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Kitabı oku: «Flores do Campo», sayfa 3

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* * *

 
– Dá-me esse jasmim de cera,
Minha flôr?
– Mas e depois se lh’o dera,
Meu senhor?
 
 
– Depois? era uma lembrança.
– Mas de quê?
– D’uma tão linda criança,
Já se vê.
 
 
– Oh tão linda! Mas, parece,
Sendo assim,
Que inda quando lhe não désse
Tal jasmim…
 
 
– Não me esquecia, de certo.
– Nunca já?
– Nunca.– Nunca, é muito incerto,
Mas… vá lá.
 
 
– E a rosa, que bem lhe fica,
Dá-m’a, flôr?
– Oh a rosa, a rosa pica,
Meu senhor!
 

Messines.

MARGARIDA

 
Oh que formosos dias, Margarida!
Esses da tua vida;
E que nublados
Meus dias desgraçados!
 
 
Nasci tambem assim risonho e meigo,
Mas hoje apenas chego
O calix da ventura
Á bocca ancioso,
Torna-se a agua impura
E o liquido que bebo
Venenoso,
Sim, venenoso o liquido que bebo.
 
 
Nem eu concebo
Como Deus me creasse
Para tormento eterno;
Elle que tão affavel, meigo e terno
Te beija a ti a face
E te embala no collo, Margarida!
A mim dar-me esta vida…
 
 
Mas vejo á sombra d’altos edificios
Miudissimas flôres
De tão subtís e delicadas côres
Que se o sol lhes chegasse
Talvez que nem resquicios
Lhes ficasse.
Com uma d’essas azas, estendida,
Me tapavas tu todo,
E d’esse modo,
Com esse escudo,
Eu ria-me de tudo
E levava esta vida alegremente.
Tenho essa fé.
 
 
Vejo tambem a flôr que nasce ao pé
D’agua corrente,
Ir tão suavemente
Levada pela agua!
Talvez até sem magua
De deixar sua mãi.
D’esse modo tambem,
Amparando-me tu a mim nos braços,
Eu seguia-te os passos,
Fosse por onde fosse;
E d’essa sorte
Até a morte
Me seria dôce.
 

Messines.

NO LEITO NUPCIAL

 
Dorme, estatua de neve,
Vergontea de marfim!
Tocar que impio se atreve
No que é sagrado assim?
 
 
Dois são: o mais, mysterio
Vedado á terra. Deus
Talvez do solio ethereo
Nem baixe os olhos seus.
 
 
Respeita-os, tapa-os, como
Japhet e Sem, o pai…
Pende, sagrado pomo!
A vista ergue-se e cai.
 
 
Ergue-se e cai, conforme
A lei, que o manda assim.
Ergue-se e… Dorme, dorme,
Vergontea de marfim!
 
 
Mas dize: o espelho a imagem
Te estampa mal te vê;
Beija-te o seio a aragem,
Doira-te o sol; porquê?
 
 
Não segue acaso a sombra
Teu corpo sempre, flôr!
E pois, porque te assombra
Meu insensato amor?
 
 
Ás vezes passas tremula
Como sagrada luz;
E os olhos dizem: vemol-a
Como no alto a cruz.
 
 
Perdoa se isto exprime
Maldade aos olhos teus;
Perdoa-me se é crime…
Amo tambem a Deus.
 
 
E á tarde quando o albergue,
No solitario val,
Incenso queima e se ergue
D’Abel o fumo igual;
 
 
Da pomba solta o vôo,
Baixa-me um olhar teu
E dize-me: perdôo;
Sim, tudo aspira ao céo!
 

Coimbra.

A MINHA MÃI

 
Patria! berço d’amor, que a alma embala
Em quanto a luz vital nos illumina,
E onde só descançado se reclina
Quem, longe d’ella, dôr contínua rala…
 
 
Se n’essa essencia, mãi! que a flôr exhala
Na essencia d’uma flôr d’essa collina,
Vês lagrimas d’amor que dentro a mina,
Com saudades de quem do céo lhe falla:
 
 
Se quando, o céo buscando, o fumo ondeia,
Quando esse valle o sol deixa indeciso,
Vês como fumo e flôr aspira, anceia
 
 
Um pai, um Deus, um céo, um paraiso,
Ah! tendo eu tudo, tudo, em minha aldeia,
Vê tu se labio meu desfolha um riso!
 

Coimbra.

BEATRIZ

 
Tu és o cheiro que exhala
Ao ir-se abrindo uma flôr,
Tu és o collo que embala
Suas primicias d’amor.
 
