Читайте только на Литрес

Kitap dosya olarak indirilemez ancak uygulamamız üzerinden veya online olarak web sitemizden okunabilir.

Kitabı oku: «Colonisação de Lourenço Marques: Conferencia feita em 13 de março de 1897», sayfa 2

Yazı tipi:

Em 1893, uma estatistica da população de Lourenço Marques, certamente inferior á verdade, dava uma totalidade de 1:017 habitantes, europeus e asiaticos; a mortalidade no primeiro semestre d'esse anno foi de oitenta e oito individuos, entre europeus e asiaticos: da totalidade dos obitos 40 por cento proximamente foram devidos a febres de mau caracter e 8 por cento a tuberculose1.

Dos soldados que fizeram parte da expedição de 1895, raros foram os que não soffreram das febres, e se os officiaes não foram tão castigados por ellas, decerto se deve esse facto a serem em geral mais velhos do que aquelles, comprovando-se assim mais uma vez a conveniencia de não seguirem para as colonias individuos de idade inferior a vinte e cinco annos.

Estes exemplos bastam para comprovar que, se em Lourenço Marques se póde viver em melhores condições talvez do que em muitos pontos insalubres da Europa, nem por isso deixam, quer a cidade, quer o districto, de constituir uma região pouco salubre, onde a vida deve ser rodeada de certos cuidados, que não podem conseguir colonos pobres, sem recursos, a quem as regras da hygiene são desconhecidas, e que algumas vezes já partem da metropole anemiados pela miseria ou pelo vicio.

Estes, com poucas excepções, nada têm feito em Lourenço Marques, emquanto que é frequente vêr individuos permanecer dez, quinze e mais annos na cidade, sem grave damno, porque souberam e puderam manter as necessarias cautelas; tanto mais que as condições hygienicas da cidade vão progressiva, se bem que lentamente, melhorando.

Para constituir uma colonia de população é necessario poder crear familia; ora em Lourenço Marques as creanças não medram, e só por excepção se poderão vêr ali filhos de colonos europeus, nascidos e creados no districto. Não os conheço e as poucas creanças que se encontram, essas vivem custosa e difficilmente; é por isso que não posso sem pezar, vêl-as partir para Lourenço Marques inconscientemente levadas pelas familias, sem que os paes imaginem qual o fim quasi inevitavel que as espera.

É a agricultura o principal recurso das colonias de população e isso mesmo se tem supposto em varios projectos de colonisação propostos para Lourenço Marques; é, porém, um facto averiguado que o branco, o europeu, não póde trabalhar ali a terra ou cultival-a elle proprio, sem grave risco de vida; bem o demonstrou a grande mortalidade que houve durante a construcção do caminho de ferro do Transvaal e ainda ultimamente alguns factos passados em 1895 vieram corroborar a opinião que já tinha a este respeito. Em Magudi, n'um local secco, a 30 metros acima do rio e em terrenos de rocha e areia, foi necessario, por falta de cafres, que a guarnição do posto que ali se estabeleceu, removesse a areia para construir trincheiras, e este facto deu causa a uma excessiva mortalidade; em Xinavane, n'um terreno pantanoso, coberto pelas aguas na occasião das cheias, os soldados foram prohibidos de cavar, e não houve senão um obito e esse mesmo de uma praça vinda de Magudi. Em Taninga, onde se fizeram importantes remoções de terras, as febres atacaram com tal força a guarnição, que foi necessario retiral-a. Não póde, pois, o branco trabalhar a terra e luctará com tanto maiores difficuldades, quanto mais se aproximar da zona baixa e argillosa do districto, onde justamente se encontram os terrenos mais ferteis e mais povoados pelos cafres.

Não se póde, pois, em Lourenço Marques, constituir familia, cultivar a terra, e difficilmente se resiste por muitos annos, sem vir refrescar á Europa, á influencia deleteria do clima. Como se poderá pensar, em taes condições, em fazer d'aquelle districto uma colonia de população?

