Kitabı oku: «O Marquez de Pombal», sayfa 2
IV
Era pleno seculo XVIII.
O sol da liberdade começava de surgir e elevar-se no horisonte das sociedades europeas, e, com elle, despontava do lado da França o dia da emancipação popular.
Baccon, Montesquieu, Rabelais, Bayle, Fontenelle, e outros, foram apenas a aurora do brilhante dia; Diderot, Alembert, Condorcet, e Rousseau, animando-lhe cada vez mais os raios luminosos, só esperavam por Voltaire, o astro da philosophia, por Mirabeau, o genio da politica, que, resumindo em si toda a sciencia, toda a energia do seu seculo, haviam de dar a realidade ao sentimento e á ideia revolucionaria.
V
Foi no seio d'essa atmosphera repassada de novos elementos, e impregnada de novos germens de vida, que o espirito de Sebastião José de Carvalho e Mello cresceu, se desenvolveu e preparou para vir a ser o que na realidade foi, com grande applauso das nações e de certo com grande proveito nosso, se lograsse levar a cabo a regeneração politica, moral e economica do seu paiz, que tão habilmente emprehendera e á qual miravam as vistas, eminentemente liberaes e patrioticas, do ministro de D. José.
«Cultor assiduo de todos aquelles estudos, que habilitam o homem para governar; já herdeiro do aperfeiçoamento de muitas sciencias e artes, que podem illustrar o mundo politico e determinar a prosperidade e engrandecimento dos povos, lendo e meditando os livros economicos, politicos e financeiros, que em seu tempo inundavam a Europa», ía dispondo o animo para entrar um dia affoito e lidar desassombradamente com os negocios da alta politica e da administração publica.
Tomara por modelo, escolhera para seus mestres, – Richelieu, Sully, Colbert, Argenson, e as maximas, as memorias, os testamentos politicos d'estes estadistas, mas principalmente a moral, a philosophia e todos os trabalhos scientificos dos encyclopedistas – foram o thesouro, onde aquella intelligencia vasta, aquelle espirito eminente, aquella vontade firme e energica se enriqueceram e auriram luz e força, para produzir o que depois se viu e admirou.
VI
Portugal era ainda, no começo do reinado de D. José I, o que a França principiara a ser desde o reinado de Luiz XV.
D. Pedro II e D. João V, fascinados pelo brilho deslumbrante e pelo apparato tumultuoso da côrte de Luiz XIV, fizeram d'este rei absoluto, libertino e folgazão, considerado, naquelle tempo e pelo partido retrogrado e fanatico, o prototypo da realeza absoluta, o seu aperfeiçoado modelo.
Um, seguindo a sua politica e imitando o seu exemplo, lançou ao esquecimento as fórmas da antiga monarchia representativa; reprimindo a nobreza e o clero, sem libertar o povo, preparou o absolutismo.
O outro, animado de um espirito romanesco, dotado de uma imaginação ardente, dominado por uma piedade exagerada, ou especulando com uma calculada hypocrisia, imitou Luiz XIV nas suas vaidades, invejou-lhe a pompa e o esplendor da sua côrte, satisfez os mais puerís caprichos e as mais levianas phantasias, nada sacrificou ao bem do povo, enriquecendo a curia romana, esfalcou o thesouro publico, enfraqueceu a agricultura e as artes, enervou o espirito e a actividade nacional, numa palavra – o rei fanatico… fanatisou o povo!
VII
Era mister levantar o edificio, que, minado pela base, dobrava já ao peso de tantas pompas e magnificencias: o reino, povoado de sumptuosos edificios, deslumbrante de purpura e ouro, mas pobre de actividade e iniciativa, definhando á mingoa de moralidade e instrucção, pendia já sobre o abysmo, que um luxo reprehensivel e uma ociosidade criminosa lhe tinham aberto pelas mãos do proprio rei, sempre e em tudo dirigido pela côrte de Roma, dominado pelo clero e lisongeado pela nobreza.