 
Tu és um beijo materno,
Tu és um riso infantil;
Sol entre as nuvens do inverno,
Rosa entre as flôres d’abril.
 
 
Tu és a rosa de maio,
Tu és a flammula azul,
Que atam á flecha do raio
As nuvens negras do sul.
 
 
Tu és a nuvem d’agosto,
Meu alvo vello de lã!
Tu és a luz do sol-posto,
Tu és a luz da manhã.
 
 
Tu és a timida corça
Que mal se deixa avistar;
Tu és a trança que a força
Do vento leva no ar.
 
 
És a perola que salta
Do niveo calix da flôr;
És o aljofar que esmalta
Virgineas rosas d’amor.
 
 
És a roseira que a custo
Levanta os cachos do chão,
És a vergontea do arbusto,
Anjo do meu coração!
 
 
Tu és a agua das fontes,
Tu és a espuma do mar,
Tu és o lirio dos montes,
Tu és a hostia do altar.
 
 
És o pimpolho, és o gommo,
És um renovo d’amor;
Tu és o vedado pomo…
Tu és a minha Leonor…
 
 
Tu és a Laura que eu amo,
E a minha Taboa da Lei,
E a pomba que trouxe o ramo,
E a margarida que achei.
 
 
És o lirio, és a bonina
Dos valles do meu paiz;
És a minha Catharina…
És a minha Beatriz!
 

Coimbra.

INNOCENCIA

 
Encolhe as azas, que te abrazas, louca!
O fogo mata a quem o gera, attende;
Foge e, se a vida te aborrece, estende
Um braço aos anjos, que a distancia é pouca.
 
 
Porque uma nuvem, onda transitoria
Do mar immenso, vem pousar na serra,
Não fica a nuvem pertencendo á terra:
Tu és o anjo que desceu da gloria.
 
 
Estranhas forças para ti me attrahem;
E ás vezes cedo, tua cinta enleio;
Teus olhos beijo; mas, contemplo o seio,
Tua alma dorme, e os meus braços cahem…
 
 
Desfallecidos, flôr celestial!
Como ante um berço cahe a foice erguida,
Se ha n’elle mais do que uma simples vida,
Se ha innocencia que mil vidas val.
 
 
Oh! não: teus labios o meu fel não provem:
Outros os lirios d’essa face esmaguem;
D’outros mãos impias teu sorriso apaguem,
Em quanto os labios tuas graças louvem.
 
 
Já no meu berço d’innocencia pude
Pesar as joias, que hoje em vão te invejo:
Provei os favos de illibado pejo,
Sei o que perde quem o vicio illude.
 
 
Alcantil ingreme, onde o raio é certo,
Contém mais seiva, que inda o musgo cria:
Quanto de fertil em nossa alma havia
Só deixa o ermo da saudade aberto.
 
 
Cahir no abysmo de intimos pezares
D’essas alturas onde mal te vejo,
O ponto estava derreter n’um beijo
O fio de oiro que te manda aos ares.
 
 
N’esses dois cofres, n’esse collo aonde
Tantas riquezas enterrei ciumento
(E que alta noite vela o pensamento
Pelo crystal que o coração te esconde)
 
 
Em oiro em barra, fina prata e quanto
Coalha o vasto e opulento Oriente,
Fôra em ruinas encontrar sómente
Carvão, se um dia te quebrasse o encanto.
 
 
Casta innocencia, de Deus filha e bella
Entre as mais bellas! virginal aroma!
Rosa ineffavel, que, se á luz assoma,
Haste e raiz apodreceu com ella!
 
 
Sol, que uma vez em nossa vida passas!
Flôr, que uma e neutra, como Deus, não gera;
Que se abre morre, mas sem prole, inteira
Com todo o côro das virgineas graças:
 
 
Ao vêr-te, embora meu olhar te envia
O impio incenso de Nadab, ajoelho…
Rosa da face e, não só rosa, espelho
Da face occulta de quem espalha o dia!
 
 
Se por teus membros orvalhadas flôres
Prodigas mãos da formosura entornam,
Flôres mais bellas o teu seio adornam…
Vós, lirios d’alma, virginaes amores!
 
 
O céo me encanta, como encanta o inferno.
Mysterio… espaço… mente exploradora!
Morre nas mãos o que a nossa alma adora
– Vago, impalpavel, infinito, eterno!
 

Evora.

* * *

 
A Escriptura Sagrada
Lá diz que uma mulher má
Não ha fera, não ha nada
Peor no mundo: e não ha.
 
