Kitabı oku: «Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III», sayfa 9
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SCENA VII
SOSEA
Ay Dios, como me acogí!
Ó Júpiter alto y bueno,
Cuan cerca la muerte vi!
Quiérome ir á mi Señor
Contarle cuanto hé pasado;
Y él me dirá de grado,
Si yo soy su servidor,
En que cosa me hé tornado.
ACTO TERCEIRO
SCENA I
Jupiter e Alcmena
JUPITER
Toda a pessoa discreta
Terá, Senhora, assentado,
Que hum bem muito desejado
Se ha de alcançar por dieta,
Para ser sempre estimado.
E quem alcançado tem
Tamanho contentamento;
Por conservá-lo convem
Que tome por mantimento
A fome de tanto bem.
E por isso hei de tomar
Este tempo tão ditoso
Para a frota visitar;
E despois quando tornar,
Tornarei mais desejoso.
Que pois tão bom captiveiro
Me tẽe presa a liberdade,
Eu lhe prometto em verdade
Que torne ainda primeiro,
Que mo peça a saudade.
ALCMENA
Aindaque se possa ir
Mais asinha do que creio,
Como hei d'eu consentir
Que se haja de partir
Na mesma noite que veio?
JUPITER
Forçada he minha tornada,
Mas muito cedo virei;
Porque desque foi chegada
A este porto a Armada,
Ainda a não visitei.
ALCMENA
Pois, Senhor, tão pouco estais
Com quem vistes inda agora?
Faça-se como mandais.
JUPITER
Vós me vereis cá, Senhora,
Primeiro do que cuidais.
SCENA II
Amphitrião e Sosea
AMPHITRIÃO
Emfim tu, que estás aqui,
Estavas ja lá primeiro?
SOSEA
Señor, crea que es ansí.
AMPHITRIÃO
Eu nunca entendi de ti,
Qu'eras tambem chocarreiro.
SOSEA
Señor, yo que estoy presente,
No soy Sósea su criado?
AMPHITRIÃO
Creio que não certamente,
Porque Sósea era avisado,
E tu es mui differente.
SOSEA
Pues, Señor, si en mí se vé
Que no soy quien de antes era,
Vuélvome.
AMPHITRIÃO
E para que?
SOSEA
Ver se á dicha me quedé
Durmiendo por la galera.
AMPHITRIÃO
Pois me queres fazer crer
Huma doudice tão rasa,
Mais quero de ti saber:
Como não entraste em casa
D'Alcmena minha mulher?
SOSEA
Aunque Sósea quisiese,
La verdad no negará:
Aquel yo que allá está,
No quiso que á casa fuese
Estotro yo, que iba allá.
Y con furia tan crecida
Á mí se vino aquel hombre,
Que yo me puse en huida,
Y ansí le dejé mi nombre,
Por me dejar él la vida.
AMPHITRIÃO
Quem seria tão ousado,
Que tanto mal te fizesse?
SOSEA
Yo mismo Sósea llamado,
Que á casa era ya llegado,
Antes que de acá partise.
AMPHITRIÃO
Tu chegaste antes de ti?
Este he gentil disparate.
SOSEA
Pues mas le digo daqui,
Que vengo huyendo de mí,
Porque yo mismo no me mate.
AMPHITRIÃO
Erão dous, ou era hum só,
Quem te fez assi fugir?
SOSEA
Pésete quien me parió:
Digo, que era un solo yo:
Mil veces lo hé de decir?
Puede ser que naceria
De aquel hombre otro alguno,
Como aquel de mí nacia;
Porque aunque fuese él uno,
Por mas de cuatro tenia.
Él tenia mi aparencia,
Empero yo nunca vi
Tal fuerza, ni tal potencia:
Esta sola diferencia
Le tengo hallado de mí.
AMPHITRIÃO
Pudeste delle saber
Cujo era?
SOSEA
Quien? aquel yo?
Tuyo, Señor, dijo ser.
AMPHITRIÃO
Nunca eu tive mais que hum só,
E esse não quizera ter.
SOSEA
Pues, Señor, si el bien doblado
Te le muestra agora Dios,
Debe ser de ti alabado;
Pues de uno solo criado
Te ha hecho agora dos.