VIII
Genio perspicaz, philosopho profundo e habil politico, o Marquez de Pombal já previa, como o antigo ministro de Luiz XV, que uma revolução, uma crise tempestuosa se avisinhava, para tudo transformar e regenerar tudo, ou tudo perder.
A Europa agitava-se em seus fundamentos: havia uma especie de detonação, que impressionava os espiritos: estranhas convulsões abalavam o grande corpo social, como symptomas percursores d'um proximo terremoto moral e politico.
A anarchia popular avisinhava-se do seu momento fatal; o governo monarchico-absoluto, desacreditado em quasi todos os estados da Europa, quasi desconhecido no Novo Mundo e declarado por muitos espiritos rectos o peior dos governos, esperava todos os dias a sua sentença de morte; a acção philosophica, apoderando-se das intelligencias elevadas do seculo, ia-lhe preparando o supplicio no patibulo da opinião publica.
Os philosophos de Inglaterra e França trabalhavam fervorosos na propaganda liberal: as theorias de Baccon e Mentesquieu tinham sido profundamente desenvolvidas e levadas até ás suas ultimas consequencias praticas.
A interferencia da Inglaterra, a sua acção politica, disfarçada debaixo da apparencia de um grosso trato commercial, influenciava, de um modo energico e profundo, a situação moral e economica dos povos; como as cruzadas, em nome de Deus e pela fé, produziram, em seu tempo, notavel transformação social.
Um vento philosophico soprava da Allemanha, da Inglaterra, da França e da America, e murmurava aos ouvidos de muitos as palavras —liberdade, emancipação, democracia, republicanismo e outras, que bem significavam não estar longe o momento, em que o povo, senhor da sua vontade, conscio da sua força, reivindicasse os seus direitos, usurpados pela realeza, ultrajados pelos nobres e em parte absorvidos pelo clero.
Uma nova fórma de governo existia já traçada na mente de muitos homens illustres.
As materias combustiveis, que se haviam de inflammar para accender a revolução, acervavam-se por toda a parte.
Alguma cousa de extraordinario e assombroso se preparava no laboratorio immenso da Europa!
Algum monumento, de sumptuosa fachada e maravilhosa architectura, mas já gasto pelo roçar dos tempos, ia desabar até aos alicerces.
Era – a bastilha monarchica do absolutismo; era – o capitolio jesuitico da theocracia, minados nos fundamentos, abalados na solidez!..
Finalmente as instituições, os poderes, as opiniões… tudo annunciava que a transformação estava imminente, e inevitavel e fatal devia operar-se por uma revolução geral e profunda!
IX
Filho do seculo XVIII, herdeiro da renascença, educado na philosophia e na politica dos encyclopedistas, admirador dos grandes homens da França, versado nas suas obras e dominado pelas suas theorias, seguidor das suas maximas, iniciado na vida politica da Inglaterra, Sebastião José de Carvalho para logo viu os males que affligiam o povo e degradavam a nação, e que o unico remedio, que podia salval-os, era – ou uma revolução popular, uma guerra civil tempestuosa e terrivel em sua acção, embora salutar e benefica em suas consequencias, – ou a reforma pacifica e diplomatica das instituições.
Optou pelo segundo meio. Como politico propoz-se o plano e as medidas de Richelieu, mas com outro fim e mirando a mui diverso resultado; como economista e financeiro esforçou-se por imitar o grande estadista Sully; discipulo de Quesnay, aprendera com elle que é no solo que reside a principal fonte de riqueza e as materias primas de toda a producção; como Adam Smith já não ignorava que só o trabalho pode arrancar á natureza os seus productos e, transformando-os, fazel-os servir á satisfacção das necessidades humanas, á prosperidade publica e á felicidade domestica.
Foi por isso que lhe mereceram particular attenção e desvelado esmero a agricultura e a industria, as artes e os officios, que, arrancando o homem da abjecção, que a mizeria gera, da ociosidade, que perverte, têm alem d'isso a singular virtude de emancipar o povo, entregando nas suas mãos, com o sceptro do trabalho, – a realeza politica.