 
Uma lá da minha aldeia,
Que era muito impertinente,
Muito má (e muito feia)
Morre um dia de repente.
Morreu; desgraçadamente
Mais tarde do que devia;
Mas em summa toda a gente
Teve a maior alegria.
 
 
Passados annos (é boa!)
Foi-lhe preciso ao coveiro
Abrir a cova, e achou-a
Ainda de corpo inteiro,
Ainda rosas na face,
Ainda signaes de vida…
Milagre! coisa sabida;
Pois mais fresca que uma alface
Ha tanto tempo enterrada,
Devendo estar reduzida
A pó, terra, cinza e nada…
 
 
Vem dar parte; e corre a vêl-a
O povo atraz do prior;
E passam logo a trazel-a
Em cima do seu andor
E a pol-a n’uma capella
De grande veneração;
(Elles ás costas com ella,
E elle a cantar canto-chão;)
Mas seja lá o que fôr,
O que é certo e mais que certo
É que santa como aquella
E nem de mais devoção,
Não ha por alli tão perto.
 
 
E dizem que não ha santos
Como nos tempos passados!
E cá opinião minha
Que muitos (quantos e quantos!)
Que ahi morrem desprezados,
Se não são canonisados
É que está cheia a Folhinha.
 

Messines.

A UM NUNO

Provando a existencia de Deus a pobres camponezes
 
Ora a provar que ha Deus, Nuno! isso é teima:
Pois ha alguma ovelha no rebanho
Que não saiba que só a mão suprema
Creava um animal d’esse tamanho!
A ***
 
 
Pois se como sempre fomos
Somos
Pétalas da mesma flôr,
E o que eu sinto, ou eu me illudo,
Tudo
Tambem sentes, gosto e dôr;
 
 
Que te arraza os olhos d’agua?
Magua
Em que eu não deva tocar?
Oh! mas se ha quem a suavise,
Dize,
Vou-lhe um suspiro levar.
 
 
Não se alcança, não se avista,
Dista
D’aqui muito o allivio, ou não?
Dos teus olhos muito; e pouco,
Louco!
Pouco do teu coração.
 
 
Sei o que vai em teu seio;
Sei-o
Porque em materia d’amor,
Debalde os labios se calam!
Fallam
Ainda os olhos melhor!
 

Batalha.

LUZ DA FÉ

 
Tu, sol! já não me alegras
Como alegravas, não:
Vós, sim, ó nuvens negras,
Relampago e trovão!
 
 
Quando o trovão me aterra,
Recordo-me de Deus;
Abalo cá da terra
E vou por esses céos:
 
 
E lá n’essas alturas,
Por onde só a fé,
Em regiões tão puras,
Nos deixa tomar pé;
 
 
Voar, pairar nos ares
Como uma aguia cá,
De lá só vejo os mares,
E é porque a luz lhes dá.
 
 
O mais como se apanha
E empolga com a mão,
Seja a maior montanha,
Seja a maior nação;
 
 
O mais fica no fundo
D’esse infinito mar;
O mais pertence ao mundo,
É escusado olhar.
 
 
Deus deixa ás creaturas
Cá baixo a sua cruz,
E fecha as almas puras
N’um circulo de luz.
 
 
As chagas, as miserias
Cá d’este lamaçal,
Nas regiões ethereas,
Lá não se avista tal.
 
 
É só a luz, que foge,
Mais uma irmã que tem
– A alma, que até hoje
Não a prendeu ninguem;
 
 
São essas duas luzes
(Qual d’ellas tão subtil
Que ás forcas e ás cruzes
Do despota mais vil,
 
 
Se escapam de tal modo
Que é de o fazer raivar)
Cá d’este mundo todo
O que se vê brilhar!
 
 
Porque uma e outra aspira
Continuamente ao céo,
A alma que suspira,
E a luz que Deus nos deu.
 
 
Porque uma e outra é pura,
Perpetua e immortal;
E a sua formosura,
Não ha nenhuma igual.
 
 
Quem é, ó luz formosa,
Ó minha bella irmã!
Quem é que faz a rosa
Abrir pela manhã?…
 
 
Eu amo-te e (as trevas
Não teem esplendor!)
Tu só é que me levas
O tempo e o amor.
 
 
Mas eu estimo o raio
E gósto do trovão,
Por vêr que quando cáio
É que me elevo então.
 
 
Por vêr que em tendo medo
Mais se me aviva a fé;
E a fé, não ha rochedo
Firme como ella é.
 
 
Por cima da desgraça
Ou seja do que fôr,
Ella, não olha, passa
De fito no Senhor!
 