AMPHITRIÃO
Antes para que conheças,
Que cousa he mao servidor,
Me pezará se assi for;
Que de tão ruins cabeças,
Quantas mais, tanto peor.
E ja que são tão incertos
Teus ditos para se crer;
Muito melhor deve ser
Que deixe teus desconcertos,
E va ver minha mulher.
SCENA III
ALCMENA
Que fado, que nascimento
De gente humana nascida,
Que d'escasso e avarento,
Nunca consentio na vida
Perfeito contentamento!
Amphitrião, que mostrou
Hum prazer tão desejado
A quem tanto o desejou;
Na noite, que foi chegado,
Nessa mesma se tornou!
De se tornar tão asinha
Sinto tanto entristecer
O sentido e alma minha,
Que certo que me adivinha
Algum novo desprazer.
Mas parece este que vem,
Se não estou enganada:
Se elle he, venha com bem,
Pois que com sua tornada
Tão transtornada me tem.
SCENA IV
Amphitrião, Alcmena e Sosea
AMPHITRIÃO
Com que palavras, Senhora,
Poderei engrandecer
Tão sublimado prazer,
Como he ver chegada a hora,
Em que vos pudesse ver?
Certo grão contentamento
Tive de meu vencimento;
Mas maior o hei de mim,
De me ver pôsto no fim
De tão longo apartamento.
ALCMENA
Ja eu disse o que sentia
De vinda tão desejada.
Mas diga-me todavia:
Como não foi ver a Armada,
Que me disse hoje este dia?
AMPHITRIÃO
Della venho eu inda agora
Desejoso de vos ver,
Muito mais que de vencer.
Mas que me dizeis, Senhora,
Que hoje me ouvistes dizer?
ALCMENA
Se não estava remota,
Certamente que lhe ouvi,
Quando hoje partio daqui,
Que tornava a ver a frota.
Porque era forçado assi.
AMPHITRIÃO
Sósea.
SOSEA
Señor, aqui estoy yo.
AMPHITRIÃO
Tu ouves tal desconcêrto?
SOSEA
Grandes orejas ganó,
Pues estando en casa oyó
Quien estava allá nel puerto!
AMPHITRIÃO
Quando dizeis, que m'ouvistes?
ALCMENA
Hoje, quando vos partistes.
AMPHITRIÃO
Donde?
ALCMENA
Daqui, de me ver.
AMPHITRIÃO
Nunca vi grande prazer,
Que não tenha os cabos tristes.
Quantos males d'improviso
Que causão grandes mudanças!
Que mulher de tanto aviso,
Agora minhas lembranças
A tẽe fóra de juizo!
ALCMENA
Quereis-me fazer cuidar
Que poderia sonhar
O que pelos olhos vi?
Nunca vos eu mereci
Quererdes-me exprimentar.
AMPHITRIÃO
Postoque he para pasmar
Ver hum caso tão estranho,
Todavia hei de attentar,
Se poderei concertar
Hum desconcêrto tamanho.
Quando dizeis que vim cá?
ALCMENA
Esta noite que passou.
AMPHITRIÃO
Dae-me alguem que aqui se achou,
Que me visse.
ALCMENA
Esse que hi está,
Sósea que comvosco andou.
AMPHITRIÃO
Sósea, podes-te lembrar,
Que hontem me vistes aqui?
SOSEA
Nunca yo supe de mí
Que me pudiese acordar
De aquello que nunca vi.
ALCMENA
Ora eu creo, e he assi,
Que ambos vindes conjurados,
Para zombardes de mi;
Mas eu darei hoje aqui
Sinaes que sejão provados.
AMPHITRIÃO
Que sinaes póde ahi haver
De mentira tão notoria,
Que nem foi, nem póde ser?
ALCMENA
Donde vim eu a saber
Novas de vossa victoria?
AMPHITRIÃO
Que novas?
ALCMENA
Dir-vo-las-hei,
Assi como mas contastes:
Que na batalha matastes
Aquelle soberbo Rei,
E tudo desbaratastes:
Não fazendo resistencia
N'huma batalha tão crua,
Dando-vos obediencia,
Vos derão huma copa sua,
Lavrada por excellencia.
AMPHITRIÃO
Sósea he culpado só
Nestes acontecimentos.
