Kitabı oku: «Sumalee», sayfa 4

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Falamos da minha família, do que tinha me levado a Cingapura… Ela me fazia uma infinidade de perguntas sobre coisas de todo tipo. Sobre quanto tempo eu ficaria em Cingapura, se gostaria de viajar… Parecia um interrogatório, mas me submetia a ele com gosto. Ela ficou muito interessada quando contei a história com minha ex-namorada. Dizia que para ela era inacreditável que uma garota pudesse me trocar por outro. Gostava cada vez mais de Sumalee. Definitivamente, tinha subido às posições mais altas de pessoas preferidas em Cingapura.

Tínhamos uma cumplicidade e uma confiança tamanha que parecia que ficaríamos a vida toda juntos. Enquanto ela falava, eu podia sentir o perfume dos seus cabelos, que tinha uma fragrância muito definida que ela me contou depois que era jasmim, e percebia uma sensação estranha que não sentia há muito tempo.

Era como se eu estivesse apaixonado, mas com certeza não era isso; provavelmente era a atração sexual do primeiro encontro. Seria uma loucura. Eu tinha acabado de conhecê-la há apenas algumas horas, ela vinha de uma história trágica, mas, ainda que parecesse perfeita para ser minha alma gêmea, não poderia ser tão fácil.

Fazia algum sentido?

Cingapura 6

Na semana seguinte, eu tinha combinado com Sumalee de passarmos o dia juntos. Ela se ofereceu para me mostrar a cidade e ser minha guia particular, o que me pareceu uma proposta fantástica. Era uma profissional da viagem e muito mais linda que Josele e Dámaso. Além disso, meus amigos tinham combinado com o fotógrafo da festa de jogar golfe, que era um esporte que não me atraía muito.

Apesar de ter ficado até tarde da noite anterior na festa, marcamos bem cedo na porta do templo Leong Nam, no bairro Geyland, porque ela me disse que queria me mostrar algo que dava para ver melhor cedo. No sábado trocamos números de telefone para o caso de surgir algum contratempo e a primeira coisa que fiz assim que acordei foi olhar o telefone com medo de que ela tivesse cancelado o encontro; mas não tinha nenhuma mensagem dela. Quando cheguei, ela já estava me esperando. Usava shorts jeans curtas azuis que não chegavam na metade da cocha, uma camiseta de alças azul turquesa e uma jaqueta muito fina de outra tonalidade de azul. Estava linda, era linda, e sabia como evidenciar isso. Quando me viu ao longe, um sorriso incrível se desenhou em seu rosto e ela veio trotando até mim. Me deu um abraço e me beijou a bochecha.

— Olá, David! Queria te ver.

Ela pronunciava o “a” do meu nome com uma deliciosa mistura de “a” e “i”. Algo como David que me soava como uma música celestial.

— Bom dia. Você imagina o quanto eu também queria. Não consegui pensar em outra coisa desde que nos despedimos ontem à noite.

— Como você é bobo! Não é para tanto.

— É verdade, acredite, é sim. O que vai me mostrar hoje? Você me deixou curioso.

— Este é o bairro Geylang. É um dos que menos evoluíram em Cingapura e um dos que mantêm a gastronomia mais tradicional da região. Aqui fica o mercado tradicional asiático de Geylang Serai. Está cheio de barracas de frutas e outros tipos de produtos frescos, quase todas geridas por malaios. Aos domingos de manhã, ficam cheios de gente e barulho, mas se vier cedo, terá todo o mercado só para você — contava, entusiasmada. — Adoro vir aqui quase de madrugada e passear pelo lugar com o burburinho dos comerciantes preparando tudo e a mistura incrível de perfumes de frutas frescas que é possível sentir antes que o mercado fique cheio e eles se dispersem com o resto dos cheiros. É como passear no meio de campos de frutas. Me lembra um pouco minha terra.

Dava para ver por sua expressão que ela realmente gostava desses passeios.

