Kitabı oku: «Colonisação de Lourenço Marques: Conferencia feita em 13 de março de 1897», sayfa 3
Não vemos frequentemente homens energicos, de iniciativa, representando ou possuindo capitaes, partir para Lourenço Marques, a tentar novas industrias e fundar novos centros de nacionalisação, com o que muito ganham os estrangeiros, de modo que dos milhares de libras que representam o commercio da cidade, só uma pequena parte aproveita á metropole; o resto ou é absorvido pelo commercio estrangeiro europeu ou vai para a India.
O commercio indiano tem um feitio especial; em lojas, quasi sempre de mesquinha apparencia, vêem-se alguns individuos, embrulhados em algodão branco, fallando a lingua cafreal, o portuguez e o inglez, vendendo em geral de tudo, desde a lata de conserva até aos productos cafreaes. D'estas lojas saem agentes do mesmo jaez que, espalhando-se pelo interior, vivendo como os indigenas cujas manias lisongeiam, e protegidos pelos regulos a quem fazem presentes, monopolisam por completo o commercio do interior. D'esta fórma as lojas dos indios e mouros são os centros d'onde irradiam centos de braços, que vão recolher no interior os milhares de libras que os cafres trazem annualmente do Transvaal e Natal, libras que são immediatamente mandadas para fóra do districto.
Estes homens, sustentando-se de arroz e pouco mais, vestindo-se com uma tira de algodão, tudo oriundo da India, nada consomem da metropole e fazem uma concorrencia ao europeu, que precisa vestir-se, alimentar-se e cuidar de si. Recolhido o seu peculio, voltam para a India, onde o vão gozar depois de purificados, purificação essa que os lava do contacto com infieis e tambem de todas as traficancias que tenham podido commetter.
Muitos d'estes indios são inglezes, o que mais aggrava a situação, pois que se encontram sempre apoiados pelo seu governo, para pretendidas indemnisações a que se podem julgar com direito por perdas soffridas no interior. E não se imagine que, ainda quando portuguezes, auxiliem o nosso dominio; quando durante a guerra de 1895, as tropas chegavam aos locaes onde os indios estavam estabelecidos, estes fugiam… com os cafres: um indio na Manhissa aconselhava os pretos a não receberem a prata portugueza, «que não era boa», e com effeito vendia carissimo quando elles lhe pagavam n'essa moeda.
É certo que algumas vezes prestaram, por interesse proprio, serviços ao governo, mas esse facto deu-se principalmente quando em Lourenço Marques quasi não havia colonos portuguezes. Hoje são um obstaculo, porque é difficil fazer-lhes concorrencia, e bom era que um imposto pesado os collocasse em circumstancias analogas aos europeus, pois que d'outro modo o commercio do interior continuará nas mãos d'elles e o ouro que vem do Transvaal continuará a seguir para a India.
Demais, a moeda portugueza usada em Lourenço Marques favorece a emigração do ouro: consiste ella em moeda de prata e notas da fazenda ou do Banco Ultramarino, com que se fazem os pagamentos ao governo, emquanto que a moeda ordinariamente usada nas transacções commerciaes é a libra sterlina. Ora, quando um paiz tem duas moedas, uma boa, o ouro, e outra má, a boa emigra e a outra fica.
Creio seria facil acabar com este inconveniente, determinando-se que todos os pagamentos fossem feitos em ouro, como o fez a Companhia de Moçambique, com bom resultado nos seus territorios, admittindo-se a prata só como moeda subsidiaria. Não haveria embaraços, como os não houve na Beira, e tambem não se alterava, para com o resto da provincia, o actual estado de coisas, por isso que a rupia que n'ella corre não é aceita em Lourenço Marques e até o Banco Ultramarino tem dois typos de notas, um para Lourenço Marques e outro para os demais districtos.