SOSEA
Señor, son encantamientos,
Porque aquel hombre, que es yo,
Le contaria estos cuentos.
AMPHITRIÃO
Quem he esse, que vos deu
Taes novas, saber queria?
ALCMENA
Quem mo pergunta.
AMPHITRIÃO
Quem? Eu!
Quereis-me fazer sandeu?
ALCMENA
Mas vós me fazeis sandia.
AMPHITRIÃO
Ora quero perguntar:
Que fiz sendo aqui chegado?
ALCMENA
Puzemos-nos a cear.
AMPHITRIÃO
E despois de ter ceado?
ALCMENA
Fomos-nos ambos deitar.
AMPHITRIÃO
Nunca queira Deos que possa
Achar-se na minha honra
Nenhuma falta nem mossa:
Seja isto doudice vossa,
Antes que minha deshonra.
SOSEA
Bien lo supe yo entender,
Que era esto encantaciones;
Y ahora me habrá de crer
Que dos Sóseas puede haber,
Pues hay dos Amphitriones.
ALCMENA
Com me quererdes tentar
Tão torvada me fizestes,
Que me não pôde lembrar
Que vos mandasse mostrar
A copa que me hontem déstes.
AMPHITRIÃO
Eu? copa? Se isso ahi ha,
Que estou doudo cuidarei.
SOSEA
Señor, bien guardada está.
ALCMENA
Bromia?
BROMIA, de dentro
Senhora.
ALCMENA
Dae cá
A copa que hontem vos dei.
SOSEA
Pues yo parí otro yo,
Y vós otro Amphitrion,
No es mucha admiracion,
Si la copa otra parió,
Ni aun fuera de razon.
SCENA V
Amphitrião, Alcmena, Sosea e Bromia
BROMIA
Eis-aqui a copa vem,
Testimunho da verdade.
AMPHITRIÃO
Oh estranha novidade!
ALCMENA
Poder-me-ha dizer alguem
Que o que digo he falsidade?
AMPHITRIÃO
Sósea, quando hontem cá vinhas,
Poder-me-has negar, ladrão,
Que lhe déste as novas minhas,
E mais a copa que tinhas
Guardada na tua mão?
SOSEA
Señor, que no pude, no,
Ver á mi Señora Alcmena:
Si aquel eso acá ordenó,
No lleve este yo la pena
Del mal que hizo el otro yo.
AMPHITRIÃO
Ora eu não sei entender
Tal caso, nem lhe acho fundo:
Com tudo venho a dizer,
Que ha tantos males no mundo,
Que tudo se póde crer.
Se vos trouxer quem vos diga
Como esta noite dormi
Na nao, crereis que he assi?
ALCMENA
Nenhuma cousa me obriga
A que não creia o que vi.
AMPHITRIÃO
Se o Patrão aqui vier,
Que he homem d'autoridade,
Crereis o que vos disser?
ALCMENA
Sim, que ninguem póde haver
Que me negue esta verdade.
AMPHITRIÃO
Eu estou em concrusão
D'hoje desembaraçar
Tão enleada questão:
Á nao me quero tornar
A trazer cá Belferrão.
Sósea, até minha tornada
Fica nesta casa em vela;
Qu'eu armarei tal cilada
A quem ma a mim tẽe armada,
Que venha hoje a cahir nella.
SCENA VI
Alcmena e Bromia
ALCMENA
Oh mulher triste e suspensa
Da mais alta confusão
Que nunca vio coração!
Em que mereces a offensa,
Que te faz Amphitrião?
Sempre de mi foi amado,
Tanto quanto em mi se sente,
Co'o coração tão liado,
Que se de mi era ausente,
Nelle o via figurado.
E pois mulher, que cumprisse
Melhor qu'eu fidelidade,
Não a vi, nem quem me visse
Que dos limites sahisse
Hum pouco da honestidade.
Pois porque he tão maltratada
Innocencia tão singella?
Que a pena mais apertada,
He a culpa levantada
Ao coração livre della.
Mas ja que minh'alma está
Sem culpa do que padeço,
Seja o que for; qu'eu conheço
Que a verdade me porá
No qu'eu pola ter mereço.
Bromia?