— Parece muito bom. Ou talvez você seja uma vendedora excepcional. Venha! Você me guia.

Começamos a passear entre as frutarias pelas ruas principais e pelos lorong, que é como chamavam em malaio as vielas laterais. As casas eram do mesmo estilo da zona indiana: baixas, com dois andares e cada uma de uma cor. Íamos parando em diferentes lugares e Sumalee ia me explicando as diferentes frutas típicas dos mercados dessa região: a longan, branca por dentro que parecia uma batata por fora; a manga, que eu já conhecia; o mangostim, mais doce ainda que a manga; e o que mais me chamou atenção, o durian, com espinhos de cor esverdeada e do tamanho de um melão pequeno. Quando abriam um no meio, dava para ver que dentro havia uma polpa amarela.

— O curioso dessa fruta — contava Sumalee, alegre, — é que tem um cheiro muito forte que fez com que fosse proibido comê-la no transporte público e em hotéis para não incomodar as outras pessoas. Fede! — disse, colocando um pedaço debaixo do meu nariz e me obrigando a afastá-la rapidamente para tirar esse cheiro horroroso.

— Você sujou meu nariz.

— Um momento — disse Sumalee, tirando um lenço do seu bolso e limpando com cuidado. Eu não podia deixar de observá-la enquanto ela fazia isso. — Pronto. — Algo se estremeceu dentro de mim com aquele gesto.

Também havia muitos lugares com peixes salgados, sapos, arraias venenosas ou enguias. Tudo o que um ocidental poderia esperar de um mercado oriental.

Sumalee tinha razão. Era um passeio relaxante, com uma mistura de cheiros adocicados que o transportavam ao campo. Com o tempo, o lugar se encheu de gente, muito poucos deles ocidentais, e barulho e os cheiros mudaram totalmente, perdendo todo o encanto inicial.

— Bom, o que mais se pode fazer por aqui?

— Depende do que você gosta. Ao sul está o que chamam de bairro da luz vermelha de Cingapura, como o de Amsterdã.

— Não, obrigado. Tendo uma mulher como você ao meu lado, não acho que conseguiria encontrar nem de longe nada que chegasse aos seus pés no bairro vermelho, nem procurando em toda Cingapura. Com certeza, nem em toda Ásia.

Por um instante, ela ficou me olhando com firmeza sem dizer nada. Sentia como se ela estivesse esquadrinhando minha mente através dos olhos. Temi, por um momento, tê-la ofendido, mas não disse nada.

— Também há muitos templos e a Vila Cultural Malaia. Um museu onde se pode ver artesanatos, escutar música tradicional e degustar a culinária típica.

— Já que estamos em uma região malaia, poderíamos escutar um pouco de música tradicional e comer alguma coisa tímica, não? Eu sou um turista de livro. Na verdade, li um na viagem para cá.

— Tudo bem! Vamos para lá.

Com sua mão direita ela pegou a minha esquerda e me deu um puxão para que a seguisse. Durante um instante, apertei sua mão com força para ter certeza de que ela estava ali.

Chagamos em poucos minutos ao museu. Era um complexo de vários edifícios baixos de telhados canelados, muito no estilo oriental. Dentro, havia representações de objetos e utensílios malaios, como carroças puxadas por bois, exposições de artesanato e todo tipo de informação sobre sua cultura e gastronomia. Também tinha uma casa visitável decorada como se supunha que eram as tradicionais. Notava-se que ela gostava de viajar e conhecer coisas novas, além de trabalhar naquilo, porque olhava tudo com a curiosidade típica de uma criança, surpreendendo-se e emocionando-se com tudo. Eu gostei da visita, mas na verdade não tanto quanto ela, porque só estava concentrado no roçar de minha mão na sua e em observar, fascinado, todas as expressões de seu rosto. Tinha um rosto angelical. Queria tanto beijá-la!