Por este meio havia tambem a vantagem de evitar as fraudes; como se poderá impedir que um individuo, que receba em ouro as receitas da fazenda, computando a libra em 4$500 reis, as entregue mais tarde em prata? Será isto uma falta? Moralmente sim, mas legalmente creio que não, ainda que a falta se podesse provar.
O typo de moeda ouro favoreceria certamente o commercio nacional e faria entrar em Portugal muitos milhares de libras; as receitas do districto são hoje superiores a 1:000 contos de reis e, recebidas que fossem em ouro, seria n'esta moeda que o governo pagaria aos seus funccionarios, principaes consumidores dos productos da metropole e tambem aos seus fornecedores, que devem ser, tanto quanto possivel, nacionaes.
A transferencia de capitaes para a metropole seria tambem facilitada: ha já hoje bancos estrangeiros em Lourenço Marques que a podem fazer em boas condições, pois que o Banco Ultramarino não tem prestado á provincia de Moçambique e sobretudo ao districto os serviços que d'elle era licito esperar; em 1892, chegou este banco a levar pela transferencia de dinheiro da metropole e pagando lá em notas suas, a insignificante percentagem de 30 %.
Mas tudo o que se possa fazer em favor de Lourenço Marques de pouco valerá, se a iniciativa particular, o nosso commercio, a nossa industria e os nossos capitaes não forcejarem por tirar aos estrangeiros o predominio que até hoje têm tido na colonia, e por desapossal-os do monopolio do commercio, que tem como consequencia necessaria a drenagem do ouro sem que a metropole pouco ou nada aproveite da riqueza da sua colonia, de dia para dia crescente.
Não lhe enviemos, pois, colonos pobres que lá vão morrer, mas consagremos-lhe energias sãs, vontades firmes e capitaes abundantes. Raras vezes uma colonia póde dar um rendimento liquido á mãe patria; mas o que lhe dá e deve dar é um mercado para o consumo dos seus generos, e um lucrativo campo de emprego para os seus capitaes, de modo a compensar as despezas que por ella são feitas. E isto não se consegue só com medidas administrativas, mas sim com a boa vontade e a intelligencia commerciaes, que, luctando com a concorrencia estrangeira, evitem que só a esta venham a caber os fructos de tantos sacrificios, que não poucos, de homens e dinheiro, temos feito em Lourenço Marques.
Precisamos hoje, na colonia, de agentes commerciaes, representantes das nossas mais acreditadas casas da metropole, que, reunindo-se em sociedade, facilmente os poderiam para ali mandar; de empregados subalternos, que, aprendendo a lingua do paiz, vão ao interior recolher os centos de mil libras, que para ali levam os indigenas.
No Transvaal, só em Johannisberg, trabalham hoje mais de 45:000 cafres, um verdadeiro exercito, que as exigencias da exploração do ouro, sempre crescentes, dentro em poucos annos terão quadruplicado. De entre esses cafres, uma grande parte provém da nossa colonia, e por isso o impedir a emigração equivaleria a causar uma revolução economica no Rand; ora os cafres vão trabalhar para conseguir dinheiro para a compra de mulheres, armas e emfim dos objectos de que imaginam carecer, e voltam ás suas terras com sommas por vezes avultadas.
Não creio exaggerar, calculando em 15:000 cafres os que emigram em cada anno, e, suppondo que voltem com 20 libras cada um, corresponderia isso a uma entrada annual de 300:000 libras, que deveria ser aproveitada exclusivamente pelo commercio da metropole. Os algarismos citados estão decerto abaixo da verdade e mostram á evidencia a vantagem de não crear embaraços á emigração, tanto mais que não ha em Lourenço Marques industrias nossas que careçam de braços.