BROMIA
Senhora.
ALCMENA
Hi mandar
A Feliseo, que vá
Meu primo Aurelio chamar;
Que lhe quero perguntar
Que conselho me dará.
E pois que Amphitrião
Vai buscar somente quem
Lhe ajude a sua tenção,
Quero eu ter aqui tambem
Quem me defenda a razão.
ACTO QUARTO
SCENA I
Jupiter, Alcmena e Sosea
JUPITER
Grão desconcêrto tẽe feito
Amphitrião com Alcmena!
Qualquer delles tẽe direito:
Eu sou o que venço o preito,
E ambos págão a pena.
Quero-me ir lá desfazer
Tão trabalhosa demanda,
Por nos tornarmos a ver;
Porque, emfim, quem muito quer
Com qualquer desculpa abranda.
E pois ja que a affeição
Ha de mudar tão asinha,
Quero ir alcançar perdão
Da culpa, que sendo minha,
Parece d'Amphitrião.
ALCMENA
Parece que torna cá
Amphitrião, que ja se hia:
Não sei a que tornará.
Senão se lhe peza ja
Dos enganos que tecia.
JUPITER
Senhora, não haja error
Que tantos males me faça,
Porque se o contrário for,
Pequeno será o amor,
Que manencória desfaça.
E pois com tanta alegria
De tantos perigos vim,
Pezar-me-ha se achar no fim,
Que huma leve zombaria
Vos possa aggravar de mim.
ALCMENA
Com palavras de deshonra
Não se ha de tratar quem ama;
Nem zombaria se chama,
Por exprimentar a honra,
Pôr em tal perigo a fama.
Bem tive eu para mim,
Que era aquillo experiencia.
JUPITER
Errei no que commetti:
Bem me basta a penitencia
De quanto me arrependi.
E se fiz algum error,
Com que vosso amor se mude
De quem vo-lo tẽe maior;
Não exprimentei virtude,
Mas exprimentei amor.
Que se com caso tão vário
Folguei de vos agastar,
Foi amor accrescentar;
Porque ás vezes hum contrário
Faz seu contrário avisar.
Daqui vem, que a leve mágoa
Firmeza e affeições augmenta,
Como bem se vê na frágoa,
Onde o fogo se accrescenta,
Borrifando-o com pouca ágoa.
Se hum mal grande se alevanta
N'hum coração que maltrata,
A affeição se desbarata;
Porque onde a ágoa he tanta
O fogo d'amor se mata.
E pois tive tal tenção,
Perdoae, Senhora, a culpa
Deste vosso coração.
ALCMENA
Não se alcança assi perdão
D'erro que não tẽe desculpa.
JUPITER
Ora pois assi tratais
Quem em tanto risco pôs
O amor que vós negais,
Eu m'ausentarei de vós
Onde mais me não vejais.
Que, pois desculpa não tem
Coração que tanto quer,
Vou-me; que não será bem
Que quem vós não podeis ver,
Que possa mais ver ninguem.
Se algum'hora meu cuidado
Vos der dor, em que pequena;
Peço-vos, pois fui culpado,
Que vos não peze da pena
De quem vos foi tão pezado.
E despois que a desventura
Puzer este coração
Debaixo da sepultura,
As letras na pedra dura
Vossa dureza dirão.
Isto vos hei de dizer,
Que m'ensinou minha dor:
Se quizerdes leda ser,
Nunca exprimenteis amor
Em quem vo-lo não tiver.
Deixae-me ir; não me tenhais.
ALCMENA
Amphitrião, não choreis!
Amphitrião!
JUPITER
Que quereis,
Ou para que nomeais
Homem, que ver não podeis?
ALCMENA
Amphitrião, s'eu causei
Com manencória pequena
Cousa, com que o magoei;
Eu quero cahir na pena
Dessa culpa que lhe dei.
JUPITER
Sempre serei magoado
Se vossa má condição
Me não perdôa o passado.
ALCMENA
Perdôo, e peço perdão
De lhe não ter perdoado.
SOSEA
No le perdone, Señora,
Hasta que con devocion
Tambien me pida perdon;
Que bien se me acuerda ahora
Que me ha llamado ladron.
JUPITER
Sósea?
SOSEA
Señor.