Quando terminamos, ela me disse que me levaria para comer algo típico cingapurense e me deixei levar sem dizer nem uma palavra. Em vez de entrar pela porta principal, ela me levou pela viela de trás e chamou à porta da saída da cozinha. Eu estava intrigado. Quem abriu a porta foi um homem barrigudo e com um avental, gritando irritado, mas quando viu Sumalee, se calou e voltou para dentro, fechando a porta com uma forte batida. Um minuto depois, ela voltou a ser aberta e apareceu uma moça muito pequena, que também parecia tailandesa, e que se jogou nos braços de Sumalee, abraçando-a. Começaram a conversar em tailandês e logo Sumalee me fez sinal para que me aproximasse.

— Este é David. David, esta é minha amiga, Kai-Mook, de quem falei um pouco ontem à noite. Também é tailandesa e trabalha neste restaurante. Ela vai preparar a comida para a gente.

— É um prazer. Não se preocupe, Sumalee não disse nada de mau de você — eu disse, sorrindo.

— Igualmente. Entrar para escolher o Swikee. — Seu inglês não era muito bom.

— Escolher o que? — olhei para Sumalee.

— Entre e verá.

Eu a segui pela cozinha e ela me levou até um lugar onde havia uma bacia gigante com uma tampa. Kai-Mook a levantou e dentro havia uma dezena de rãs saltando para tentar escapar de sua prisão de plástico.

— Rãs? — exclamei, olhando para Sumalee.

— Sim, são consideradas uma iguaria típica por aqui. Eles preparam uma sopa de rã deliciosa aqui no Swikee.

— Se você diz… Na verdade, nunca comi.

Estava um pouco indeciso, mas não queria parecer muito fresco, então escolhi as rãs que queria, as que me pareceram mais bonitas, se é que era possível, e me sentei à mesa que nos apontaram para esperar a refeição enquanto falava com Sumalee sobre o que faríamos depois. Não demorou muito para Kai-Mook aparecer com uma sopeira nas mãos. Quando ela a abriu e nos serviu a sopa de rãs, tive que reconhecer que tinha uma aparência muito apetitosa. Notava-se traços de pimentas vermelhas, algo que parecia coentro, chili e mais alguma coisa que não fui capaz de identificar.

Comecei a comer com um pouco de apreensão, mas quando dei a primeira bocada, todos os meus temores de dissiparam. Estava muito boa! Devorei o restante da rã com avidez. Ergui a cabeça e vi que Sumalee me observava, se divertindo.

— Está delicioso, não é?

— Tenho que reconhecer, esse é um prato de luxo. Tenho que trazer meus amigos aqui. Vão ficar loucos.

— Sabia que iria gostar. O cozinheiro deste restaurante prepara a sopa de rãs mais gostosa de toda a cidade. Se vier com eles, pergunte por Kai-Mook e vocês terão o tratamento especial da casa. Agora ela já te conhece e cuidará de você como se fosse eu mesma.

Olhei nos olhos dela enquanto suspirava. Não sabia que loucura estava fazendo, mas ia dizer a ela o que estava começando a sentir quando Kai-Mook nos interrompeu, aproximando-se para perguntar como estava a sopa. Disse o mesmo que tinha dito a Sumalee, que estava deliciosa, e ela voltou contente para a cozinha. O restante da refeição também foram pratos que eu não conhecia; muito saborosos, mas nenhum como a sopa. Ficamos o tempo todo rindo e contando histórias divertidas que tinham acontecido com a gente no passado em nossas viagens.