Para aproveitar do commercio do interior não nos seria difficil encontrar portuguezes, habituados ao sertão, que podessem competir com os indios: alguns temos já hoje, que têm conquistado o respeito dos cafres e entre elles um conheci, cujo nome bem merece do paiz, um antigo soldado do corpo policial de Lourenço Marques, o Silva Maneta, cuja dedicação pela patria e coragem excepcional, que o levava a arrojar-se loucamente aos mais arriscados lances, tantos serviços prestou durante a campanha de 1895; e que me seja licito aqui, prestar a esse portuguez de lei, o tributo da minha admiração pelas brilhantes qualidades, que nunca se buscam debalde nos mais obscuros filhos da nossa pobre, mas gloriosa patria.
Voltando, porém, ao assumpto, de que me fez desviar a recordação de um verdadeiro heroe, n'esta cidade onde os feitos heroicos brilham em cada pagina da sua historia, direi ainda que mesmo entre os cafres educados na nossa escóla, poderiamos encontrar auxiliares, por isso que o cafre quando se chega a convencer de que é portuguez e branco, é mais cioso ainda do que este, das suas prerogativas, e até respeitado pelos outros pretos como se branco realmente fôra. E não ha decerto espectaculo mais comico do que vêr um grupo de negros tratar de «senhor» e de «branco» um outro cafre tão negro como elles, só porque traja e falla como os europeus.
Pelo que respeita ao commercio com o Transvaal, facilita-o a proximidade em que d'elle estamos, a sympathia que lhe merecemos, que maior seria se mais trabalhassemos, e ainda os tratados que a elle nos ligam.
Mas como condição essencial, necessario se torna que as nossas marcas sejam sempre as mesmas e que não succeda que, desde que um producto se acredita á custa de muito trabalho, os menos escrupulosos façam perder uma vantagem, que difficilmente se poderá recuperar. Não insisto, apesar de poder apresentar muitos exemplos, n'este facto, cuja importancia todos podem avaliar.
Muitos e variados são os productos com cujo commercio lucrariamos, quer no districto, quer no Transvaal, e de entre esses apenas me referirei aos que julgo de maior importancia.
Na cidade, temos o consumo proprio, que é o de uma cidade rica, e que deve ser exclusivamente fornecido pela metropole, ainda que á sombra de bem entendidos direitos de entrada, não tão exaggerados, que sejam apenas um incentivo ao contrabando.
No interior do districto, facil seria abrir mercado para os nossos vinhos brancos, convenientemente addicionados de aguardente, que vão sendo preferidos ao alcool, não só porque realmente os cafres os apreciam mais, mas ainda porque julgam que se aproximam do branco, bebendo-os; os missionarios suissos, no districto, têm conseguido que grande numero de cafres deixem de embriagar-se com a aguardente, aconselhando-os a beber só vinho, que elles consomem conscienciosamente. Tambem apreciam muito o vermouth, ou uma mistura que em garrafas lhes é vendida como tal. Aproveitando estas tendencias, certamente abririamos um mercado bastante largo para os nossos vinhos, e praticariamos ao mesmo tempo uma obra meritoria prohibindo a importação do alcool industrial em Lourenço Marques e a sua venda aos indigenas.
Mas muitos outros generos se poderiam consumir no interior, além dos vinhos.
A polvora e as armas brancas, facas, machados, zagaias, etc., dariam lucros bastante remuneradores, sendo fabricados segundo os typos preferidos.
Os tecidos, quer de algodão, quer de lã, pannos e cobertores, podem ser enviados da metropole e vendidos com lucro, não só porque obtêm preços altos, mas ainda porque muito os poderia proteger a differença de cambio e um bem entendido direito protector, não difficil de fiscalisar. Os typos de algodões e cobertores preferidos deviam ser mandados pelos governos do districto aos centros industriaes do paiz, afim de serem reproduzidos. Os algodões azues ou de fundo azul com desenhos brancos são muito apreciados; em 1893 trouxe varios typos de cobertores, que foram reproduzidos n'uma fabrica de Lisboa empregando-se lã de inferior qualidade, e sendo o seu preço de custo de 600 a 900 reis: taes cobertores tinham então em Lourenço Marques um preço de 4 a 6 shillings, o que dava margem para um commercio lucrativo.