JUPITER
Vae buscar
O Piloto Belferrão;
Dir-lhe-has, se desembarcar,
Que me parece razão
Que venha hoje cá cear.
SOSEA
Si, Señor, voy á la hora.
JUPITER
De nenhuma qualidade
Cure de fazer demora.
E nós vamos-nos, Senhora,
Confirmar nossa amizade.
SCENA II
MERCURIO
Grandes revoltas vão lá.
Grandes acontecimentos!
Cumpre-me que esteja cá,
Em quanto meu pae está
Em seus desenfadamentos.
Porque vi Amphitrião
Vir da nao mui apressado;
E tendo corrido e andado,
Não pôde achar Belferrão,
Que lhe era bem escusado.
Parece-me que virá
Ver se lhe abre aqui alguem;
Mas, porém, se chega cá,
Ja póde ser que se vá
Mais confuso do que vem.
SCENA III
Mercurio e Amphitrião
AMPHITRIÃO
Quiz-nos nossa natureza
Com tal condição fazer,
Que ja temos por certeza
Não haver grande prazer,
Sem mistura de tristeza.
Este decreto espantoso,
Que instituio nossa sorte,
He tal e tão rigoroso,
Que ninguem antes da morte
Se póde chamar ditoso.
Com esta justa balança
O Fado grande e profundo
Nos refreia a esperança,
Porque ninguem neste mundo
Busque bem-aventurança.
Eu, que cuidei de viver
Sempre contente de mi
Com tamanho Rei vencer,
Venho achar minha mulher
De todo fóra de si.
Mas d'outra parte, que digo?
Que s'he verdade o que vi,
E o que ella diz he assi;
Virei a cuidar comigo
Qu'eu sou o fóra de mi.
Quero ver se a acho ja
Fóra de tão seccos nós.
Ó de casa?
MERCURIO
O de allá?
Quien sois?
AMPHITRIÃO
Abre.
MERCURIO
Santo Dios!
Pues no os conocen acá.
AMPHITRIÃO
Oh que gentil desvario!
Abri-me ora se quizerdes.
MERCURIO
No haré, que en mí confio
Que de fuera dormiredes,
Que no comigo, amor mio.
(Que cancion para oir!)
AMPHITRIÃO
Ah Sósea! zombas de mi?
(Ora quero-me fingir
Que ainda o não conheci,
Por ver se me quer abrir)
Ah Senhor, não abrireis?
MERCURIO
Qué quereis, hombre, por Dios?
AMPHITRIÃO
Duas palavras de vós.
MERCURIO
Tengo dicho mas de seis,
E ahora me pedis dos?
De fuera podeis dormir,
Que entrar no podeis acá.
AMPHITRIÃO
Ora acabae, abri lá.
MERCURIO
Digo que no quiero abrir:
Dije dos palabras ya.
AMPHITRIÃO
Ora sus, bargante, abri.
MERCURIO
Si no te vuelves de aqui,
Á gran peligro te ofreces.
AMPHITRIÃO
Velhaco, não me conheces.
Ou estás fóra de ti?
MERCURIO
Bonito venis, amor.
Quien sois, que hablais tan osado?
AMPHITRIÃO
Abre, que sou teu Senhor.
MERCURIO
Vuélvase de esotro lado,
Y conocerlehé mejor.
AMPHITRIÃO
Sósea moço.
MERCURIO
Así me llamo,
Huélgome que lo sepais;
Empero digo que os vais,
Que Amphitrion es mi amo;
Vos id buscar quien seais.
AMPHITRIÃO
Pois quero saber de ti:
Eu quem sou?
MERCURIO
Y quien sois vós?
Como os llaman?
AMPHITRIÃO
Abri.
MERCURIO
Á vos os llaman Abri?
Pues, Abri, andad con Dios.
AMPHITRIÃO
Quem ha, que possa soffrer
Em sua honra tal destrôço,
Que para me endoudecer
Me tẽe negado a mulher,
E agora me nega o moço?
MERCURIO
Mira el encantador
Como se lastima y llora,
Y fuese tomar ahora
La forma de mi Señor,
Para engañar mi Señora.
Pues esperad, y no os vais,
Por un espacio pequeño;
Verná quien representais,
Y él os hará que volvais
El falso gesto á su dueño.