Quando terminamos, Kai-Mook deu uma bolsa a ela. Ela não quis me dizer o que era. Também não me deixou pagar e insistiu que era seu dia de guia e que os gastos ficavam por sua conta. Segurei seu rosto e, observando-a com intensidade, dei um beijo muito suave em sua testa enquanto acariciava com os dedos suas têmporas. Pude notar que ela tremia quando fiz isso, não sabia se de emoção ou de repulsa. O importante foi que ela não se afastou. Um calafrio de excitação percorreu meu corpo ao contato com sua pele. Naquele momento, senti uma vontade quase irrefreável de lançar-me sobre ela e beijá-la, mas consegui me conter. Não apenas gostava de estar com ela e me sentia muito confortável, mas ela também me excitava demais.

Saímos para a rua. Fomos direto para um pequeno parque que ficava bem em frente de onde estávamos, e ela entregou a bolsa a uma mulher que parecia uma mendiga. A mulher tirou algo de dentro e vi que era comida. Conversaram um pouco como se se conhecessem a vida toda e, então, continuamos nosso caminho.

É uma mulher que está passando por apuros. Eu a conheço de outras vezes que vim ver Kai-Mook. Sempre trago um pouco de comida quente para que ela tenha uma boa refeição no dia.

Além de bonita, é uma boa pessoa. Não para de me surpreender.

Passei o braço por cima de seus ombros e pegamos o ônibus para o parque East Coast, no sudeste da ilha. Tínhamos decidido mudar totalmente de ambiente e eu queria ver um pouco de água, e ali havia praias, palmeiras e mar. Um lugar perfeito para conhecer um pouco mais Sumalee.

Quando chegamos, nos metemos por um dos caminhos que entravam no parque. Sumalee ficou pensativa um momento e, então, se dirigiu a mim.

— Sabe patinar?

— Não, nunca tentei. Quando eu era pequeno, andei um pouco de patinete, mas não tinha o equilíbrio muito desenvolvido, então desisti logo.

— Bom, então ensinarei a você outro dia. E andar de bicicleta?

— Isso, sim, claro.

— Então vamos alugar umas bicicletas para visitar o parque. O que acha?

― Perfeito!

Dito e feito. Nos dirigimos para o lugar onde alugavam bicicletas e, ainda que pudéssemos escolher bicicletas tandem ou carrinhos com teto, decidimos por duas vermelhas individuais para o restante do dia. Aparentemente, era uma atividade popular, porque o parque estava cheio de ciclistas e de gente patinando. Havia uma pista com dois sentidos claramente demarcados. Sumalee foi contando-me tudo enquanto pedalávamos com tranquilidade.

— O parque está dividido em diferentes áreas. De acordo com a área, pode fazer uma coisa ou outra. Você vai acabar descobrindo que eles são muito organizados em Cingapura.

— Sim, estou percebendo.

— Aqui, à direita, fica a área de churrasqueiras. Muitas famílias e grupos de amigos vêm, principalmente no fim de semana. Também há muitos restaurantes e cafeterias, se preferir não ter trabalho. Para usá-las, é preciso fazer reserva. Dá para fazer pela internet.

— Como você disse, — afirmei, sorrindo — muito organizados. E isso?

— Essa é a área de esportes aquáticos. Dá para alugar caiaques, fazer esqui aquático, mergulho e muitas outras coisas. Você gosta desse tipo de atividade?

— Sim, adoro. E você?

— Não experimentei muito, mas poderíamos tentar juntos.

— Com certeza! Já está na minha lista desde que soube que viria para cá.

— Agora estamos chegando à área para ficar na areia. É muito normal que as pessoas construam castelos. Olha!

Paramos um pouco para ver um grupo de jovens terminando de construir um tempo de areia de um tamanho descomunal. Devia ter quase dois metros de altura e quatro de largura. Nenhum de nós reconhecemos o edifício, mas Sumalee me disse que o estilo era muito parecido com os templos de Angkor, em Camboja. Havia muitas pessoas tirando fotos. Sumalee me contou que outra atividade típica do parque era a fotografia. Outra coisa que abundava era gente correndo. Era como o Parque do Retiro, em Madri, mas tinha quase o dobro do tamanho, com mar e mais possibilidades. A coincidência era que tinha tudo muito bem dividido e com cada coisa em seu lugar. Era muito artificial também. Voltamos a pegar as bicicletas e continuamos a andar. Passamos por um edifício com o logotipo do Burger King. Isso me fez esboçar um sorriso irônico. Por mais longe que acreditamos ter ido de nosso ambiente, descobrimos que a suposta “civilização” já tinha chegado antes.