 
A essa luz divina,
Ó luz! é que tu és
Tão pura e crystallina
Como o Senhor te fez.
 
 
Por isso a noite escura,
Ah! se eu a preferi
Á tua luz tão pura,
É por amor de ti!
 

Messines.

RESPOSTA

A A. DO QUENTAL
 
Tal é a confiança que te inspira
Estes reis, estes povos, esta gente,
Que é para o céo que appella e se retira
Tua alma já de triste e descontente.
 
 
Mas Deus então seria ou impotente
Ou seria um Deus barbaro: mentira!
Não póde suspirar eternamente
Quem ha já tantos seculos suspira.
 
 
Vai ganhando terreno a luz brilhante,
Luz toda liberdade e toda amor
Que ha-de salvar o mundo agonisante.
 
 
A idéa, esse Verbo creador
Ha-de fazer que um dia e não distante
Só o nome de imperio inspire horror.
 

Messines.

* * *

 
Meu casto lirio,
Terno delirio,
Gloria e martyrio
Do meu amor!
Amo-te como
A haste o gomo,
O labio o pomo
E o olho a flôr.
 
 
Se ao meu ouvido
Sôa um rugido
Do teu vestido,
Que ouço roçar;
Que som me vibra
Não sei que fibra
Que me equilibra
A mim no ar!
 
 
E que harpa santa
É que me encanta
E enche de tanta
Consolação,
Quando uma falla
Terna se exhala
D’onde se embala
Teu coração!
 
 
Quando te vejo
D’um simples beijo
Córar de pejo,
Mudar de côr,
Que susto é esse
Que me parece
Te empallidece,
Rosa d’amor!
 
 
Quando no leito,
Teu niveo peito
Sonho que estreito
E aperto ao meu;
Vendo tão perto
O céo aberto,
Porque desperto…
Anjo do céo!
 
 
Não fujas, rosa!
Não fujas, goza
Manhã mimosa,
Manhã d’amor;
De folha em folha
A flôr se esfolha
Bem cedo, e olha
Que és como a flôr!
 

Coimbra.

VENTURA

 
O sol na marcha luminosa vôa
Lançando á terra magestoso olhar;
Passa cantando quem o ar povôa
E a praia abraça venturoso o mar.
 
 
No bosque o vento dôce canto entôa,
Ouvem-se em côro as multidões cantar;
Que a um só triste o coração lhe dôa,
Que eu seja o unico a soffrer, chorar…
 
 
Por ti, saudade… de quem vai tão perto
E a quem dos olhos e das mãos perdi
N’este tão ermo lugubre deserto!
 
 
Por ti, ventura… que uma vez senti;
Por ti, que ás vezes a meu peito aperto
E… o peito aperto sem te vêr a ti!
 

Evora.

* * *

 
Arida palma
Tem seu licôr,
Tem como a alma
Tem seu amor;
Tem como a hera
Tem seu abril,
Tem como a fera
Tem seu covil.
 
 
Tem toda a planta
Que o sol queimou
Lagrima santa
Que a orvalhou,
E o passarinho
Que hontem nasceu
Lá tem seu ninho
Que a mãi lhe deu.
 
 
Só eu na magua
Do meu penar
Sou como a agua
Que anda no mar,
Sou como a onda
Que á busca vem
D’onde se esconda,
E onde, não tem!
 
 
Folha revolta
Que anda no chão,
Lagrima solta
Do coração;
Corpo sem vida,
Haste sem flôr,
Folha cahida
Do meu amor.
 

Coimbra.

A UNS OLHOS AZUES

 
Cahe a folha da rosa pudibunda,
Cahe a rosa da face virginal,
Cahe das nuvens a aguia moribunda,
Cahe o sol na montanha occidental.
 
 
Cahe a onda na praia, cahe do somno
O poeta na luz; e cahe das mãos
Dos despostas o sceptro, elles do throno,
Como a seus pés cahiram seus irmãos!
 
 
Cahe dos labios o riso; cahe dos olhos
A lagrima tambem, que d’alma sahe;
Cahe a rocha no mar, cahe nos abrolhos
A flôr de liz; de louro a folha cahe.
 
 
Cahe do céo a centelha incendiaria,
A nuvem cahe se um sopro Deus lhe dá,
Cahe ante o dia a noite solitaria
Como o falso Dagon ante Jehovah.
 
 
Cahe tudo, flôr! cahe tudo; eu só não cáio:
Mais do que um rei, que o sol, igual a Deus,
Cahir, mulher! só posso á luz d’um raio
Se elle cahir do céo dos olhos teus!
 