AMPHITRIÃO
Vae, velhaco, e chama cá
Esse falso feiticeiro;
Que se elle lá dentro está,
Esta espada julgará
Qual de nós he o verdadeiro.
SCENA IV
Amphitrião, Sosea e Belferrão
BELFERRÃO
Ora ninguem presumíra
Que tinhas tão pouco siso;
Pois vás achar d'improviso
Tão bem forjada mentíra,
Que me faz cahir de riso.
Hum moço, que alevantou
Tal graça, nunca nasceo:
Porque vos jura que achou
Que ou elle em dous se perdeo,
Ou de hum dous se tornou.
SOSEA
Patron, que no burlo, no:
En uno son dos unidos,
Y en dos cuerpos repartidos;
Yo soy él, y él es yo,
De un padre y madre nacidos.
BELFERRÃO
Esse tu que lá estás,
Tão velhaco he como ti?
SOSEA
Mas aun pienso que es mas:
Por delante y por detrás
Todo se parece á mí.
Y fue gran merced de Dios
Ayuntar á mí mas uno,
Que peor fuera de nos,
Si Dios me hiciera ninguno,
Que no de uno hacer dos.
BELFERRÃO
Assi que, se te perdeste
Vieste a cobrar mais hum:
Mui gentil conta fizeste,
Pois que perdido soubeste
Que eras dous, sendo nenhum.
SOSEA
Pues teneis por abusion
Verdad tan clara, y tan rasa,
Aunque pone admiracion;
Quiera Dios, que allá en casa
No halleis otro Patron.
AMPHITRIÃO
O Patrão, que fui buscar,
Parece que vejo vir:
Não sei quem o foi chamar;
Mas que me ha de aproveitar
Se me não querem abrir?
Ah Belferrão!
BELFERRÃO
Ah Senhor!
Ja sinto que fui culpado;
Porque quem he convidado,
Se tão vagaroso for,
Merece não ser chamado.
AMPHITRIÃO
A vós quem vos convidou?
BELFERRÃO
Sósea, por mandado seu.
AMPHITRIÃO
Disso, Patrão, não sei eu;
Que Sósea ja me negou,
E ja se não dá por meu.
E se alguem vos foi dizer
Qu'eu vos chamo á minha mesa;
Mal vos dara de comer
Quem de todo lhe he defesa
A casa, e mais a mulher.
BELFERRÃO
Quem he esse tão ousado,
Que vos isso faz, Senhor?
AMPHITRIÃO
Sósea, creio que enganado
Por algum encantador,
Que a honra me tẽe roubado.
BELFERRÃO
Se elle aqui comigo vem,
Isso como póde ser?
AMPHITRIÃO
Ah! que a íra que vou ter,
Tão cega a vista me tem,
Que mo não deixava ver.
Porque razão, cavalleiro,
Não me abris quando vos mando?
Vós fazeis-vos chocarreiro?
SOSEA
Yo Señor? y como? y cuando?
AMPHITRIÃO
Quereis-lo saber primeiro?
Esperae, dir-se-vos-ha,
Mas será por outro son.
SOSEA
Ah Señor Amphitrion,
Porque matándome está,
Sin delito, y sin razon?
AMPHITRIÃO
Agora que vos eu dou
Me chamais Amphitrião,
E para me abrirdes não?
BELFERRÃO
Este moço em que peccou?
Porque pena sem razão?
Não mais por amor de mi.
AMPHITRIÃO
Não, que não sou seu Senhor;
Eu sou hum encantador.
Não o dizeis vós assi,
Ladrão, perro, enganador?
SOSEA
Porque fuy presto á llamar
Por su mandado al Patron,
Me quiere ahora matar?
AMPHITRIÃO
Quem vo-lo mandou buscar?
SOSEA
Si no hay otro Amphitrion,
Vuestra merced sin dudar.
AMPHITRIÃO
Eu te mandei?
SOSEA
Si Señor,
Si otro no.
AMPHITRIÃO
Outro ha aqui,
Por quem tu zombes de mi?
Pois só desse encantador
Me quero vingar em ti.
SOSEA
Oh Júpiter, á quien bramo
Por su bondad que me vala!
