro, afastando os lenços e contas penduradas.

Empolgação cresceu em Davina.

Ele voltou! Ele está realmente aqui!

Ela observou a caravana cambalear pela praça e desaparecer na rua central. Seus olhos pularam de um rosto para o outro na procissão enquanto as pessoas passavam, mas ela não o viu em lugar nenhum.

Lilias meneou a cabeça, observando os acrobatas que se arrastavam se atirando no ar.

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Litres'teki yayın tarihi:
27 ağustos 2021
Hacim:
401 s. 2 illüstrasyon
ISBN:
9788835427070
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Telif hakkı:
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