Luso.

HERESTA

 
Que magua ou que receio
Dos olhos te desata
Aljofares de prata
No jaspe do teu seio?
 
 
Bem intima ser deve
A pena que te opprime,
Flôr tenra como o vime,
Flôr pura como a neve!
 
 
– Compunge-te isso, dóe-te
Vêr esmaltando o calix
Da erma flôr dos valles
O balsamo da noite?
 
 
Se aos olhos nos affluem
As lagrimas, parece
Que a dôr nos adormece,
E as maguas diminuem.
 
 
– Heresta! pois inclina
Na minha a tua face
E deixa me repasse
Teu balsamo, bonina!
 
 
Abraça-me, divide
Commigo esse consolo,
Enlaça-te ao meu collo
Como ao olmeiro a vide!
 
 
Ás vezes tambem quando
Os olhos se me estendem
Ás luzes, que se accendem
No templo venerando;
 
 
Tão intima saudade,
Tão intimo desejo,
D’um mundo, que não vejo,
Me inspira a immensidade…
 
 
Que o pranto se agglomera
Na palpebra, onde morre;
Sim, gela-se, não corre,
Tal é a dôr que o gera!
 
 
– É Deus que a si te aspira,
É Deus que ao céo te chama;
Que em tudo amor derrama,
A tudo amor inspira!
 
 
Canta-o, o justo, o santo!
E a flôr que o campo adorne
Thuribulo se torne
Mal te ouça o dôce canto.
 
 
– Inspira-o pois, inspira,
Virgem de intacto pejo!
Seja um teu riso o harpejo
E um teu cabello a lyra!
 
 
O sol já da montanha
Te disse adeus! adeus!
E a cupula dos céos
Ficou pallida e estranha.
 
 
E aquella, que a bondade
De Deus em si reflecte,
Em quanto ao sol compete
Mostrar-lhe a magestade,
 
 
Á luz extrema d’hoje
Ergueu livida a face
Com medo que avistasse
Quem busca, e de quem foge.
 
 
Fluxo e refluxo eterno
D’alma contradictoria,
Que após continua gloria,
Anda em continuo inferno.
 
 
Poeta! é copia tua,
Supplicio igual te inquieta.
Mas que alma de poeta
Teu seio arqueia, oh lua?
 
 
Amor, amor como este,
Visão timida e casta
Em giro eterno arrasta
A lampada celeste.
 
 
Como esse que a deshoras
A ti te ergue a cabeça
E aos ermos te arremessa
Em busca do que adoras.
 
 
Mas, ah! pallido globo!
É pio d’ave nocturna,
Echo em alguma furna
Do uivo d’algum lobo?
 
 
Ouço uma voz… escuta:
É ella a voz que se ouve?
Ou monge que inda louve
A Deus, n’alguma gruta!
 
 
Quem lá em baixo á escarpa
D’um ingreme penedo
No tremulo arvoredo
Entorna os ais d’uma harpa?
 
 
É ella a minha Heresta,
A minha branca ermida
Do ermo d’esta vida,
Mais erma que a floresta?
 
 
Tu, lua, que no val
D’Aialon paraste,
Já viste em sua haste
Suspenso lirio igual?
 
 
Não é, não é mais bella
A rosa entre os abrolhos,
Nem ha como os seus olhos
No céo nenhuma estrella!
 
 
É á luz d’uma alvorada,
Apenas desabrocha,
Nos angulos da rocha
Vêl-a despedaçada!
 
 
Vós, lobos! ide em bando,
Trepai pelo rochedo,
Uivai, mettei-lhe medo,
Levai-a recuando!
 
 
Que faz quem se aproxima
D’um precipicio, diz-m’o?
Que buscas tu no abysmo
Se o céo é lá em cima?
 
 
Não tarda muito, creio,
Que acabe esta ancia nossa,
E Deus unir-nos possa
No seu eterno seio.
 
 
É lá que a alma falla,
Lá que o amor se mede,
Que em brilho o sol excede,
E em gloria a Deus iguala!
 
 
Na nuvem do futuro
Teus vagos olhos prega!
Depois de noite negra
Vem sempre um céo mais puro.
 
 
E agora, se o desejo
Te satisfiz, em premio
D’um canto d’alma gemeo,
Um gemeo e dôce beijo!
 

Coimbra.

Yaş sınırı:
12+
Litres'teki yayın tarihi:
24 ağustos 2016
Hacim:
80 s. 1 illüstrasyon
Telif hakkı:
Public Domain