Pues porque Sósea me llamo,
Yo mismo, y despues mi amo,
Me dieron venida mala!
ACTO QUINTO
SCENA I
Jupiter, Belferrão, Sosea e Amphitrião
JUPITER
Quem he o tão atrevido,
Que aqui ousa de fazer
Tão revoltoso arruido
Com meus moços, sem temer,
Que fui sempre tão temido?
Quem aqui faz união,
Toma mui grande despejo.
BELFERRÃO
Oh grande admiração!
Vejo eu outro Amphitrião,
Ou he sonho isto que vejo?
SOSEA
No mirais la encantacion,
Que aquel hizo á mi Señor?
El que sale, Belferron,
Es el cierto Amphitrion,
Que estotro es encantador.
JUPITER
Sósea?
SOSEA
Mi Señor, ya vó.
JUPITER
Patrão, só por vós espero.
SOSEA
No os lo dicia yo,
Que este era el verdadero,
Y esse que allá queda, no?
AMPHITRIÃO
Bargante, aonde te vás?
Fazes teu Senhor sandeu?
Pois espera, e levarás.
JUPITER
Ó lá, tornae por detrás,
Não deis no moço, que he meu.
AMPHITRIÃO
Vosso?
JUPITER
Meu.
AMPHITRIÃO
Póde isto haver,
Que outrem minhas cousas tome?
Vós galante haveis de ser,
O que me tomais o nome,
Casa, moços e mulher.
Eu vos farei conhecer
Com quem tendes esse trato.
JUPITER
Sósea?
SOSEA
Señor.
JUPITER
Vae dizer,
Que apparelhem de comer,
Em quanto este doudo mato.
BELFERRÃO
Oh Senhor, não seja assim,
Haja em vós concêrto algum!
E senão, pois aqui vim,
Farei que só tome em mim
Os golpes de cada hum.
JUPITER
Patrão, vossa boa estrella
Me fara deixar com vida
Quem me não merece tella.
AMPHITRIÃO
Não a tenho eu merecida,
Pois que vos deixo com ella.
BELFERRÃO
O homem que for sisudo,
N'huma tão grande questão
Ha de tomar por escudo
A justiça, e a razão;
Que estas armas vencem tudo.
E pois essa natureza
Muitos homens faz iguais,
Dê qualquer de vós signais
De quem he, para certeza
Da fórma que ambos mostrais.
JUPITER
Sou contente de mostrar
Polos sinaes que vos dou,
Que são estes sem faltar.
AMPHITRIÃO
Que sinaes podeis vós dar,
Para que sejais quem sou?
JUPITER
Estes, que logo vereis
Se são vãos, se de raiz.
Patrão, vós sêde juiz,
Que vós logo enxergareis
Qual mais verdade vos diz.
BELFERRÃO
Eu não sinto onde consista
A cura desta doença,
Que ha tão pouca differença,
Que aquelle em que ponho a vista,
Por esse dou a sentença.
Mas, Senhor, vós que ordenastes
Que o juiz disto fosse eu,
Quando se a batalha deu,
Dizei, que m'encommendastes
Que ficasse a cargo meu?
JUPITER
Dei-vos cargo, qu'estivesse
Toda a Armada a bom recado,
E, se mal nos succedesse,
Que para os vivos houvesse
O refugio apparelhado.
BELFERRÃO
Ora vós quantos dobrões
Esse dia m'entregastes?
AMPHITRIÃO
Tres mil; e vós os contastes.
BELFERRÃO
Ambos sois Amphitriões
Pelos sinaes que mostrastes.
JUPITER
Para ser mais conhecida
A tenção deste sandeu,
Vêde est'outro sinal meu,
Que he neste braço a ferida
Que me ElRei Terela deu.
BELFERRÃO
Mostrae vós, Senhor, tambem.
AMPHITRIÃO
Aqui o podeis olhar.
BELFERRÃO
Oh cousa para espantar!
Que ambos a ferida tem
D'hum tamanho, em hum lugar!
Türler ve etiketler
Yaş sınırı:
12+Litres'teki yayın tarihi:
05 temmuz 2017Hacim:
270 s. 1 illüstrasyonTelif hakkı:
Public Domain