E, com effeito, todas as tentativas n'esse sentido têm dado mau resultado.

Dizem uns que este facto é devido a serem os colonos lançados em Lourenço Marques, sem que o districto esteja preparado para os receber. Mas póde o governo dar-lhes os capitaes, a immunidade ao clima e as qualidades de que o colono careceria de ser dotado em Lourenço Marques? Decerto não.

Dizem outros que o mallogro se deve attribuir á carestia dos terrenos do Estado, que se manteve durante alguns annos. Mas de muitos mil hectares de terrenos concedidos a particulares, poucos ou nenhuns foram aproveitados, e quem d'elles tirou melhor proveito foram os que, sem maiores cuidados, pediram e obtiveram concessões, esperando em seguida que o progressivo augmento da cidade os valorisasse, para auferirem grossos lucros, como succedeu com a Pulana, que, concedida por centos de mil reis a um inglez, foi vendida por centos de contos, e ainda com a Catembe, onde até á linha de costa, contra expressa determinação da lei, se fizeram concessões a individuos que com isso lucraram mais tarde muitos milhares de libras sem o menor trabalho. Tal foi durante muito tempo o resultado das concessões baratas, sem se cultivar um só dos milhares de hectares concedidos.

A meu vêr nenhuma d'estas razões colhe. Lourenço Marques não tem progredido como colonia de população, porque não está em condições de o poder ser.

* * *

Se passamos a considerar Lourenço Marques debaixo do ponto de vista commercial, as negras côres sob que acabamos de descrevel-o como colonia agricola, mudam por completo, para nos mostrarem aquella região como destinada a ser o emporio da Africa do sul, a colonia commercial por excellencia, cuja importancia e valor se nos torna bem manifesta pelas multiplas cubiças que, felizmente para o nosso dominio, tem despertado.

E digo felizmente, porque a ellas se deve o conservarmos ainda nas nossas mãos aquelle esplendido porto, unico na costa oriental, em toda a extensão que vai desde o Cabo até Moçambique. A sua posse, porém, impõe-nos obrigações que o rapido progresso da civilisação do sul africano exige e ás quaes temos de satisfazer, sob pena de sermos em breve eliminados por não correspondermos á alta missão que nos incumbe.

Situada sobre o caminho commercial que conduz ao interior do Transvaal, na sua região mais rica, servida com facilidade pelas vias fluviaes de que dispõe o interior do districto e parte do territorio inglez do centro d'Africa, Lourenço Marques vai-se desenvolvendo de modo tal, que de um anno para o outro se transforma e amplia. As vantagens do porto impõem-se de tal fórma, que as mercadorias affluem em quantidade, todos os dias crescente, não obstante o pouco cuidado com que temos olhado para os seus melhoramentos materiaes, e tambem a guerra de toda a especie, que lhe tem sido movida pelos seus concorrentes naturaes.

Com effeito, as colonias sul africanas não podem vêr com bons olhos o desenvolvimento de Lourenço Marques e por isso vem de longe as difficuldades de toda a ordem que lhe têm levantado. Ha annos, jornaes, livros e publicações de toda a especie, declaravam ao mundo que a insalubridade da povoação era tal, que passar ali, equivalia a uma condemnação á morte; mas a população ia crescendo, em condições mais favoraveis do que em muitas colonias inglezas. Mais tarde quizeram inutilisar o nosso caminho de ferro, graças a uma completa liberdade de tarifas, que menos reflectidamente lhe tinhamos concedido; pudémos evitar esse mal, mas á custa da indemnisação que nos imporá o tribunal de Berne. Mais tarde ainda, procuraram fazer-nos passar por incapazes de manter a soberania portugueza no districto, levantando-nos toda a casta de difficuldades por intermedio dos regulos indigenas.

E muitos outros factos poderia citar, em que a má fé terminou sempre por se manifestar, de modo que hoje a supremacia de Lourenço Marques, como o primeiro porto da Africa oriental do sul está firmemente estabelecida.