— Sumalee, e isso aqui? É um camping?

— Sim, há algumas áreas habilitadas para acampamento. Também dá para reservá-las pela internet — ela disse, rindo.

— Não duvidada — afirmei, enquanto pensava quanto eu gostava do som da sua risada.

Pedalamos durante algumas horas, percorrendo os quinze quilômetros de costa e parando de vez em quando para comentar algo, descansar ou parando em algum quiosque para beber alguma coisa. Em um deles vendiam ostras por um dólar, então comemos um par cada um. Para beber, aconselhado por Sumalee, pedi duas cervejas Tiger, que tinha um tigre como logotipo e era típica dali, de cor dourada pálida. Era bem suave e eu gostei. Como não podia ser diferente, brindamos por muitos dias como esse.

Vimos gente pescando com varas nas docas, famílias, casais de namorados, amigos em churrasqueiras, extensas praias de areia de uma largura que ia de dez metros a até apenas um com palmeiras e outros tipos de árvores ao fundo. A areia, no entanto, não era grande coisa, pois havia muitas garrafas de plástico jogadas pelo chão e o mar estava sempre cheio de grandes cargueiros. Também havia uma pista de patinação com obstáculos, áreas com aparatos para fazer ginástica, campos de vôlei, bancos com teto para descansar, caminhos estreitos de grandes pedras planas onde só dava para ir andando, além de muitos mapas para se orientar pelo caminho. As possibilidades eram incríveis, mas a manutenção e a limpeza não eram tanto como se esperava. Sumalee me disse que antes era melhor ainda e que nos últimos tempos havia decaído um pouco. Achei muito engraçado uma placa que proibia apontar com ponteiros laser para os aviões. Os aviões passavam muito próximo à terra porque o aeroporto de Changi não ficava longe dali. Outra queixa que se podia fazer ao lugar era o excesso de gente em quase todos os lugares, mas era preciso se levar em conta que era domingo, dia de suposta presença máxima de público. Teoricamente, nos outros dias o parque era mais tranquilo.

Quando nos cansamos de dar voltas, paramos em uma área de praia onde não havia ninguém. Já era tarde e as pessoas estavam indo para suas casas. No dia seguinte era segunda, dia de trabalho. Ficamos descalços e nos aproximamos da orla. Paramos bem rente ao mar, onde a água das ondas acariciava nossos pés de vez em quando.

— A água desta área costuma ser suja, não é muito aconselhável se banhar, apesar de termos visto algumas pessoas fazendo isso — disse Sumalee. — Em todo caso, não é permitido se afastar muito da orla a nado.

— Suja? Tem algo sujo em Cingapura? Isso, sim, é novidade. Se bem que essas praias também precisam de uma limpeza.

— Não é mesmo? É por causa de todos esses barcos que vemos aí. Ainda assim, às vezes venho aqui, me sento e me perco observando o azul do mar. Sei que do outro lado fica minha terra, minha casa, minha mãe.

Olhei para Sumalee. Por um momento, ela tinha ficado melancólica e parecia estar prestes a chorar. Passei um braço em torno de seus ombros e a aproximei com suavidade de mim.

— Deve ser difícil ficar tanto tempo longe dela e, ainda por cima, sabendo que ela precisa de você. Pense que tudo isso é por ela e que, quando tiver pago sua dívida, vocês poderão ficar juntas para sempre e será você quem a terá salvado.

— Sim, quando tiver pago minha dívida — disse, dando um suspiro. Mesmo que isso signifique tomar decisões que nem sempre gosto.