A população de Lourenço Marques, que em 1864 era de 83 individuos, elevou-se em 1893 a 1:017 e hoje não é inferior a 4:000, homens e mulheres, europeus ou indianos.

O rendimento da alfandega, que em 1868 era de 3 contos de reis e em 1880 de 47 contos, foi em 1896 de 600 contos.

O numero de navios entrados no porto, que ha vinte annos era insignificante, foi durante 1892 de 228, em 1893 de 252, em 1894 de 265, em 1895 de 363 e em 1896 de 433, dos quaes 287 inglezes. No mez de janeiro ultimo ancoraram no porto 52 navios.

Pela sua parte o caminho de ferro attingiu o limite de trafego que o seu material comporta, e desde que o porto se encontre em boas condições, a affluencia de mercadorias obrigará decerto a dobrar a linha. Actualmente a média do movimento semanal é de 3 a 5 mil toneladas.

Mas nada dá idéa mais perfeita da avidez com que os estrangeiros procuram Lourenço Marques do que o extraordinario augmento de valor dos terrenos e das edificações, que tem decuplicado e por vezes centuplicado.

Apparecem ali representantes de syndicatos que compram tudo que lhes queiram vender quer sejam terrenos quer predios e ainda quarteirões inteiros, de preferencia na parte velha da cidade, havendo exemplos de se vender o metro quadrado de terreno por 10 libras, isto é, pelo dobro do preço maximo dos terrenos na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Todo este movimento e ainda as transacções que cada dia se fazem na colonia, representam muitos centos de milhares de libras sterlinas, mas o augmento da riqueza publica em muito pouco aproveita á metropole, que não só d'ali não tira proveitos directamente, o que aliás não era de esperar, mas ainda mesmo poucos aufere do commercio e da industria que os seus nacionaes ali exercem. Pelo contrario, não creio exaggerado suppôr que nos ultimos vinte annos, Portugal tem mandado para ali mais de 10:000 contos de reis.

Para conseguir tirar de Lourenço Marques todas as vantagens que nos é licito esperar, muito resta ainda fazer, não só ao governo mas principalmente á iniciativa particular.

Ao governo compete, é certo, tratar dos melhoramentos do porto, para os quaes se succedem uns aos outros os projectos e os estudos, adoptar providencias para melhorar a hygiene da cidade, escolher funccionarios idoneos para a administração do districto, mais importante decerto do que a da provincia inteira, e conserval-os não os substituindo de seis em seis mezes; e, finalmente, preferir sempre os nacionaes para quaesquer concessões que haja de fazer.

Este ultimo ponto, porém, já implica muito com a iniciativa particular, pois o governo tem, naturalmente, para melhorar as condições da cidade e seu porto, de entregar a execução dos melhoramentos necessarios a emprezas que d'elles se encarreguem mediante certas concessões.

Seria, pois, indispensavel que os capitaes portuguezes se não retrahissem tanto e confiassem mais nos lucros extraordinarios, por vezes fabulosos, que podem auferir em Lourenço Marques.

Infelizmente, porém, a iniciativa e os capitaes portuguezes pouco affluem á colonia, e se se encontram algumas poucas firmas portuguezas, como Cardoso, Fornazini, Baptista Carvalho, Nogueira Pinto, etc., que ali luctam pela vida, mantendo o commercio portuguez e a sua feição especial, em compensação abundam os estrangeiros, Mac Intosh, Gubler, Auerbach, Donaldson, Hoffman, Idolgy, e tantas outras, que principalmente açambarcam o commercio, possuem as melhores propriedades e dominam na praça.

1.Dados extrahidos do Districto de Lourenço Marques, por Eduardo de Noronha.
Yaş sınırı:
12+
Litres'teki yayın tarihi:
28 eylül 2017
Hacim:
38 s. 1 illüstrasyon
Telif hakkı:
Public Domain