— Que decisões?

— Ah! Nada, nada. Coisas minhas.

Ficamos abraçados por um tempo, sem dizer nada. Na parte mais distante do mar dava para ver alguns catamarãs e uns caiaques amarelos dos que se podia alugar no parque. Mais longe se viam dezenas de cargueiros, todos grandes ou enormes. Acho que, se algum deles esvaziasse seus desperdícios na água ou se tivesse alguma perda de combustível, seria o suficiente para deixar as águas em um péssimo estado, por mais cuidados que fossem empregados e por mais que tentassem limpar.

A luz solar começava a cair de forma evidente. Estava começando a anoitecer. De acordo com o horário do parque, só havia iluminação ali das sete da manhã às sete da noite. Logo estaríamos no escuro e tínhamos que voltar porque não queríamos ter que refazer o caminho andando com bicicletas sem iluminação.

Sumalee se aproximou um pouco mais de mim e percebi que sua cabeça roçava meu corpo. Em imbuí de coragem e procurei sua mão com a minha. Não demorei para encontrá-la e a apertei com força. Ela me correspondeu. Tanto fazia a praia suja, a água insalubre ou tantos barcos estragando a paisagem. O céu alaranjado, o silêncio ao nosso redor perturbado apenas pelo canto de algum pássaro e sua mão segura na minha, era o paraíso.

Voltei para ela, nervoso, e com minha outra mão a segurei com suavidade pelo queixo e ergui um pouco sua cabeça de forma que nos olhássemos nos olhos a poucos centímetros um do outro. Ela olhava séria para mim, com intensidade, expectante. Abaixei minha cabeça e pousei meus lábios sobre os seus. Ela os entreabriu um pouco e eu peguei seu lábio inferior entre os meus. Passei assim um segundo, saboreando-o e, então, me afastei, devagar, deixando-o escapar de forma lenta. Por um momento achei que Sumalee ia se lançar sobre mim e me dar outro beijo, mas de repente sua expressão mudou.

— Temos… temos que ir — ela disse, com a voz trêmula.

— Acho que sim, mas não porque eu queira sair daqui. Estenderia este momento para sempre.

Sumalee não respondeu. Virou-se e puxou minha mão para que eu a seguisse. Montamos nas bicicletas e voltamos para a entrada o mais rápido que pudemos. Ainda assim, os últimos minutos percorremos quase às escuras.

Devolvemos as bicicletas e fomos andando até o ponto de ônibus de mãos dadas, sem dizer nada. Tínhamos que pegar ônibus diferentes. O primeiro a chegar foi o dela. Quando chegou ao ponto, me deu um beijo muito suave na bochecha, fez uma carícia no rosto com um olhar que dizia “não fique triste” e entrou. No meio das escadas, virou-se e me disse:

— Vamos no falando. Se cuida.

— Você também, Sumalee. Tudo bem?

Ela se virou sem responder e procurou um assento. Vi seu ônibus se afastar com uma estranha sensação. Uma mistura de euforia pelo beijo que tínhamos dado e de confusão por sua atitude depois. Não sabia muito bem o que significava. Ela não recusou o beijo, até o devolveu; mas algo a deteve logo. Ela não olhou mais para mim e tinha ficado pensativa; quase aflita, eu diria. Ainda assim, tinha falado em nos falarmos de novo. Como interpretar isso? Talvez não quisesse me beijar porque não sentia o mesmo que eu, mas não foi capaz de dizer que não. Talvez o beijo a tenha feito se lembrar de alguém querido do passado que perdeu. Talvez até em sua cultura não fosse legal se beijar tão rápido. Não fazia ideia.

Tinha que descobrir, precisava saber. Agora eu só podia pensar em como seria a próxima vez que nos víssemos: a Sumalee alegre e risonha de sempre ou a abatida e pesarosa que acabava de se despedir de mim.

Não podia esperar para descobrir a resposta.

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